Carlos Chagas
Será exagero considerar a atual campanha eleitoral a pior na crônica da República, tantos tem sido os absurdos, as mentiras e as agressões entre Dilma Rousseff e José Serra.
Já houve coisa pior, por exemplo quando adversários de Getúlio Vargas diziam que ele não seria candidato, mas, se fosse, perderia, ainda que, se vencesse, não tomaria posse, e, se tomasse, não governaria. Era o golpe pregado nos palanques. Seria bom não esquecer, também, que Jânio Quadros fazia campanha agitando um bambu com um rato morto pendurado na ponta, dizendo ser seu adversário, ao tempo em que Ademar de Barros, com outro bambu, mostrava um gambá igualmente sacrificado como se fosse o seu contendor.
Feita a ressalva de que as baixarias não tem limite, vale concluir que o entrevero deste ano não honra ninguém. Nem os candidatos nem seus partidos. Muito menos o Lula, despojado da liturgia de presidente da República em troca da fantasia de cabo eleitoral de subúrbio.
Perdem pontos, e votos, o tucano e a companheira, quando levam as discussões até as profundezas da mistificação. Não dá para aceitar que José Serra e o PSDB acusem Dilma Rousseff de responsável pela privatização do petróleo do pré-sal . Primeiro porque quem inaugurou o regime de concessões foi Fernando Henrique Cardoso. Depois, pelo inusitado de assistirmos os grandes defensores da alienação do patrimônio público nacional referindo-se à sua obra como o maior dos pecados institucionais. Por conta da disputa eleitoral, invertem os valores que até pouco sustentavam.
O outro lado não fica atrás. Denegrir o candidato tucano porque levou uma bolinha de papel na careca, mais um rolo de fita durex, só não constitui agressão maior do que acusá-lo de haver negociado com empreiteiras a distribuição de trechos da nova linha do metrô paulistano.
Numa palavra, os candidatos e seus partidos perderam completamente o senso do ridículo, rebaixando-se na tentativa de rebaixar o adversário. Ficará difícil, para quem vencer, começar a governar a partir dessas lambanças.
MORRER ANTES DE OPINAR
Significativa foi a morte lá na Alemanha do polvo Paul, dias antes de manifestar-se sobre a eleição presidencial brasileira. Preferiu sair de cena o bicho que acertou o resultado de todas as principais partidas da Copa do Mundo de futebol, até a vitória final da seleção da Espanha. Por certo não se mostrava disposto a opinar sobre a disputa entre Dilma Rousseff e José Serra. Caso errasse, desmoralizaria a raça dos octópodes, ainda que, se acertasse, colocaria o eleitorado brasileiro em cômica situação. Melhor fez o Paul despedindo-se das funções de oráculo.
A SOMBRA DAS ABSTENÇÕES
Hesitam os institutos de pesquisa em avançar números a respeito das abstenções na eleição de domingo. Será difícil errarem quanto ao resultado final, quando todos, sem exceção, apontam a vitória de Dilma Rousseff, até por diferença não inferior a dez pontos. Agora, mais complicado será saber o número de eleitores que preferirá aproveitar o feriadão de quatro dias viajando em vez de permanecer em sua cidade para votar. Pode ser ínfimo o número dos fujões, caso as virtudes cívicas dos brasileiros tenham sido despertadas. Mas também poderá ser grande, se a maioria entende já estar decidida a parada. Convém aguardar.
ELOCUBRAÇÕES
No Brasil, é muita pretensão saber o que vai acontecer daqui a quinze minutos, quanto mais daqui a quatro anos. Apesar de tudo, por conta e risco de quem ousa, já se especula sobre o quadro sucessório de 2014. Quais serão os possíveis candidatos?
Na hipótese provável da vitória de Dilma Rousseff, domingo, ela abrirá a lista. Afinal, a reeleição continua artigo da Constituição, dificilmente capaz de sofrer alterações.
O problema é que se o já então ex-presidente Lula quiser, será candidato. Para ele, Dilma abre mão, desde já. Até porque não adiantaria nada enfrentá-lo no âmbito do PT,
Candidata mais ou menos certa será Marina Silva, seguindo o exemplo do Lula, que perdeu três vezes para eleger-se na quarta. A ex-ministra do Meio Ambiente tem idade, paciência e méritos para ir tentando.
Do lado da oposição, erra quem imaginar apenas brilhando a estrela de Aécio Neves. Claro que ele ocupa a pole-position antecipada, no ninho dos tucanos, mas é bom não esquecer o recém-eleito governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Sem perder de vista, lá e cá, o imponderável, aquele fator que costuma dar o ar de sua graça com certa freqüência. Um nome de que não se cogita hoje, mas em condições de aparecer amanhã.
Fonte: Tribuna da Imprensa