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sexta-feira, janeiro 21, 2011

Infecção hospitalar: números não refletem realidade

Roberta Cerqueira

No dia 21 de abril de 1985 morria o presidente eleito Tancredo Neves. Ele passou por sete cirurgias, tomou dezenas de antibióticos e acabou não resistindo a uma infecção hospitalar, falecendo antes mesmo da sua posse. Passados quase 26 anos, apesar do reforço das medidas de controle a infecção hospitalar, casos como o do presidente, ainda são comuns, em todos os hospitais do país.

A taxa de infecção hospitalar, no Brasil é de 9%, segundo Panorama do Controle da Infecção Hospitalar no Brasil, elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De 100 pessoas internadas, nove apresentam algum tipo de infecção contraída no hospital. Em algumas instituições a incidência chegou a 88,23%.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), ano passado, de 100 pacientes internados em hospitais baianos, menos de três contraíram alguma infecção hospitalar. A taxa, em 2010, foi de 2,7%, entretanto o maior percentual de infecção ocorreu no trato respiratório com 25,3% dos casos de infecção, seguida da corrente sanguínea com 20,2%.

A assessoria de imprensa da Sesab lembra ainda que, embora as taxas de infecção estejam dentro dos parâmetros aceitáveis, os números podem não refletir a realidade, já que alguns dos hospitais não enviam indicadores, ou enviam como taxa “zero”, além do fato de que muitos hospitais não têm laboratório de microbiologia, o que dificulta o diagnóstico dentro dos critérios, levando a subnotificação dos casos.

Diretora do Hospital Couto Maia, a médica infectologista Ceucy Nunes ressalta que todos os hospitais estão propícios a este tipo de ocorrência. “Quanto maior for o número de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), maior será o risco de infecção”, diz.

Caracteriza-se por infecção hospitalar todo tipo de infecção adquirida de 48 a 72 horas após a internação hospitalar ou, antes deste período, se estiver relacionada a algum procedimento invasivo realizado dentro do hospital.

Com experiência em controle de infecção hospitalar e domiciliar, a infectologista Áurea Paste lembra que o tempo de permanência do paciente, em ambiente hospitalar, tem influência direta sobre o risco de infecção. A partir de uma semana de internamento os riscos são ainda maiores. “Quando este paciente está em uma UTI, a situação é ainda mais delicada, devido ao uso de antibióticos e os procedimentos aos quais ele será submetido”.

De acordo com a especialista, o uso indiscriminado de antibióticos pode induzir às bactérias a criarem resistência à medicação e consequentemente desencadear uma infecção. A utilização de sondas e cateteres também requerem cuidados por parte dos profissionais de saúde, em razão dos riscos de contaminação destes equipamentos.

“No momento de inserção de uma sonda, na bexiga, por exemplo, se não for feita a limpeza do canal da uretra, impurezas que estão nela podem ser levadas para dentro da bexiga e causarem uma infecção”, explica.

Já debilitado, por conta do problema que causou a internação, em um ambiente propício à infecção, em contato com bactérias resistentes e sem os devidos cuidados, muitos pacientes acabam vítimas desta que é um dos mais frequentes problemas dos hospitais brasileiros.

Hospitais devem ter controle

A dona de casa, Aline dos Anjos Pereira, 35 anos, perdeu o pai de 67 anos por conta de uma infecção hospitalar. “Ele tinha um problema na bexiga e foi internado por conta de uma inflamação, mas, acabou contraindo uma infecção e morreu dois dias depois”, diz ela, inconformada.

Todos os hospitais devem ter uma comissão de controle de infecção hospitalar, no qual os profissionais de saúde são orientados a adotar uma série de regras de prevenção à infecção hospitalar, quanto a lavagem das mãos, uso correto de antibióticos, higiene hospitalar, controle dos materiais do hospital, além do controle da água e do lixo.

“As mãos são o principal meio de transmissão de bactéria resistentes, o simples ato de lavar as mãos pode reduzir consideravelmente os riscos”, lembra Paste, ressaltando que idosos, pacientes com câncer, diabetes, AIDS, doenças reumáticas e imunossupressoras e pacientes que tenham passado por cirurgias são as maiores vítimas.

Conservar hábitos saudáveis, boa alimentação e evitar o uso indiscriminado de antibióticos são algumas formas de se cercar de cuidados, segundo a infectologista. “A gente nunca sabe quando pode vir a precisar de uma cirurgia ou internamento”, lembra.

Ao visitar pacientes em hospitais, a médica recomenda lavar as mãos antes de entrar no quarto, cumprimentar o paciente ou tocar em qualquer objeto, nunca levar alimentos e cancelar a visita em caso de gripe ou qualquer doença que possa oferecer risco de contaminação.
Fonte: Tribuna da Bahia

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