Diferentemente do tom agressivo que marcou quase todo o segundo turno, debate na Rede Globo transcorreu em clima tranquilo
30/10/2010 | 00:23 | André Gonçalves, correspondenteBrasília - Numa campanha pontuada por escândalos e agressões de lado a lado, o último debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) foi marcado pela civilidade. Durante a discussão na Rede Globo, ontem à noite, não houve ataques diretos, apenas farpas veladas. A petista limitou-se a críticas na comparação entre o governo Lula (2003-2010) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), enquanto Serra falou, sem citar casos específicos, sobre atuais problemas na saúde e no combate à corrupção.
O tom mais ameno foi provocado pelo formato, diferente de todos os nove debates anteriores que contaram com a participação dos dois candidatos. Na plateia, 80 indecisos acompanharam a discussão. Apenas os eleitores fizeram perguntas, a partir de temas pré-definidos e que foram sorteados na hora.
Sergio Moraes / Reuters
Ampliar imagem“O Brasil tem de desonerar folha de salário. O meu compromisso é uma reforma tributária que faça essa desoneração”, Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência
Faltou discutir temas mais estruturais do país
Cientistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo após o debate de ontem avaliam que faltou aos presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra discutirem questões mais estruturais – o debate foi sobre temas pontuais. Ao mesmo tempo, dos três especialistas consultados, dois consideraram que Serra se saiu um pouco melhor na busca do voto dos indecisos, apesar de considerarem que o tucano deveria ter sido mais incisivo.
Opinião: Platitudes e falta de grandeza
Impedidos de agredir um ao outro por um formato inteligente de debate, José Serra e Dilma Rousseff ficaram restritos a falar do que já fizeram e do que se comprometem a fazer. E, nessa situação, não se mostraram capazes de empolgar. Acabaram se perdendo em promessas vagas e repetindo algumas ideias básicas que expuseram ao longo de toda a campanha.
Indeciso define voto após o programa
O debate de ontem à noite ajudou dois eleitores indecisos a definirem seus votos. A Gazeta do Povo convidou a produtora teatral Priscila Plushckat e o designer César Stati, eleitores de Marina Silva (PV) no primeiro turno, a assistir ao programa e avaliar o desempenho dos dois candidatos.
Foram três blocos, com quatro questões em cada um e tempo para as considerações finais. Em todos eles houve apresentações de propostas – algumas já mostradas pelos adversários durate a campanha, outras novas.
No primeiro bloco, foram feitas questões sobre funcionalismo público, agricultura, corrupção e segurança pública. No primeiro tema, Dilma falou sobre os feitos do governo Lula para os servidores, enquanto Serra defendeu a “meritocracia” já adotada em várias administrações estaduais do PSDB.
Coube a Serra ter mais tempo para falar sobre corrupção. Sutil, disse que o desafio começa com o fortalecimento de órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas da União, alvo de seguidas críticas de Lula. “O exemplo tem de vir de cima, escolhendo bem as suas equipes e punindo alguma irregularidade que aconteça”, declarou, sem citar a ex-ministra Erenice Guerra, braço direito de Dilma na Casa Civil.
Sobre segurança, a petista elogiou os feitos da Polícia Federal e disse que, graças ao fortalecimento da instituição, mais crimes como os de corrupção foram desvendados nos últimos anos. Ela defendeu o uso de veículos aéreos não tripulados para vigiar as fronteiras, enquanto Serra falou novamente sobre a proposta de criar o Ministério da Segurança Pública.
No segundo bloco, debateram sobre saneamento, educação, impostos e saúde. Dilma admitiu que os índices de atendimento da rede de esgoto e água tratada no Brasil são uma vergonha, mas ressaltou que não houve investimentos nos governos anteriores.
Caso ganhe, a petista prometeu triplicar os investimentos na área e acabar com os alagamentos em centros urbanos. “Tenho um compromisso que é resolver de uma vez por todas uma das questões mais graves, que é a das enchentes nas regiões metropolitanas.” Ao falar de educação, deu uma das poucas estocadas em Serra, ao dizer que não receberá os professores com “cassetete”, criticando os atritos entre os tucanos e os professores de São Paulo quando ele era governador.
Serra defendeu o modelo paulista na educação, mas deu ênfase especial à saúde. No último bloco, em que foram tratados as propostas para o meio ambiente, as políticas sociais, a previdência e a tributação, ele voltou a falar das Unidades de Pronto Atendimento propostas por Dilma, que a seu ver não solucionam as carências do sistema.
Acusação rara
Em um dos raros ataques, revidou uma acusação de Dilma sobre os problemas no combate à desigualdade em São Paulo. “Quem cuida de pobre em São Paulo é o governo federal”, disse a petista, referindo-se ao Bolsa Família, que beneficia 1,1 milhão de famílias paulistas. Na réplica, Serra afirmou que política social se faz também com melhorias na saúde. “A saúde no Brasil, isso está claro, foi abandonada nos últimos oito anos.”