Roseann Kennedy*
Ao contrário do que se prometia, Dilma Rousseff não assumiu o papel de protagonista nesta reta final de campanha. A função ficou definitivamente com o presidente Lula. O que fica claro na agenda, no tom dos discursos e na forma como ele participa dos eventos.
O presidente decidiu comprar de vez a briga contra os tucanos. Aumentou o volume de críticas e pesou a mão no tipo de ataque. Além disso, o presidente Lula tem feito compromissos casados com a campanha quase que diariamente. Como nesta terça, quando participou de inaugurações de hidrelétrica em Goiás e, à noite, no mesmo Estado, fez comício na periferia da capital.
Em qualquer comício, a fala da estrela da festa é sempre a mais aguardada. Mas, em vez de Dilma encerrar os eventos, agora cabe novamente ao presidente Lula a fala final.
Com a popularidade de 80%, uma fluência de discurso e uma empatia popular indiscutíveis, o presidente tomou pra si a parte mais agressiva da campanha. Sempre num misto de acusação e emoção. Coisa que o presidente Lula sabe fazer bem.
Até para negar o peso das provocações, o presidente também já tem argumento construído. Diz que política não se faz com ódio ou com agressão, mas que ninguém aguenta tanta mentira.
Mas, a considerar os discursos feitos no Piauí, na semana passada, e nesta terça (19), em Goiás, fica claro que caberá ao presidente Lula a missão de tentar desqualificar os tucanos e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Tucano tem um bico grande e bonito para muita lábia, é só xaveco no ouvido da gente", discursou Lula. A declaração foi para reclamar que o candidato ao governo de Goiás, senador Marconi Perillo, teria mentido ao exibir em seu programa eleitoral trechos da Ferrovia Norte-Sul como um de seus feitos.
No tom mais duro adotado desde o início desta campanha, Lula também chamou de sem caráter o candidato ao governo de Goiás e acusou Perillo de desviar verbas e quebrar a companhia de energia elétrica de Goiás.
Ou seja, a campanha de Dilma, a contar a participação de seu principal cabo eleitoral, está bem longe do paz e amor.
E com a insegurança diante das pesquisas eleitorais, não só pela pouca diferença de pontos entre Dilma e o adversário, mas também pelo medo de erros nos números anunciados, como ocorreu no primeiro turno, só dá para imaginar que em vez de propostas a campanha ainda vai mais para o lado de muito chute na canela.
Por falar nisso, o clima parece ter contagiado algumas pessoas que fazem a cobertura da campanha. Nesta terça, uma cena vergonhosa em Goiânia: um cinegrafista deu um tapa na cabeça de um repórter porque estava com dificuldades para captar a imagem da presidenciável Dilma Rousseff.
* Comentarista da CBN, Roseann Kennedy escreve com exclusividade para o Congresso em Foco de segunda a sexta-feira.
Fonte: Congressoemfoco