Noemi Flores
Os nomes de ruas e bairros de uma cidade, principalmente os mais antigos, têm tem tudo a ver com a história e o desenvolvimento de um povo. E na primeira cidade do Brasil, Salvador, não poderia ser diferente, onde existe uma série de nomes curiosos com as raízes de uma população formada etnicamente por portugueses (descobridores), índios (primeiros habitantes) e negros (trazidos como escravos).
Para Roberto Albergaria, doutor em antropologia e professor da Ufba, os nomes de logradouros tiveram a influência na cidade seguindo esta ordem: indígena ( tupinambá), Igreja Católica, popular, africana e a de figuras ilustres.
“Os mais tradicionais são de origem tupinambá porque esta tribo já habitava a cidade quando os portugueses chegaram, a exemplo de Abaeté , Itapuã , Pituaçu e Itapagipe”, explicou.
A influência da Igreja Católica em muitos nomes aconteceu porque, de acordo com o antropólogo, “no início, a Igreja Católica tinha influência forte em um governo.
Se observa que logo após o descobrimento, foi denominada Bahia de Todos os Santos porque avistaram a baía e chegaram no dia de todos os santos e o próprio nome da cidade, Salvador, remete a Jesus Cristo que para os católicos foi o Salvador”, informou Albergaria.
O antropólogo conta que “naquela época não existiam bairros e sim freguesias então boa parte dos bairros centrais levava nomes ligados às freguesias católicas como Santo Antônio Além do Carmo.
Este nome é porque a primeira cidade de Tomé de Souza era da Praça Castro Alves até o Carmo e depois deste local se chamou Além do Carmo”.
Albergaria disse ainda que com o passar do tempo e a igreja perdendo a influência com os governantes, então foi a vez dos nomes de elites e populares como Rua do Tira – Chapéu, uma alusão à rua em frente ao palácio, onde os homens passavam e tiravam chapéu para reverenciar o palácio.
E também a vez dos nomes africanos como Cabula (religião sincrética que passou a ser conhecida no final do século XIX com o fim da escravidão), Ogunjá (Ogum Já, uma qualidade de Ogum do Candomblé Ketu e Bonocô.
E por fim vem os de pessoas ilustres que para o antropólogo “muitos destes foram substituídos pelos nomes populares como Bonocô, passou a ser Avenida Mário Leal, mas que o povo só chama pelo primeiro e J.J.Seabra, conhecido por Baixa dos Sapateiros porque era o local onde os sapateiros exerciam o ofício”, disse Albergaria.
O antropólogo prossegue afirmando que também os nomes de invasões têm significados como Alagados, o nome já diz tudo e outros que o governo tenta mudar, mas o povo quer o antigo como Beiru, nome do escravo (Gbeiru) que lá morou, virou Tancredo Neves.
Outras que como Malvinas, que surgiram na época da guerra (Guerra pelas Ilhas Malvinas entre Argentina e Inglaterra), mas que mudou para Bairro da Paz.
Significados curiosos
Algumas curiosidades nos significados dos nomes extraídas do site do renomado historiador e professor Cid Teixeira e de almanaques antigos editados na cidade:
Pelourinho - ou picota são colunas de pedra colocadas em lugar público da cidade ou vila para tortura e aqui foi feita para punir os escravos.
Abaeté - é “homem honrado, de valor”, enquanto abaeté e sua variante abaité, é glosado como “terrível, medonho”. Lagoa de Abaeté: “lagoa tenebrosa”, que teria esse nome em função de suas águas escuras).
Itapuã- Em Tupi Guarani, Itapuã quer dizer “pedra que ronca”. Conta a história que uma pedra roncava, na praia de Itapuã, sempre que a maré estava vazante e isso acabou dando origem ao nome ao bairro, um dos mais famosos de Salvador.
Água de Menino –”Quando os jesuítas vieram de Portugal para o Brasil, trouxeram sete meninos já instruídos para que tomassem gosto e simpatia com estímulo para tantos outros que por ventura aqui existissem. Dizem que no lugar onde moravam, existia um rica nascente d’agua, onde grande numero de crianças costumavam tomar banho.
Ribeira - ribeira, em vernáculo, é o local onde o navio ou embarcação, tem uma oscilação de marés tal que permite que o barco fique em seco para trabalhar.
Praça dos Veteranos - local do quartel do Corpo de Bombeiros, antes chamado “Corpo de Voluntários contra Incêndios”.
Terreiro de Jesus –Denominação dada em homenagem aos Jesuítas, cujo Colégio estava neste local.
Praça Castro Alves - época de Brasil Colônia seu primeiro nome denominado de “Largo da Quitanda” e logo depois “Praça de S. Bento”. Mais tarde a Praça teve outra denominação de “Largo do Theatro” quando na inauguração do Theatro S. João em 13 de maio de 1812, pelo Conde dos Arcos (totalmente destruído por violento incêndio na madrugada de 6 de junho de 1923 ) e por fim – Praça Castro Alves, desde o dia 10 de julho de 1881.
Mouraria - por ter sido designada para habitação dos primeiros ciganos de origem mouros degredados de Portugal em 1718.
Rua da Oração - nesta rua tinha uma casa de retiro dos jesuítas.
Praça da Piedade - local onde presos eram executados, como foi o caso dos cabeças da Revolta dos Alfaiates. Rua da Forca –próxima à Praça da Piedade é a rua que levava ao enforcamento.
Rua da Cruz do Paschoal - onde tem um pilar com oratório a mando de Paschoal Marques em 1743.
Rua da Misericórdia- lá era onde a coroa ajudava os necessitados.
Barris – devido a localização da fonte dos Barris.
Rio Vermelho tinha uma flor vermelha chamada camarás e de Rio das florzinhas vermelhas ficou rio vermelho.
Amaralina - era a fazenda Alagoas, foi comprada por José Álvares do Amaral que rebatizou a fazenda com o nome dele, Fazenda Amaralina.
Bonocô- era um local de culto africano, ou seja, os negros se reuniam a noite para fazer o ritual de Baba Igunnuko ou egunokô, dando origem a gunucô e gunokô e por fim bonocô.
Ladeira da Preguiça -. A elite da época, a qual residia em casarões ao longo da via, costumava divertir-se com gritos de “sobe preguiça!” ao presenciar os escravos subindo penosamente a ladeira, sob o peso de sacos de mercadorias pesando até 60 kg ou empurrando carretas abarrotadas.
Fonte: Tribuna da Bahia