Que se preparem os adversários: o radialista Raimundo Varela é candidatíssimo à prefeitura de Salvador, e é importante fazer o anúncio, porque sua primeira palavra ao repórter é de queixa. Os comentaristas políticos e a imprensa em geral têm “preconceito” contra ele, desconhecendo que é o líder na única pesquisa em que confia, a Datafolha. “Dizem que eu não tenho tempo no horário gratuito, que não tenho ‘musculatura partidária’, prevêem até a minha desistência. Mas eu conheço o povo desta cidade e sei falar. Se não houver outro jeito, vou usar os 40 segundos do meu partido e vou mostrar do que sou capaz”. Varela recebeu a Tribuna na diretoria da TV Itapoan/Record e por quase duas horas respondeu às perguntas com a naturalidade e a fluência que tem em seu programa diário. Disse que convidou todos os candidatos (e todos os parlamentares) para a apresentação de seu projeto, no sábado da semana passada, e somente compareceram Antonio Imbassahy e ACM Neto, além dos senadores César Borges e Antonio Carlos Júnior, que assim, para ele, “foram os únicos que demonstraram um compromisso com a cidade”. Criticou o desempenho do prefeito João Henrique e afirmou que o ministro Geddel Vieira Lima, ao apoiá-lo, tenta fazer um “levantamento cadavérico”. Atento aos rigores da legislação, sempre usou as expressões “pré-candidato” e “pré-candidatura” ao se referir à sua postulação. (Por Luis Augusto Gomes)
ENTREVISTA
TB – Seu pouco tempo na propaganda de rádio e TV poderia ser muito aumentado por uma coligação com o PR. Como andam os entendimentos? RV – Estamos conversando muito. O PR não tem pré-candidato em Salvador e acredita no projeto do PRB, até os nomes se parecem, só lhe falta o B. A coligação depende apenas da decisão do senador César Borges. TB – O senador tem ligação umbilical com o carlismo. Não seria mais lógico ir para ACM Neto? RV – Hoje ele tem uma posição de independência. Foi um bom governador, trouxe para a Bahia a Ford, que exporta mais que o Estado de Pernambuco. Fez um governo de paz, soube conviver com as adversidades, da extrema-direita à extrema-esquerda. TB – Mas ele mandou a tropa de choque da PM invadir o campus da Ufba... RV – São coisas inerentes ao poder. Jesus também expulsou os vendilhões do templo. Decisões assim têm de ter uma noção de verdade, justiça e lei. TB – O senhor ensaiou uma candidatura em 2004. Daí decorre a dúvida agora... RV – Não ensaiei. O povo me chamou. Em janeiro, eu e João Henrique empatávamos em 28% pelo Datafolha. Confio no Datafolha porque é o único instituto que faz pesquisas para respaldar a análise política de um jornal, que é a “Folha de S. Paulo”, não é para vender a grupos políticos. César Borges tinha 14%. O senador ACM tentou me impor ser o vice de César, mas eu não aceitei, pois eu tinha o dobro na pesquisa. A verdade é que sempre fui resistente à política, tive muitos convites, mas nunca quis disputar. TB – O que mudou em 2008? RV – Mudou em 2006. Passei por um duplo transplante, de fígado e rim, fiquei seis meses numa UTI. Mudei minha forma de ser e de pensar. Tive conversas com Deus e fiquei sabendo que tinha de passar mais um tempo aqui, cumprir uma missão. TB – Aí veio a idéia da candidatura? RV – Não, ainda não. Eu pensei que o apelo popular era coisa do passado. De repente, lá vem a onda de novo. Eu vejo o porteiro do meu prédio, que pega três buzus para ir trabalhar e três para voltar todo dia, passa seis horas no buzu. Quando vai a um posto médico, tem que entrar em fila para pegar a ficha. Não é para ser atendido, não. É para pegar a ficha. A mulher precisa fazer um exame, tem que esperar seis meses. Ele me disse: “Seu Varela, cuide da gente”. Nesses anos todos, eu tenho sido porta-voz e intermediário dessa gente toda que vive abaixo da linha da pobreza em Salvador. Se não posso ajudar, procuro alguém que possa. O que não posso é dar as costas. Faço isso há 35 anos e agora me inspiro no vice-presidente José Alencar. De balconista chegou a maior empresário têxtil da América Latina e aos 60 anos resolveu ir para a política para ajudar quem precisa. TB – E com relação à cidade, infra-estrutura, saúde, educação... RV – Se você se afasta 100 metros da Salvador que encanta, que é basicamente o centro, você vai ver a cidade cheia de doenças sociais, sem escola, sem posto de saúde, sem pavimentação, sem esgoto, sem nada. Só problemas e falta de segurança. Um orçamento de 3 bilhões para atender a 3 milhões de pessoas significa que a prefeitura tem 80 reais por mês para cada habitante. Então, de início, vamos fazer como prega o PRB, que é uma administração como se fosse numa empresa privada. Cada munícipe é um acionista e tem direito de saber, plenamente e com transparência, para onde vai seu dinheiro. TB – Se o dinheiro não dá, como o senhor diz, como será feito? RV - Nós temos que fazer o que for mais justo e urgente, e ao mesmo tempo aumentar o lastro econômico da cidade. Eu quero ser um síndico, dar