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terça-feira, abril 14, 2009

No Brasil, a vida vale um par de tênis

Deputado Rodovalho *

“Bispo, meu filho, Rafael Henrique Gomes, foi assassinado aos 14 anos, por causa de um tênis. Acabamos de enterrá-lo”, disse-me a mãe, moradora de Santa Maria. Foi o ultimo abraço que eu dei, em um sábado de dezembro, véspera de Natal, em Santa Maria, cidade-satélite do Distrito Federal.
Com lágrimas nos olhos, tentei transmitir um pouco de amor, carinho e conforto àquela mãe desesperada. Mais uma das milhares de mães que perderam seus filhos na luta contra o crime e a marginalidade.
Aquela mãe me disse: "Meu filho queria um tênis no dia do seu aniversário. Ele queria muito, a qualquer custo”. “Pelo menos ele descansou deste mundo de dor e injustiça", consolava-se a mãe.
Com lágrimas nos olhos e uma dor imensa no coração, dei um beijo nela e em sua filhinha de sete anos, e me despedi. Não há como evitar a dor que toma o coração quando se vivem momentos como esses.
Somado à dor da miséria e da falta de esperança em mudanças significativas em suas vidas, está o fato de conviver com um mundo injusto e desigual.
Essas mães formam o exército do verdadeiro Brasil, que nos olha e nos assiste, com um misto de alegria e descrença.
Nos olhos embaçados deste Brasil vemos o retrato de séculos de injustiças e desigualdades sociais. De um Brasil governado pelos ricos, para os ricos. Onde os pobres e carentes não existiam ou, se existiam, era apenas para servir e, miseravelmente, sobreviver. Damos a eles apenas o direito de viver bem no limite da existência. Apenas o mínimo em salários, em educação e na saúde. É o Brasil do mínimo. Este Brasil gera cenas como dessa mãe, aos milhares e centenas, todos os dias.
Com a responsabilidade de um mandato, me pergunto todos os dias: "Qual o melhor caminho para ajudar esse povo sofrido? Qual a melhor maneira de estender a mão para esse Brasil que chora e que lenta e solitariamente perece, sem esperança de mudanças significativas na vida do seu povo e de seus filhos? Como trazer esses brasileiros para dentro do muro do apartheid social que, invisivelmente, separa nossos filhos?”
O Brasil é um país de contradições. Contradições de classes sociais, dos custos do crédito mais caro do mundo, da elevada carga tributária e dos péssimos serviços públicos prestados aos seus cidadãos.
Temos uma mídia extremamente apelativa e um acesso restrito aos bens de consumo. Isso tudo aciona a espiral da violência. Nossos jovens são alimentados pelo desejo, mas são restringidos pela incapacidade financeira de acesso aos bens de consumo, especialmente os mais caros. O pior é que eles não têm esperança de um dia conseguir alcançar seus sonhos dourados.
Eles sabem que o desemprego bate à porta e que o salário será sempre aquém do necessário. Esse é o ambiente que motiva a marginalidade, onde o ganho oferecido é sempre mais alto e mais fácil.
Temos que encontrar uma forma de gerar esperança real a esse Brasil que não enxerga mais seu horizonte, e a forma de fazer isto é com políticas públicas competentes e acessíveis. O Brasil precisa de um redesenho do Estado.
Temos que dar acesso ao crédito aos pequenos e micros empresários de forma mais desburocratizada, dar identidade jurídica aos mais de 50% de trabalhadores informais, trazendo-os à formalidade e à legalidade. Eles também podem gerar empregos e pagar impostos, embora diferenciados.
Dezenas de projetos de lei (PLs), inclusive meus, foram apresentados no Congresso para atingir esses objetivos. Apresentei PL que cria o nano-empresário, formalizando e legalizando autônomos que faturam menos de R$ 36 mil por ano, que é a linha de baixo do Super Simples.
Apresentei o projeto de lei que cria o microimportador, legalizando o sacoleiro e formalizando as feiras de produtos importados, que hoje trabalham na insegurança da ilegalidade. O pequeno empresário, o produtor, o importador, precisam ter mais espaço e incentivo no Brasil. Infelizmente, isso ainda não acontece a contento.
O Brasil trata bem seus grandes empresários, e eles merecem. Todos sabemos o quanto custa ser produtivo e responsável neste país, mas não se pode esquecer de seus filhos menores. Temos que voltar nossos olhos para as camadas da população que mais sofrem e que querem também um lugar ao sol.
Fonte: Congressoemfoco

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