Adriano Villela
Dentro da forma em que a política baiana se estrutura, a decisão do senador César Borges (PR) de integrar a chapa majoritária do ex-ministro Geddel Vieira Lima é a mais lógica, analisam cientistas políticos ouvidos ontem pela reportagem da Tribuna da Bahia. Para Joviniano Neto, o desfecho do processo com o PR pode ser observado através de uma “sensação de frustração” em torno do governador Jaques Wagner, que chegou a declarar na sexta-feira passada que a aliança PT-PR já estava sacramentada. Na visão de Joviniano, o gestor fez um esforço enorme para ampliar a aliança com partidos que já fazem parte da base do governo federal, mas enfrentou duas barreiras que não poderiam ser superadas: a ideológica – o passado carlista de Borges – e a de natureza política, fruto da impossibilidade de colocar todos os candidatos a deputado numa mesma chapa. “Havia um grupo de partidos que se reuniu em 2006 para derrotar o carlismo, mas que tinham diferenças históricas e de base social”. Paulo Fábio Dantas, por seu lado, declarou que não se surpreendeu com a decisão do presidente do PR. “Erra quem pensa que pode (e acha que deve) deixar todos os gatos pardos. E acerta quem busca demarcar terreno próprio”. A seu ver, o PT conquistou em 2006 apenas o direito de ocupar os postos de governo. “A disputa pela liderança política do estado em bases mais estáveis permanece em aberto”. Para conquistá-la, sugere, “o atual campo governista precisa explicitar um claro contraste com o que lhe antecedeu”. Dantas acredita que, ao lado do PMDB, César Borges e o PR não enfrentarão resistências por ter integrado o grupo liderado pelo ex-governador e ex-senador Antônio Carlos Magalhães. “Hoje César Borges é um out sider, que não caberia confortavelmente nem ao lado do PT, nem ao lado do DEM”, diagnostica. Para Dantas, o PMDB é uma força ascendente, que “pode somar com o PR, não dividir, como faria se fosse para o campo do PT”. Segundo o cientista político, mesmo se trouxesse Borges, o PT poderia não decidir a eleição no primeiro turno, como querem os articuladores do governo. “O segundo turno nunca deixou de ser uma possibilidade concreta, desde que se definiram as três candidaturas”, opina ele. “O governador tentou atrair Borges pensando em mudar a tendência normal do jogo. Nada assegura que conseguiria. O mais provável é que pagasse o ônus de ter uma campanha politicamente descosturada sem, no entanto, evitar o segundo turno”. Quanto ao futuro do processo eleitoral, Joviniano avalia que o centro da disputa será pelo polo de oposição, envolvendo o DEM, do ex-governador Paulo Souto, e o PMDB de Geddel Vieira Lima. Fonte: Tribuna da Bahia