Alana Fraga | A Tarde
Que os preços dos produtos e serviços estão subindo a níveis assustadores para o consumidor, todo mundo sabe. Mas é na hora de fazer as compras no supermercado, abastecer o carro e pagar as contas de casa que o consumidor sente o peso de "uma das piores doenças que existem na economia capitalista", nas palavras do consultor financeiro Ângelo Guerreiro, e que definem bem a inflação.
Se está mais caro comprar, reduzir o consumo neste momento é a alternativa mais saudável a essa "enfermidade”. Este é o discurso é uníssono entre os especialistas em finanças. "É o reflexo do excesso de demanda, com muita gente comprando produtos até aqueles que não precisam, e a falta de estrutura que assegure esse consumo. Além da ausência de políticas públicas que visam coibir essas altas de preços", explica Guerreiro.
E se é na prática que se percebe o aumento da inflação, é nas feiras e supermercados que estão os "vilões" que atormentam grande parte da população. Sim, grande parte porque os preços sobem para todos, mas não é da mesma forma que pessoas de classes sociais diferentes absorvem e reagem à alta.
"A percepção da inflação tem muito a ver com a forma como isso ameaça a sua capacidade de manter o padrão de consumo. Se, para uma categoria social, onde o poder aquisitivo é muito mais alto, o preço sobe da mesma forma que subiu para os mais pobres, a capacidade econômica de assimilar aquele aumento de preço, no entanto, é maior", explica Joilson Rodrigues, coordenador de disseminação de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Índices - É por isso, ressalta ele, que o IBGE calcula as variações de preços baseados em dois índices: o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), que mede a variação de preços da cesta de consumo das famílias de um a seis salários mínimos, e o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), de um a 40 salários.
Joilson Rodrigues acompanhou A TARDE nessa empreitada entre os corredores de mercados que mostram realidades (físicas e financeiras) bem distintas em Salvador: Feira de São Joaquim e a Ceasa do Rio Vermelho. Logo na entrada da primeira encontramos um dos maiores "vilões" da cesta básica, o tomate, que só em janeiro teve uma variação de 60,87% no IPCA.
"R$ 2 o quilo", anuncia a feirante Maria de Lourdes dos Anjos. "No início do ano estava mais caro, uns R$ 4, caiu e agora está reagindo. Estou ouvindo dizer que vai aumentar de novo. Tudo depende do período", explica. Segundo Rodrigues, os feirantes são ótimos "termômetros" para o consumidor para perceber a variação dos preços, já que compram diretamente com os fornecedores.
A carne, cujo custo representa mais de 3% no orçamento das famílias com renda mensal de um a 40 salários, teve um reajuste médio de 1,55% só no mês de março. É, disparado, o item mais lembrado pelos consumidores na hora das altas de preços. "Tem mês que eu troco a carne por ovos, soja, peixe, frango", diz a aposentada Rosa Lemos, 71. José Victor Filho, que tem um açougue na Feira de São Joaquim, confirma o aumento. "O músculo estava de R$ 6 (o quilo) e agora está de R$ 9".
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