Luis Augusto Gomes
A ida do ex-governador para o PSDB teria, naturalmente, seus efeitos. Daria mais musculatura aos tucanos baianos com a filiação, quem sabe, de deputados, prefeitos, vereadores. Daria, porque a verdade é que nestes tempos de fidelidade partidária ninguém mais corre risco à toa. Poderia ser uma ação orquestrada, em que o DEM liberasse quantas transferências fossem necessárias, mas o DEM não quis saber disso. A direção nacional gritou, as mais destacadas figuras locais, idem. ACM Neto, que afinal deflagrou todo o processo na conversa com Serra, foi alcançado pelos boatos da saída de Souto quando desfrutava de um descanso na Europa.
Expressivos membros do partido Democratas, que conhecem Souto muito bem, sabem que ele, apesar dos mandatos que exerceu, não respira política, como se diz. De práticas cartesianas, não tem seu forte na articulação, na conversa de pé de ouvido, na análise realista de conjuntura, itens indispensáveis para quem deseja exercer a liderança num ambiente de liberdade. Decidir-se, por exemplo, pela candidatura a governador, exigiria dele uma segurança que nem a avaliação positiva que ainda tem na Bahia lhe confere. Ademais, se Serra quer um palanque forte, o que resta do DEM serve perfeitamente, porque o PSDB vai com Serra de qualquer jeito.
O presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo (PSDB), ao primeiro sinal de que Souto poderia ir para seu partido, manifestou a incompatibilidade de ter ao lado, por que não dizer, inimigos políticos. Do anúncio inicial, de que sairia se o ex-governador entrasse, chega aos dias atuais "licenciado" pelo PSDB e avaliando em que agremiação ingressar. Ocorre que até hoje Souto está no DEM, e mesmo jantando regularmente com tucanos nacionais, Serra incluído, parece que cuida apenas de coligação, não de migração.
É que o jogo é para profissionais, e o governador de São Paulo não assimilaria a marcha dividida da tropa. Se a grande liderança tucana da Bahia, o deputado Jutahy Júnior, concordou com ele, inclusive por suas raízes, o mesmo não aconteceu com Nilo, apesar da amizade e dos laços entre as famílias que os unem em termos pessoais. Falou mais alto ao presidente da Assembléia a marca imprimida à sua carreira, de opositor intransigente do carlismo, o que, a partir da ligação com o governador Wagner, o aproximou profundamente do PT. A lógica agora sugere que Nilo vai votar em Dilma para presidente.
fonte: Tribuna da Bahia
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