Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Importa verificar onde os presidenciáveis erraram, no primeiro turno das eleições municipais. Claro que vale para eles o que vem daqui por diante, para a manutenção de suas esperanças.
Nem é bom lembrar que Dilma Rousseff pouco teve a ver com a passagem de Maria do Rosário para o segundo turno, em Porto Alegre. Se alguém ajudou a candidata, foi o ministro Tarso Genro. De tabela, seria bom que a chefe da Casa Civil não deixasse mais as urnas de votação com o polegar para cima, mas apresentando uma carranca em condições de assustar criancinhas. Essas fotografias costumam ter desdobramentos.
Ciro Gomes perdeu em Fortaleza, seu reduto histórico, ao apoiar a ex-mulher, Patrícia Saboya. Também de nada adiantaram as idas a Belo Horizonte para ajudar seu ex-coordenador de campanha, Márcio Lacerda, condenado a disputar o segundo turno com um adversário em ascensão. José Serra, se conseguiu emplacar Gilberto Kassab na frente de Marta Suplicy, corre o risco de ver o PSDB mais rachado do que já estava. Seu punhal foi um dos que golpearam Geraldo Alckmin.
Aécio Neves fracassou no apoio a Alckmin, em São Paulo, e mergulhou nas profundezas ao verificar que Márcio Lacerda não emplacou como se alardeava. O governador mineiro também patinou na proposta de impor-se ao PSDB.
Sobra na relação de presidenciáveis o próprio, mesmo por enquanto desconsiderando a hipótese do terceiro mandato. Porque o Lula também perdeu. Não transferiu para Marta Suplicy um voto sequer além daqueles de que ela já dispunha.
Nenhuma influência levou a Natal, onde Micarla de Souza, sua quase desafeta, ganhou no primeiro turno. Nem no Rio, porque não engoliu Eduardo Paes, até hoje, detesta Fernando Gabeira e assistiu Alexandre Molon fechar a raia.
Dos aspirantes ao Palácio do Planalto, em 2010, todos regrediram. Precisarão rever planos e projetos, coisa que já devem ter começado a fazer.
Parlamentares na baixa
Desde ontem começaram a chegar a Brasília deputados e senadores antes empenhados nas eleições municipais. Em termos de Congresso, como instituição, foi um fracasso, porque dos 89 deputados federais candidatos às prefeituras, só vinte se elegeram. Dos três senadores, nenhum.
Para os derrotados, a semana será de constrangimentos, precisando todos explicar por que não venceram. Pior será ouvirem dos colegas palavras vãs de conforto, entre sorrisos de comiseração. Também, não tinham nada que renegar seus antigos eleitores, porque se fossem eleitos para as prefeituras, dariam uma solene fruta nacional para eles, que imaginaram colocá-los no Legislativo por quatro ou até oito anos. A partir de agora, sem exceção, encontrarão dificuldades para reeleger-se. E muito pouco ânimo para dedicar-se às tarefas parlamentares.
Desabafos no reino dos justos
Lá de sua nuvem o dr. Ulysses estava disposto a nem tomar conhecimento das eleições municipais, decepcionado há tempos com a performance do PMDB e com o comportamento de seus sucessores. Mesmo assim, revelam as informações lá de cima, não resistiu e passou o domingo de binóculo, focalizando todos os estados.
No fim da noite, juram alguns anjos fofoqueiros ter visto o velho dar um sorriso meio forçado e comentar que, depois de tudo, "não foi nada ruim". Afinal, o PMDB detinha 1.059 prefeituras em todo o País e agora já elegeu 1.065. Elegeu os prefeitos de Campo Grande e Goiânia. Contando com a sorte, poderá acrescentar mais algumas vitórias, no segundo turno, entre elas em capitais importantes como o Rio, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.
Mesmo assim, pelos grampos instalados nos alojamentos celestiais, o serviço de informações do Padre Eterno captou diálogo reservado entre o dr. Ulysses e Mário Covas, onde o ex-presidente do PMDB aproveitava para mais uma crítica aos tucanos saídos contra a sua vontade das costelas do partido.
"Viu a lambança que eles fizeram, traindo o Alckmin?""É, mas eu jamais confiei no Serra e no Fernando Henrique...".Franco Montoro, encostado na nuvem adjacente, não se conteve e desabafou: "Eles deveriam mudar logo de ave. Em vez de tucanos, por que não adotam os morcegos como símbolo?"
Histrionismos
Antes mesmo de encerrada a votação, domingo, diante das acomodadas pesquisas de boca de urna, acólitos dos institutos flagrados em erros monumentais encontravam desculpas. Alardeavam que o eleitorado havia mudado de opinião, na véspera, porque os eleitores do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e outras capitais eram volúveis. Sustentavam, em nome dos fracassados institutos, que os números anteriores eram sérios e corretos, registrando-se apenas, naquelas e em outras capitais, uma reviravolta de tendências.
Os institutos não querem perder fregueses, sequer no segundo turno, esquecendo o vexame que foram suas previsões de nenhuma chance para Fernando Gabeira, da folgada margem de Marta Suplicy e da eleição de Márcio Lacerda no primeiro turno. Quebraram a cara, mas, como a própria é de pau, derramam-se agora em explicações que nada explicam, a não ser que, com raras exceções, pesquisas são pagas, devendo os fregueses ter sempre razão.
Vamos aguardar as previsões para o segundo turno...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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