Carlos Chagas
Política muda como as nuvens, dizia Magalhães Pinto, mas, se não mudar, o senador Francisco Dornelles será o companheiro de chapa de José Serra. Mais do que levar o PP e seu tempo de televisão para o candidato tucano, o ex-ministro da Fazenda e do Trabalho nos governos José Sarney e Fernando Henrique contribuirá com experiência. Desde os tempos em que era secretário-particular do então primeiro-ministro Tancredo Neves, seu tio, acompanha os principais lances da economia e da política nacional.
Tributarista consagrado, dirigiu a Receita Federal antes de eleger-se deputado federal pelo Rio, por três legislaturas. No Senado, teria ainda mais quatro anos, formando na base parlamentar do governo, mas nem tanto. Votando com independência, não raro insurgiu-se contra certas propostas do PT que atropelavam os cofres públicos. Foi por manter essa disciplina diante do Tesouro Nacional que pediu demissão do ministério da Fazenda no governo Sarney.
Quando Tancredo disputou a presidência, acompanhava-o nas viagens pelo país, credenciando-se desde logo para ministro da Fazenda. Certa feita, voavam para o Nordeste, tempo que imaginou aproveitar para o candidato ler um longo relatório sobre a situação econômica. Tancredo estava cansado, ou com preguiça, e ao manusear o papelório, exclamou compungido: “Não posso ler agora, esqueci os óculos…” Levou uma reprimenda do sobrinho, que recomendou-lhe mandar fazer dois ou até três pares de óculos, um no bolso, outro na maleta, um terceiro com algum auxiliar. Humilde, Tancredo aceitou a crítica, fechando os olhos para cochilar um pouco. Dornelles fez o mesmo, mas, desconfiado, vigiava o tio. Matreiro, Tancredo deixou passar cinco minutos e pediu a um auxiliar, no banco de trás: “Me passa os jornais.” Imaginando que Dornelles dormia, a velha raposa mineira tirou os óculos do bolso do paletó e dedicou-se às folhas do dia…
Intervenção já
Não foi esta semana que o Supremo Tribunal Federal examinou o pedido de intervenção federal em Brasília. Pelo jeito, seus ministros querem dar tempo ao tempo, esperando para ver como se comporta o governador-tampão Rogério Rosso. Enquanto isso, o caos toma conta do Distrito Federal, com a maioria das obras viárias paralisadas, a confusão total no trânsito, a polícia fora das ruas, a criminalidade aumentando, os hospitais e postos de saúde funcionando precariamente e agora, para culminar, a cidade coberta de lixo, por conta da greve dos terceirizados trabalhadores encarregados da coleta. Os apagões se sucedem, gente fica presa todos os dias nos elevadores e o transporte coletivo deixa cada vez mais a desejar. Quem sabe na próxima semana os meretíssimos se decidam?
É cedo para despedidas
O presidente Lula ofereceu esta semana dois jantares de gala no palácio da Alvorada. Um para os ministros do Supremo, outro para os senadores da base aliada. Como é cedo para as despedidas protocolares aos demais poderes, especula-se que vem coisa por aí, nessa mobilização explícita do Judiciário e do Legislativo.
Quem paga a conta
Por mais que a equipe econômica justifique em função do perigo da volta da inflação, quem pagará a conta do aumento da taxa de juros de 8.75% para 9.50%? Não serão os bancos, beneficiados pela remuneração dos títulos públicos que continuam comprando. Pelo contrário, lucrarão mais, além de repassarem para os correntistas todas as despesas decorrentes do aumento. Tome-se apenas os cartões de crédito: quem cometer a insanidade de comprar a prazo, com eles, pagará mais de 650% de juros anuais. País rico é assim mesmo…
Fonte: Tribuna da Imprensa