Souza, do A Tarde
Na véspera do Dia do Trabalhador, Elisângela Macêdo, 30 anos, estava saindo da sede do Serviço Municipal de Intermediação de Mão-de-Obra (Simm), no Comércio, por volta das 11h30 da manhã. Ela carregava uma série de documentos, dentre os quais a carteira de trabalho, e uma versão atualizada do currículo. A pretensão da jovem, que possui o segundo grau completo, é ocupar uma vaga de recepcionista ou secretária. “Às vezes, a gente consegue a carta, faz os testes, mas nunca consegue o retorno. É muita gente para poucas vagas”, lamenta ela.
Nos últimos seis meses, período no qual está desempregada, esta é a terceira vez que ela recorre ao serviço, “sem perder a esperança”, como faz questão de frisar. O seu próximo destino é um novo processo seletivo, para uma vaga “de acordo com o seu perfil”. Enquanto Elisângela preparava-se para ir embora com vistas a participar de mais um processo seletivo, Endrevaldo Ribeiro Souza, de 28 anos, esperava a sua oportunidade, na fila do Simm. “Vim por causa de uma vaga que vi na televisão, de motorista, e outra de auxiliar de manutenção predial. Estou procurando oportunidades”, observa o rapaz. O último trabalho com carteira assinada pelo qual Endrevaldo passou foi em 2004. Desde então, trabalha informalmente como pedreiro, mas não desistiu de um trabalho com carteira assinada, algo compatível com o seu segundo grau completo.
Apesar das histórias e trajetórias de vida diferentes, Elisângela e Endrevaldo têm algo em comum. Fazem parte do contingente de 387 mil desempregados em Salvador e Região Metropolitana (RMS). A taxa de desemprego na capital baiana e cidades adjacentes alcançou cerca de 21% em março, o que aponta uma relativa estabilidade em relação ao mês anterior, com um leve acréscimo de 0,01 ponto percentual. As informações constam da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem e realizada mensalmente pelo governo baiano, em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) e com a Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Levantamento com metodologia similar é realizado nas cinco maiores capitais brasileiras, inclusive Salvador, mais o Distrito Federal. Neste universo, a capital baiana e RMS apresentaram, em março, o maior volume de desempregados. Enquanto o índice de desemprego em Salvador chegou a 21% no mês analisado, a média global da pesquisa, entre as seis localidades, apontou 15% no mesmo período.
Rito Declinante – A economista Ana Margaret Simões, coordenadora da PED pelo Dieese, avalia que, apesar do desempenho, o desemprego em Salvador tem apresentado ritmo declinante desde 2004, ainda que com breves repiques de alta, como o observado em março. “Em relação a março do ano passado, a taxa de desemprego total (em Salvador e RMS) diminuiu em cerca de 8,3%, o que tem a ver diretamente com o crescimento do País”, avalia.
A economista ainda acrescenta que, apesar das conquistas dos trabalhadores, como a valorização do salário mínimo, e o crescimento na oferta de vagas, os empregadores continuam cruéis, com os negros e as mulheres, discriminados pelo mercado de trabalho. De acordo com os dados da PED em março, entre os negros, o desemprego alcançou cerca de 22%, contra aproximadamente 14,8% entre os brancos. “É como se tivéssemos um grupo com nível de desemprego compatível com Belo Horizonte ou São Paulo, no caso os brancos, e outra população na qual são registrados dados compatíveis com a realidade nordestina, no caso, os negros”, complementa a coordenadora da PED pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Vânia Moreira.
Quanto à questão de gênero, a desigualdade se repete em proporções similares. A taxa de desemprego, entre os homens, no período analisado, chegou a 16,7%, contra 25,5% entre as mulheres. Dentre os jovens de 18 a 24 anos da capital e região, o nível de desemprego chega a 36,4%, o que significa uma forte concentração da carência de postos para este perfil de trabalhador.O ligeiro aumento do desemprego, em março, em Salvador e RMS, foi causado pela extinção de cerca de 1,4 mil postos de trabalho. Já no Distrito Federal, o desemprego chegou a 18,2%; 11,4% em Belo Horizonte; 11,7% em Porto Alegre; 19,8% no Recife e 14,3% em São Paulo.
Fonte: A TARDE
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