Hélio SchwartsmanFolha
Gosto de escândalos de corrupção pelo que eles têm de didático. Até acredito que o padrão ético de indivíduos varie. Há alguns mais comprometidos com a moralidade administrativa, outros menos. Mas isso vale para indivíduos. Se reunirmos sem seleção específica mais do que três dezenas de pessoas, seja num partido, seja num governo, as diferenças individuais tendem a anular-se, e a resultante do grupo vai se aproximar da moralidade média da humanidade.
É um fenômeno que independe de ideologia. Afeta tanto grupos à direita, como o clã Bolsonaro, quanto à esquerda. Assim como o atual presidente foi eleito proclamando-se um arauto da moralidade, os petistas, no final dos anos 90, vendiam-se como incorruptíveis, o que ajudou Lula a vencer o pleito de 2002.
“PUREZA” DO PT – Muitos eleitores acreditaram na suposta pureza do PT porque o partido era o que menos frequentava as listas de agremiações metidas em escândalos. Mas, agora que sabemos como a história termina, é lícito concluir que a aparente correção petista se devia mais à falta de oportunidade para grandes negociatas do que à qualidade intrínseca de seus quadros.
De modo análogo, os Bolsonaros passaram os últimos anos abaixo do radar porque só se envolviam nas mutretas típicas do baixo clero legislativo, que não chamam atenção.
BOLSONARO FICA – É legal que o primeiro escândalo do clã Bolsonaro tenha aparecido de forma assim precoce porque isso torna mais realistas as expectativas dos eleitores. Precipitam-se, porém, os que veem nas estripulias de Flávio o ocaso do governo.
Normalmente, líderes só caem quando se junta um pretexto plausível com uma bela crise econômica. Bolsonaro ainda não afundou a economia e, se for capaz de promover uma reforma da Previdência razoável e tiver um mínimo de sorte, poderá entregar um crescimento de mais de 2,5%, o que será percebido como grande alívio para quem respira com dificuldade desde 2015.