Carlos Chagas
Mais do que famosas, estão ficando perigosas as sessões das manhãs de sexta-feira, no Senado. Famosas por popularizarem os senadores que as freqüentam habitualmente, liderados pelo Mão Santa. E perigosas para o governo, metralhado todas as semanas com invulgar poder de fogo de seus adversários, sem que apareça um único líder ou simples companheiro para fazer o contra-ponto.
Na última sexta-feira o singular representante do Piauí, sempre na presidência dos trabalhos, chegou a uma exortação mesclada de provocação. Depois de Pedro Simon, Cristóvan Buarque, Mozarildo Cavalcanti e outros desancarem o Executivo e a equipe econômica, denunciando e cobrando providências variadas, indagou o Mão Santa: “Quem vem defender essa porcaria de governo, aqui no plenário?”
Ninguém se apresentou, porque não havia ninguém das bancadas oficiais, como acontece há anos. A estratégia do PT e aliados é de ignorar essas sessões, fingindo que não existem e não tem importância pelo fato de não serem deliberativas.
Ledo engano, porque a TV Senado envia suas imagens para todo o país, liderando os índices de audiência e superando os desenhos animados, os programas infantis de auditório e as pregações de bispos e pastores ávidos pelas contribuições financeiras de seus rebanhos.
Por exemplo: não apareceu um único senador governista para rebater a acusação de Simon contra a farra dos Fundos de Pensão, uma excrescência que coloca bilhões de reais à disposição dos detentores do poder para aplicação onde bem entendam, ou seja, em empresas descapitalizadas e em projetos duvidosos, por simples ato de vontade. Desde as privatizações dos tempos de Fernando Henrique até a formação do consórcio para a construção da usina de Belo Monte, os governos jogam com as economias de funcionários da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e de outras estatais como se fosse dinheiro da sogra.
O escândalo da impunidade também é tema permanente dos pronunciamentos do representante do Rio Grande do Sul, assim como o descaso das autoridades diante da infância e da juventude tornou-se tecla acionada permanentemente por Cristóvan Buarque. Ainda agora ele lembrou a existência das Secretarias da Mulher, da Igualdade Racial, a promessa da criação da Secretaria dos Deficientes Físicos, mas nenhuma sugestão para o Ministério da Criança.
Em suma, o governo come mosca em não se defender de críticas pontuais e necessárias, como se os freqüentadores das sessões de sexta-feira fossem fantasmas desimportantes e inócuos. Só que as eleições vem aí…
Audácia cautelosa
As assessorias dos dois principais candidatos à presidência da República arrancam os cabelos para definir a linha que deverão seguir até a abertura formal das campanhas, em julho. Uns recomendam audácia, ou seja, José Serra e Dilma Rousseff deveriam aumentar o diapasão de suas críticas e agressões, ainda que em sentido contrário. Outros sugerem cautela, isto é, que evitem caneladas e dediquem seu tempo à análise e à apresentação de soluções para problemas que infernizam a população, todos os dias.
O resultado está sendo singular. Empenham-se, Serra e Dilma, numa estratégia contraditória, capaz de ser definida como audácia cautelosa. Algo parecido com timidez agressiva ou agressão tímida.
Candidata da estagnação
Por enquanto, pelo menos, Marina Silva não incomoda, recebendo por isso elogios e simpáticas referências por parte dos dois candidatos que lideram as pesquisas. Tanto José Serra quanto Dilma Rousseff andam de olhos nos 10% da concorrente ambientalista, capazes de fazer a diferença no segundo turno. Em espacial agora que Ciro Gomes foi defenestrado, com certa vantagem para Serra tornar-se o principal herdeiro de sua votação.
Há nos arsenais dos tucanos e companheiros, porém, munição suficiente para detonar a indicada pelo Partido Verde, caso ela venha a surpreender. E por ironia, equivalem-se os petardos. Nas duas campanhas a estratégia para detonar Marina está nas suas virtudes, não nos seus erros. A senadora tem-se pronunciado sistematicamente contra obras necessárias ao desenvolvimento, ainda que prejudiciais à ecologia, como o asfaltamento da rodovia que liga Manaus a Porto Velho e, agora, a implantação da hidrelétrica de Belo Monte. Por maiores danos ambientais que essas e outras realizações possam causar, significam o progresso, a criação de empregos e oportunidades, bem como a ocupação de áreas abandonadas. Esses, pelo menos, são os argumentos em condições de ser utilizados, se necessário…
Agora ou nunca
Já sob o comando do ministro Cézar Peluso, o Supremo Tribunal Federal tem pela frente questão imediata, que se for protelada dissolverá como sorvete no sol as derradeiras esperanças de recuperação ética de Brasília. Trata-se da intervenção federal, solicitada e reforçada pelo procurador-geral da República. A eleição de um governador-tampão, semana passada, só fez aumentar os índices de frustração do povo do Distrito Federal.
Primeiro porque quem elegeu Rogério Rosso foram os trambiqueiros flagrados recebendo dinheiro podre. Depois porque, com todo o respeito, o novo governador não inspira confiança: serviu a Joaquim Roriz e a José Roberto Arruda, mantendo até agora os mesmos personagens desses dois governos envolvidos na corrupção. O presidente Lula torce pela rejeição do pedido de intervenção, mas não se furtará em indicar um interventor capaz de substituir até 31 de dezembro os poderes Executivo e Legislativo locais. Alguém capaz de desviar algum rio e limpar as cavalariças do rei Áugias…
Fonte: Tribuna da Imprensa