Folha de S.Paulo
JERUSALÉM -- A cineasta brasileira Iara Lee, que estava a bordo de um dos navios interceptados na madrugada de segunda-feira, contou que Israel usou força "indiscriminada" na ação que resultou na morte de nove ativistas e deixou dezenas de feridos.
Iara conversou com a reportagem por telefone do presídio de Elah, na cidade de Beer Sheva (80 km ao sul de Israel). Junto com ela estão detidos 680 ativistas que estavam na frota de seis navios que tentava romper o bloqueio israelense e levar ajuda humanitária para a faixa de Gaza.
A cineasta, que divide a cela com outra ativista, contou que os soldados entraram no navio atirando, o que contraria a versão israelense e contrasta com as imagens divulgadas, que mostram os militares sendo agredidos assim que entraram na embarcação.
"Foi uma coisa de surpresa, de repente", disse a cineasta. "Eu esperava que eles atirassem nas pernas ou para o alto, só para aterrorizar as pessoas, mas eles foram atirando direto, alguns foram atingidos na cabeça."
A cineasta se negou a assinar um documento afirmando que entrou ilegalmente em Israel, o que aceleraria sua deportação do país. Ontem à noite, no entanto, o governo israelense cedeu à pressão internacional e anunciou que todos os detidos serão deportados imediatamente.
Os confrontos que resultaram nas mortes dos ativistas ocorreram a bordo do navio Mari Marmara, a maior embarcação de passageiros da frota, onde havia mais de 500 ativistas.
Perfil
Produtora e cineasta brasileira de ascendência coreana, Ira Lee, ex-mulher de Leon Cakoff, diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é radicada nos EUA desde 1989. Em 2006 foi morar no Líbano. Dois anos depois foi viver no Irã, onde afirma ter trabalhado para melhorar as relações entre o país e os EUA.
Ela garante que pretende continuar no ativismo político, especialmente contra o bloqueio a Gaza.