Carlos Chagas
Política não se faz com ódio, repetia o presidente Lula desde sua campanha vitoriosa, em 2002, mas, convenhamos, o primeiro-companheiro parece haver esquecido seus próprios conselhos. Desde que Dilma Rousseff precisou disputar o segundo turno tem sido frequentes os destemperos do chefe do governo. Ainda agora, em Goiânia, atacou os tucanos como se fossem urubus, chamando o senador Marconi Perilo de mau caráter e de mentiroso.
A indagação é sobre que motivos levam o presidente a perder a têmpera: por não haver conseguido transferir à candidata o número necessário de votos para eleger-se no primeiro turno ou por temer a vitória de José Serra. Um acerto de contas com o passado ou o risco de embaralhar o futuro?
De qualquer forma, assistimos um novo Lula no palco, exasperado porque sua imensa popularidade não bastou, dia 3, para fechar o calendário eleitoral. Não agiu assim quando, em 2006, precisou enfrentar Geraldo Alckmin na segunda votação. Foi para o novo confronto sem vacilações e ganhou fácil. Estaria duvidando das possibilidades de Dilma fazer o mesmo, agora?
Faltam dez dias para o segundo turno e as pesquisas, como sempre, refletem os interesses dos institutos, dos veículos que promovem seus resultados e até um pouco das tendências do eleitorado. Pelo jeito, estabilizou-se a diferença entre a primeira e o segundo colocados na votação inicial. Resta saber se até o dia 31 os números permanecerão como se encontram hoje ou se, mais uma vez, confirmarão que o povo não é bobo.
E SE CONTINUAREM?
Acentua José Serra, em sua campanha, que as invasões de terra não podem continuar. O MST, que acaba de aderir formalmente à candidatura Dilma Rousseff, finge não ouvir e prepara novas invasões. Na hipótese da vitória da candidata, propriedades rurais continuarão sendo invadidas? Ganhando José Serra, o número será multiplicado?
A reforma agrária insere-se no rol dos problemas impossíveis de ser resolvidos com discursos. Nem o popularíssimo governo Lula conseguiu evitar as invasões. Farão o que, Serra ou Dilma, para enfrentá-las? Deixar que os estados continuem sem meios nem ânimo para estancar a ocupação de terras produtivas? Esperar que o Poder Judiciário faça valer suas decisões? Ou agilizar o ministério da Reforma Agrária, que em vez de distribuir bissextamente terras inaproveitadas, poderia transformar-se no mais eficaz instrumento de realização da função social da terra.
PERGUNTAR NÃO ADIANTA
Duas perguntas, coincidentemente feitas por jornalistas, não foram respondidas pelos presidenciáveis no recente debate promovido pela Rede TV e a Folha de S. Paulo: José Serra não sabia das atividades inusitadas de Paulo Preto, nem Dilma Rousseff das trapalhadas de Erenice Guerra?
A candidata mostrou-se inflexível na condenação ao nepotismo. O candidato, na defesa do dinheiro público. Nenhum dos dois reconheceu saber de coisa alguma em termos de irregularidades praticadas por seus antigos auxiliares.
Virou moda, praticada pelo presidente Lula desde seu primeiro governo, proclamar que não sabia de nada.
PAPÉIS INVERTIDOS
Há mais de um ano que, anunciada a reserva de petróleo no pré-sal, China e Estados Unidos começaram a enviar milhões de dólares para a Petrobrás, por conta de assegurar a aquisição de parte da produção futura. Pagaremos em petróleo os recursos utilizados na difícil operação de extração do produto. Será, por acaso, alienação da riqueza nacional ou privatização? De jeito nenhum.
Mesmo assim, deve preparar-se o Lula para receber e rebater a acusação já no bico dos tucanos, de estar o governo entregando patrimônio público ao estrangeiro. Invertem-se os papéis ideológicos por conta da campanha eleitoral.
Fonte: Tribuna da Imprensa