Carlos Chagas
Por anos a fio, o PT e seu líder maior insurgiram-se contra a reeleição. Aliás, com toda razão, por tratar-se de uma vigarice imposta ao Congresso pelo presidente Fernando Henrique, eleito para um mandato mas conseguindo ficar dois. Se estivesse vivo, o saudoso Serjão poderia contar quanto custou.
Como o Lula conseguiu eleger-se em 2002, ficou o dito pelo não dito: ele também se reelegeu em 2006, tarefa que conseguiria mesmo se não fosse popularíssimo. Afinal, o presidente que concorre a mais um mandato nem ao menos se licencia. Continua exercendo o poder com as mãos, vale repetir, e o Diário Oficial, com os pés.
Em entrevista ao “Correio Braziliense”, publicada quinta-feira, o presidente Lula faz ostensiva apologia da reeleição. Tem motivos adicionais, como dar a impressão de estar tão certo da vitória de Dilma Rousseff que já antevê dois mandatos para ela. Mais importante ainda, aferra-se à reeleição para criar embaraços à hipótese de Aécio Neves tornar-se candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. O ex-governador de Minas teria abertas as portas do palácio do Planalto, em 2014, caso os tucanos vencessem em outubro.
O irônico é ter partido de José Serra a sugestão para o Congresso extinguir a reeleição. Logo os tucanos que a criaram…
A conclusão surge clara: convicções nada valem em política. Variam ao sabor dos interesses. O que era ontem deixa de ser hoje. Amanhã, quem sabe?
Dilma busca o diálogo
Desvenda-se o véu de dois encontros secretos que Dilma Rousseff manteve em São Paulo, no final da semana passada. No apartamento do ex-ministro Márcio Tomaz Bastos, em ocasiões diferentes, ela encontrou-se com dois barões da imprensa, coincidentemente responsáveis por veículos que não lhe são propriamente simpáticos: Octávio Frias Filho,da “Folha de S. Paulo”, e Roberto Civita, da “Veja”.
O anfitrião tomou as providências necessárias ao sigilo das reuniões, mas, como estamos no Brasil, o segredo durou pouco. Novidades terão sido mínimas, nos dois diálogos. Os jornalistas entoaram loas à isenção de suas publicações frente à campanha sucessória e a candidata exaltou sua fé na liberdade de imprensa. Uma camada de gelo, porém, foi quebrada. Bom para todo mundo…
Entrevistados e entrevistadores
Para continuar no assunto, seria bom que os candidatos presidenciais tomassem cuidado. Lançam-se numa maratona explícita para aparecer nos meios de comunicação, dando entrevistas aos montes, para todo o tipo de veículos. A estratégia parece correta, mas há entrevistas e entrevistas. A maioria segue o modelo clássico e universal de que a estrela do evento é o entrevistado, cabendo ao entrevistador apenas provocar, extrair do convidado o maior número possível de definições. Aqui e ali, porém, acontecem os exageros.
Profissionais existem cujo ego suplanta o tamanho das próprias redes em que trabalham. Falam muito mais do que os entrevistados. Dão palpites, opiniões, interrompem o indigitado interlocutor e expõem ao ridículo o trabalho jornalístico. Melhor que se candidatassem…
Intervenção já
Coube ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, alimentar com sólidos argumentos a necessidade de o Supremo Tribunal Federal aprovar rápido a intervenção federal em Brasília. Realmente, foi uma farsa a eleição indireta de mais um governador de Brasília. Afinal, foram os deputados distritais envolvidos na lambança do mensalão que deram a vitória ao eleito, depois de mil manobras e acordos tão podres quanto o dinheiro recebido nos tempos de José Roberto Arruda e Joaquim Roriz.
Brasília continua um caos, destroçada em sucessivos aspectos de sua vida diária. Na próxima semana a mais alta corte nacional de justiça reúne-se sob nova administração. César Peluso assume sua presidência hoje, aceitando-se natural que Gilmar Mendes, saindo, tenha preferido deixar a decisão para o sucessor. Semana que vem poderá sair uma decisão a respeito do pedido de intervenção.
Fonte: Tribuna da Imprensa