Carlos Newton
O segundo turno só vai acontecer a 5 de junho, no dia mundial do Meio Ambiente. Até lá, vão se digladiar na campanha o nacionalista de esquerda Ollanta Humala e a deputada da direita populista Keiko Fujimori. Como se dizia antigamente, “um pelo outro, eu não quero troca”. Ou seja, nenhum dos dois vale nada.
Humala é um tenente-coronel da reserva que foi próximo ao ditador venezuelano Hugo Chávez e luta para fazer carreira semelhante. É também admirador da Cuba castrista, mas, por estratégia eleitoral, passou a se declarar democrata convicto e até se diz distante de Chaves e mas próximo de Lula, que continua exercendo forte influência em outros países.
A jovem e até simpática deputada Keiko é filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que deu um golpe constitucional e ficou três mandatos seguidos, enchendo os olhos dos então presidentes do Brasil e da Argentina, Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem, que tudo fizeram para seguir o mau exemplo peruano.
Fujimori está preso desde 2007 cumprindo pena de 25 anos de cadeia por crimes contra a humanidade, que incluem assassinatos em massa, fraudes eleitorais, um verdadeiro festival. Mesmo assim com esse currículo familiar, Keiko obteve 22,8% dos votos. Humala, que liderou o tempo todo as pesquisas, ficou com 31% dos votos, e o outro candidato, o ex-ministro da Economia Pedro Pablo Kuczynski, só recebeu 19,6%.
As expectativas são de que Humala leve o segundo turno, pregando a nacionalização de “setores estratégicos” da economia e o controle dos meios de comunicação independentes do país, na mesma balada do venezuelano Hugo Chaves, em ritmo de retrocesso democrático.
Portanto, não foi com exagero literário que o escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura de 2010, definiu as eleições presidenciais como uma “tragédia” para seu país. Em entrevista ao jornal espanhol “La Vanguardia”, Vargas Lhosa afirmou que “o Peru tem duas opções: o suicídio ou o milagre”. E considerou que optar entre Humala e Keiko “é escolher entre a AIDs e o câncer”.
O que fica evidente de tudo isso é o baixo nível que hoje caracteriza a política sul-americana em geral. As exceções, como sempre, só confirmam a regra. E não aparece nenhuma perspectiva de melhora.
Fonte: Tribuna da Imprensa