José Carlos Werneck
Depois do apoio de Jair Bolsonaro a Rodrigo Maia na eleição da Câmara, o foco dos parlamentares se volta para a disputa que definirá, em fevereiro, quem presidirá o Senado pelos próximos dois anos.
A inesperada derrota de Eunício Oliveira do MDB do Ceará nas eleições tirou da corrida o atual presidente do Senado abrindo caminho para nomes da velha guarda, como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), e até para novatos, a exemplo do ex-governador Cid Gomes (PDT-CE).
CONCORRENTES – Embora negue veementemente, Renan Calheiros está trabalhando muito para voltar, pela quarta vez, à presidência do Senado, mesmo enfrentando fortíssima resistência dos bolsonaristas e de uma parcela de seu próprio partido, o PMDB.
Entretanto, antigos integrantes que retornam ao Senado, como Esperidião Amin (PP-SC), até há pouco alimentavam pretensões de tomar carona na onda conservadora para chegar a presidência do Senado.
Paralelamente, Simone Tebet (MDB-MS) reúne votos da bancada ruralista e entusiasma aqueles que gostariam de ver, pela primeira vez, uma mulher na presidência da Mesa.
INCÓGNITA – Mas até agora, às vésperas da eleição interna, a sucessão no Senado ainda é uma incógnita. Renan Calheiros obedece a uma estratégia de ganhar pontos nos bastidores como opção para conseguir, mais uma vez, a presidência da Casa, por ele já conquistada em três ocasiões. Ele tem telefonado para senadores novatos buscando apoio para uma eventual candidatura, e correligionários estão trabalhando como seus cabos eleitorais.
Sem assumir publicamente a candidatura, ele retornou do recesso do período eleitoral e logo começou as articulações. Há, quem veja nesse protagonismo apenas um “balão de ensaio”, para depois, se não conseguir a presidência, conquistar a chefia da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante.
OPOSIÇÃO – Caso venha a disputar, Renan terá oposição dos senadores mais próximos de Bolsonaro e de integrantes do próprio MDB. Absolvido pelo STF, da acusação de desvio de dinheiro público no processo envolvendo a jornalista Mônica Veloso, Renan Calheiros foi citado por diversas vezes em delações da Lava Jato e ainda tem dez inquéritos no Supremo.
“Eu teria muita dificuldade de votar em Renan Calheiros. Os senadores que se elegeram com o discurso da renovação e da ética também”, declarou um senador reeleito. “Renan não dá. É o candidato do mais do mesmo”, disse também um novato.
Mesmo que tenha se reaproximado do PT e espere contar com votos dos petistas, Renan não quer romper com o governo Bolsonaro. “Defendo um esforço suprapartidário para uma agenda em favor do Brasil. Para que nós possamos retomar o crescimento da economia, gerar emprego, aliás, em primeiríssimo lugar, essa é a coisa que mais interessa aos brasileiros. Mas não uma frente contra o governo”, diz.
OUTROS CANDIDATOS – Esperidião Amin chegou a declarar, em novembro de 2018, que não postulava à presidência do Senado, mas disse ter sido alvo de sondagens de senadores, para o cargo como candidato do Governo. Na ocasião chegou a declarar: “Eu sou candidato? Não. Não estou pedindo votos. Mas meu nome está sendo especulado? Então, bota pra frente, espalha”.
E os candidatos “bolsonaristas”? O PSL, partido do presidente, elegeu quatro senadores, inclusive o mais votado, Major Olímpio (SP), que se lançou candidato a presidir o Senado. E um dos filhos do presidente, Flávio Bolsonaro (RJ) vai vitaminar a bancada do PSL.
MAIOR BANCADA – Detentor da maior bancada, mesmo tendo perdido 6 senadores e portanto agora com apena 12, o MDB teme ficar fora da presidência do Senado pela primeira vez nos últimos 11 anos.
Além de Renan, atual líder do MDB, Simone Tebet, também foi um dos nomes cotados. Filha de um ex-presidente do Senado, Ramez Tebet, a parlamentar sul-matogrossense conta com apoio de senadores de outros partidos, como Ana Amélia (PP-RS), que não poderá votar em Simone Tebet caso se confirme a candidatura da colega porque abriu mão da reeleição para disputar o cargo de vice-presidente da República na chapa de Geraldo Alckmin.
ISOLAMENTO DO PT – O nome de Renan é o preferido do PT, que não terá candidato próprio, porque Jaques Wagner quer a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos, uma das de maior peso do Senado.
O quadro ainda é indefinido, podem ser lançadas outras candidaturas, como Tasso Jereissati (PSDB-CE), que tem muito prestígio no Senado, ou até mesmo Cid Gomes (PDT-CE), caso se forme uma frente de oposição integrada também pelo PT, PROS, Rede, PPS e PSB.
Esta é a situação atual, faltando três semanas para a eleição.