um choque de gestão, ver onde estão sendo gastos os recursos do contribuinte. As políticas públicas vão ser voltadas principalmente para o social. Ninguém vai receber sem trabalhar. Vou reunir os servidores num estádio para distribuir o primeiro contracheque pessoalmente. Tenho certeza de que, assim, sobra metade do orçamento. Salvador gasta 19 milhões por mês com a limpeza pública terceirizada. Alguma coisa está errada. Cidades modernas vendem seu lixo para fazer gás, reciclar papel, plástico. Aqui, a gente paga para tirar o lixo. Fora do Rio e São Paulo, é a coleta mais cara do Brasil. TB – Esse tipo de providência será suficiente? RV – Esse é o passo imediato. Fundamental mesmo será desenvolver as principais vocações de Salvador, que são o turismo e os serviços. Barcelona tem 2.015 anos e recebe por ano 6 milhões de turistas, mais que o Brasil inteiro, que agora chegou aos 5 milhões. Se vamos à orla atlântica, vemos assalto e favelização. Nossos monumentos públicos viraram sanitários públicos. O Centro Histórico vive nova fase de destruição. A Cidade Baixa, que é uma região lindíssima, está sofrendo de envelhecimento precoce. Olhando nosso patrimônio histórico, a sensação que temos é de abandono. Mas nós temos como mudar isso. A Baía de Todos os Santos, por exemplo, é a segunda maior do mundo, e temos sol praticamente o ano inteiro. O turismo tem de ser profissionalizado. Vamos buscar parcerias no mundo inteiro. Vamos atrair dinheiro da Europa e dos Estados Unidos para incentivar nossa grande vocação. Salvador não tem mais condições de crescimento horizontal. TB – Quer dizer que o senhor é a favor do PDDU e seus novos gabaritos para prédios na orla? RV – O PDDU é perfeito. Sou contra apenas a pressa, aprovar 170 emendas numa noite só. Mas a orla marítima da cidade é ouro puro na mão de qualquer investidor estrangeiro. Devemos fazer tudo para gerar renda e emprego. TB – Há pouco o senhor falou em buzu. Como vê a interminável obra do metrô? RV – O metrô de Xangai tem 480 quilômetros, o de Paris, 200. O nosso, quando funcionar, vai ter seis quilômetros. O cidadão pega um ônibus, depois pega o metrô e novamente tem que pegar um ônibus. Não é um metrô, é um bibelô. Com 25% da obra, vai gastar 1 bilhão. Com o custo do concreto que se gastou até agora eu acabaria com todas as sinaleiras da cidade somente construindo passarelas. TB – Ainda com relação ao turismo, a segurança é um aspecto dos mais importantes, e parece não ir muito bem. RV – Isso vai ter que mudar. Recomendei a um amigo da Grécia ir ao Pelourinho e lhe disse: “Lá é bem policiado”. Ele respondeu: “Então não tem segurança”. Aí eu me lembrei que em Atenas andei de madrugada, com relógio, com euros no bolso, não vi um policial, mas ninguém me assaltou. Aqui a gente vê, numa segunda-feira, 28 baleados no HGE. Cuidar de cada um custa 50 mil reais. Antes no Brasil se construía escolas. Agora são presídios, ou seja, em vez de investir no social, estamos apagando incêndios. Eu quero um Brasil melhor, uma Salvador melhor, porque pretendo morrer por aqui mesmo, sem ficar trancado em casa, no computador, ou andando de carro blindado. E para isso nossos empresários precisam entender que o lucro é importante, mas o espírito público é mais. TB – É inevitável traçar um paralelo entre o senhor e o falecido ex-prefeito Fernando José, que também era um radialista popular e fez uma má administração... RV – Não gosto de falar sobre isso, porque morto não pode se defender, mas, como você disse, é inevitável. Fernando José tinha dois chefes, que eram Pedro Irujo e Mário Kertész. Eu sou independente. Não sou empregado da Record, tenho minha própria empresa e sou parceiro da Record. Vou escolher meus assessores entre os melhores e os que tenham compromisso com a cidade. Salvador precisa de um líder. Chega de prefeitos tutelados. TB – Então o senhor se sente preparado. RV – O prefeito de Maceió, Cícero Almeida, também é radialista e é o prefeito mais bem avaliado do Brasil. Eu não quero ser mais um político. Quero ser tão grande político como consegui ser um grande radialista. Se eu trabalhar para reduzir as desigualdades, se eu arrumar Salvador, vou querer conquistar o Brasil. TB – Como o senhor vê os comentários de que a Igreja Universal do Reino de Deus apóia sua candidatura? RV – Não é verdade. Não tenho religião, apenas creio em Deus. Não sou da Igreja Universal nem de qualquer outra. Qualquer pré-candidato, e no futuro qualquer candidato, quer os votos dos fiéis da Igreja Universal. ACM Neto quer, Imbassahy quer. Mas a estrutura da Igreja Universal, sua organização, não tem nada a ver com minha pré-candidatura nem terá. TB – Como bitransplantado, como está sua saúde para enfrentar essa batalha e, se for o caso, a gestão da prefeitura? RV – Meus médicos me disseram que eu estou melhor do que eles. (Por Luis Augusto Gomes)
Fonte: Tribuna da Bahia
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