Carlos Chagas
Depois, dizem que é má vontade nossa, mas o problema está nas palavras. Nas mensagens, sempre mais do que ingênuas, porque maliciosas e contraditórias. Falamos dos improvisos do presidente Lula. Ainda segunda-feira, no Rio, na abertura da Quinta Sessão do Fórum Urbano Mundial, cercado de gringos, Sua Excelência recomendou a visita de todos às favelas cariocas:
“Transitem como um cidadão normal e nada vai acontecer. (…) Não se embrenhem por lugares que vocês não conhecem. (…) Nunca se viu na Historia deste país a construção de tantas casas. (…) Sei que lêem notícias de jornal sobre violência…”
A intenção, pelo jeito, era demonstrar que todo cidadão pode transitar incólume nas favelas, mas como elas constituem lugares que poucos conhecem, exceção de seus moradores, melhor não ir…
Fora os usuários de drogas e os abnegados integrantes de associações filantrópicas, não se encontrará um só cidadão disposto a subir o morro ou a aventurar-se na planície cheia de casebres e de incertezas, ignorando sobre se quem entrou vai sair incólume. Infelizmente, é o que acontece, possa ou não o “Pezão” providenciar ônibus e escolta para os congressistas curiosos em conhecer o lado miserável do Rio.
Jamais por culpa dos habitantes abandonados pela civilização, mas precisamente porque aqueles que deveriam embrenhar-se, não se embrenham, a não ser de metralhadoras e granadas na mão. São os governos, tanto faz se federal, estadual ou municipal, muito menos se os de ontem e os de hoje, os responsáveis pela multiplicação da miséria, da fome, da doença e do desamparo às comunidades multiplicadas em progressão geométrica.
Vem agora o primeiro companheiro, em sua linguagem dúbia, recomendar que transitem, mas sem entrar onde não conhecem. Ora, não conhecem lugar algum, nas favelas, nem os visitantes estrangeiros nem os governos. Se for para ver obras de saneamento e construção de casas, positivamente lá não é o lugar. Basta assistirem filmes de propaganda enganosa.
Houve tempo em que essa desgraça poderia ter sido evitada, menos pela proibição de os miseráveis ocuparem os morros, mais pela criação de empregos e a abertura de oportunidades para os marginalizados. Deram de ombros. Agora, como faz o presidente Lula, recomendam visitar as favelas como quem visita o jardim zoológico: com cuidado, para não enfiarem a mão na jaula.
Três exigências
Desenvolve o PMDB uma estratégia perigosa. Quer convencer o presidente Lula de que, sem o apoio partido, Dilma Rousseff não vencerá a eleição, apesar de sua ascensão nas pesquisas eleitorais. Sentem os dirigentes peemedebistas, até com razão, alastrar-se no governo e no PT um sentimento de empáfia, arrogância e presunção, depois da divulgação dos últimos números. No comando de campanha da candidata, o que mais se ouve é que as concessões aos aliados tornaram-se desnecessárias.
Sendo assim, o PMDB resolveu reagir, mandando ao Palácio do Planalto recado a respeito do cumprimento de suas exigências, já que o partido detém, para transferir ou para negar, quinze minutos diários de propaganda eleitoral gratuita. Sem esse tempo, imaginam, Dilma não chega lá.
Por isso, impõem que Michel Temer venha a ser o candidato à vice-presidência, que continuem detendo seis ministérios, depois da reforma em andamento, e que seus candidatos a governador tenham precedência sobre os candidatos do PT.
Poderão frustrar-se, os caciques do maior partido nacional. Primeiro, porque o presidente Lula abomina a hipótese de ver Michel Temer no Palácio do Jaburu. Não gosta do personagem, que não o apoiou em 2002 e receia que, posto na vice-presidência da República, o deputado paulista passará a comandar o Congresso, alijando Dilma das negociações e tornando-a prisioneira de um esquema parlamentar alienígena.
Depois, porque nem todos os novos ministros que substituirão os candidatos às eleições de outubro serão indicados pelos insignes partintes. Os insignes ficantes poderão provir de outros esquemas, já que a decisão é exclusiva dele, Lula.
Por último, não dá mais para ficar humilhando os companheiros do PT, que tendo engolido como um sapo a candidatura Dilma, encontram-se obrigados a abrir mão de suas pretensões em favor de adversários enrustidos ou abertos.
O presidente Lula tem até o fim do mês para decidir sobre as três exigências. Caso venha a negá-las, assistirá o PMDB debandar da candidatura oficial, liberando seus diretórios estaduais para seguirem o rumo que bem desejarem, ou seja, permanecer com Dilma, aderir a José Serra ou empenhar-se numa tardia candidatura própria…
Fonte: Tribuna da Imprensa