"Só saio daqui como presidente ou como cadáver", disse ele em hospital. País tem estado de exceção após rebelião, e há pelo menos um morto
30/09/2010 | 20:56 | G1/Globo.comO presidente do Equador, Rafael Correa, disse na noite desta quinta-feira (30) que só vai negociar com os policiais rebelados se eles terminarem seu protesto, que levou o caos a Quito e a outras cidades do país.
Correa afirmou, em entrevista por telefone à TV local, que se reuniu com três comissões de policiais rebelados e reafirmou a eles essa intenção.
- Saiba mais
- Após protestos, governo decreta estado de exceção no Equador
- Brasil vai enviar representante a reunião da Unasul sobre Equador
- OEA repudia tentativa de "golpe de Estado" no Equador
- Colômbia fecha fronteira com Equador em apoio a Correa
- Fundadores do Mercosul "exigem" volta da normalidade no Equador
- Protestos deixam um morto e alguns feridos no Equador, afirma governo
REUTERS/Guillermo Granja
Ampliar imagemPresidente do Equador, Rafael Correa, com máscara de gás durante protestos em Quito: presidente segue em hospital após ser atingido por gás lacrimogêneo.
"Só saio daqui como presidente ou como cadáver", disse ele do hospital em que foi socorrido após ser atingido por gás depois de discursar e tentar conter a sublevação das forças de segurança no principal quartel da capital, Quito.
Correa também disse que não vai autorizar uma operação para resgatá-lo no hospital - onde está praticamente sitiado por policiais rebelados - para evitar um "banho de sangue".
Os protestos de policiais e militares levaram o governo do esquerdista Correa a denunciar uma tentativa de golpe de estado e a decretar estado de exceção nesta quinta-feira. Os protestos deixaram pelo menos um morto e vários feridos, segundo o governo.
Durante uma semana, as Forças Armadas irão às ruas para assumir a segurança pública do país.
Ao mesmo tempo, o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador, general Ernesto González, pediu nesta quinta-feira que os policiais ponham fim ao movimento, garantindo que seus direitos serão respeitados.
Mais cedo, González já havia declarado lealdade ao presidente.
O vice-presidente equatoriano, Lenín Moreno, também declarou apoio a Correa e conclamou o povo a ir às ruas para apoiar o presidente.
Corte de benefícios
Os protestos ocorrem porque Correa ameaçava retirar uma série de benefícios econômicos dos militares e da polícia, dentro de seu plano de austeridade e enxugamento do setor público.
O plano tem a oposição até mesmo de parlamentares do próprio partido de Correa, o que levou o presidente a manifestar a intenção de dissolver o Parlamento, como prevê a Constituição equatoriana de 2008.
Diplomacia
A comunidade internacional manifestou-se a favor de Correa e contra os protestos e a suposta tentativa de golpe.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou uma resolução de apoio a Correa.
Em uma sessão extraordinária do Conselho Permanente em Washington, representantes dos países que compõem a OEA rejeitaram qualquer tentativa de desestabilização da ordem constitucional no país.
O Mercosul, bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, condenou "energicamente todo e qualquer tipo de ataque ao poder civil legitimamente constituído e à ordem constitucional e democrática do Equador", segundo nota do Itamaraty.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que os chefes de Estado da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) realizarão uma reunião de emergência nas próximas horas em Buenos Aires para analisar a rebelião. O Brasil vai enviar representante à reunião.
Clima tenso
O clima seguia tenso no país, com relatos de comércio e escola fechados e saques. O Congresso foi invadido pelos rebelados.
Policiais que cercam o hospital em que Correa está internado teriam lançado gás contra civis partidários do presidente. Dois fotógrafos da agência France Presse denunciaram ter sido agredidos.
O comandante da Polícia Nacional, general Freddy Martínez, negou a versão de que Correa estaria "sequestrado" no hospital, como disseram alguns integrantes do governo.
Os policiais rebelados invadiram a Ecuador TV, estatal, e pretendiam interromper seu sinal e o da Gama TV, também do governo. A informação é de funcionários das duas emissoras.
Policiais em Guayaquil e Quito protestaram em seus quartéis. Militares em Guayaquil bloquearam algumas estradas que chegam à cidade litorânea, a mais populosa do Equador.
A estatal de petróleo Petroecuador afirmou que suas operações não foram afetadas e que militares reforçaram a segurança nas unidades.
Se você está no Equador, mande os seus comentários e suas fotos para o e-mail pautagpol@gazetadopovo.com.br.