Rodrigo de Almeida
Diz certa regra canônica que cenários eleitorais configuram um terreno turvo, cheio de complexidades e mistificações – decifrar o comportamento aleatório, incoerente e ilógico do eleitor é, portanto, coisa para profissionais. Falso. Acaba de sair um belo estudo que reforça a negação do engodo: em A cabeça do eleitor, que a editora Record levou às livrarias esta semana, o cientista político Alberto Carlos Almeida demonstra que a lógica na qual o eleitor se orienta é mais simples do que supõe a vã sabedoria difundida entre nós. Depois de analisar 150 disputas eleitorais municipais, estaduais e federais, Almeida informa que o brasileiro vota a favor do governo ou do candidato do governo se estiver satisfeito ou considerar que melhorou de vida. Vota no candidato de oposição se sentir insatisfação ou achar que a vida está pior. Um cálculo racional.
Simples e fácil assim. "A cabeça do eleitor é uma só em um sentido bastante específico", diz o professor. "A lógica de decisão é a mesma. Mas, todos sabem: cada eleição é diferente. E não é diferente por causa da lógica de decisão, mas porque a situação é diferente". Ou seja, o que explicaria, lá atrás, a eleição de Fernando Henrique Cardoso também explicaria a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. A conjuntura é outra, mas a lógica é a mesma – um cálculo racional leva o eleitor a trocar o voto por benefícios do passado recente e do presente. Se política é como nuvem, conforme dizia Magalhães Pinto, o mesmo não se aplica à opinião pública. (A frase sugeria que, no campo da conjuntura política e das articulações partidárias, num instante há um formato e, no passo seguinte, está de outro jeito).
Que lógica é essa a reger o voto? Seis, segundo o autor: 1) a avaliação do governo; 2) a identidade dos candidatos (quanto menos identidade reconhecida, mais vulnerável); 3) o nível de lembrança (recall) dos candidatos; 4) o currículo dos candidatos (e seu preparo para cumprir o que promete); 5) o potencial de crescimento dos candidatos, que combina a rejeição de cada um com o respectivo nível de conhecimento do eleitorado; 6) os apoios políticos (popularidade e simpatia não se transferem, diz Almeida).
Que fique bem entendido: o estudo de Alberto Almeida não é o primeiro nessa linha – nem dentro nem fora do Brasil. Mas tem potencial de expandir a contra-regra. O professor é bom de venda. Para quem não tem obrigação de saber, é dele A cabeça do brasileiro, do ano passado, no qual mostrava as crenças e valores dos brasileiros. O livro fez barulho e virou best-seller. Dizia que a parcela mais educada da população é menos tradicional do que os menos escolarizados. Tem valores sociais mais sólidos e é menos preconceituosa. Agora, com A cabeça do eleitor, Almeida alinha-se a uma galeria de estudos segundo os quais a escolha do eleitor se dá muito mais em função da sua avaliação das realizações do governo em curso do que com base em promessas de mudanças no futuro.
Almeida não diz claramente, mas a lógica do eleitor brasileiro é rigorosamente a mesma de outros países. Em matéria de análise eleitoral, a ciência política informa que os eleitores respondem favoravelmente a políticos que atendem a seus interesses, independentemente de nível de renda, de educação ou de local de residência. Há um jargão para descrever esse mecanismo: voto retrospectivo – aquele que avalia o comportamento do passado recente do político. Sem entender esse componente do voto, muitos analistas fundiram a cuca com a reeleição de Lula em 2006. Assombraram-se com a racionalidade de três tipos "mal vistos" pelo conservadorismo: os pobres, os negros e os nordestinos. Depositaram seu voto retrospectivo num governo que lhes proporcionou programas prometidos, nada mais.
O professor ignora o voto para o Legislativo, no qual a premissa também é a mesma. Estão dispensados os habituais ataques contra a (falta de) memória do eleitor. Como lembra outro cientista político, Wanderley Guilherme dos Santos, o Brasil apresenta níveis altíssimos de renovação no Parlamento, o que torna a competição eleitoral brasileira uma das mais duras do mundo. Este eleitor, diz ele, muda, e muito, o voto conforme as circunstâncias mas – aí é que são elas – não muda de lado. Tem lógica e coerência.
A cabeça do eleitor tem mais de 300 páginas com muitas análises, quadros, tabelas, regras e definições. Que o leitor não se espante caso não seja um analista eleitoral, um marqueteiro ou um pesquisador. Sendo eleitor, num ano de eleições, já terá valido a leitura.
Fonte: JB Online
Certificado Lei geral de proteção de dados
Em destaque
Apenas 6,2% dos municípios baianos aderiram o plano diretor de drenagem segundo o IBGE, entenda:
Apenas 6,2% dos municípios baianos aderiram o plano diretor de drenagem segundo o IBGE, entenda: segunda-feira, 13/01/2025 - 00h00 Por Ron...
Mais visitadas
-
, Herança de Descaso: Prefeito Denuncia Bens Dilapidados e Anuncia Auditoria de 30 Dias Ao assumir a prefeitura, o prefeito Tista de Deda se...
-
Auditoria Já: O Primeiro Passo para Uma Gestão Transparente em Jeremoabo Com a recente transição de governo em Jeremoabo, a nova administraç...
-
Aproveito este espaço para parabenizar o prefeito eleito de Jeremoabo, Tista de Deda (PSD), pela sua diplomação, ocorrida na manhã de hoje...
-
. MAIS UMA DECISÃO DA JUSTIÇA DE JEREMOABO PROVA QUE SOBREVIVEM JUÍZES EM BERLIM A frase “Ainda há juízes em Berlim”, que remonta ao ano d...
-
O último dia do mandato do prefeito Deri do Paloma em Jeremoabo não poderia passar sem mais uma polêmica. Desta vez, a questão envolve cob...
-
Diplomação do Prefeito Eleito Tista de Deda, Vice e Vereadores Será no Dia 19 de Dezembro de 2024. A diplomacao do prefeito eleito de Jere...
-
Justiça aponta fraude e cassa mandato de vereador na Bahia Seguinte fraude seria na cota de gênero em registro de candidaturas de partido ...
-
O Cemitério de Veículos da Prefeitura: Um Crime Contra a Sociedade As imagens que circulam revelam uma realidade chocante e inaceitável: um ...
-
Deri do Paloma e a Entrevista na Jeremoabo FM: Uma Defesa Inconvincente Na entrevista concedida hoje à Jeremoabo FM, o ex-prefeito Deri ...