PL quer Tereza Cristina na sigla e no comando do Senado
Por Andrea Jubé
Líder resiliente das pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está disposto a ceder à pressão para antecipar nomes e um detalhamento de seus planos para a gestão da economia antes do resultado das urnas no segundo turno.
O clima é de apreensão com o futuro da economia entre setores do empresariado e do mercado financeiro porque o cenário que se avizinha é de imenso rombo fiscal, num contexto externo de desaceleração das economias americana e europeia.
Especialistas preveem impacto orçamentário estimado para 2023, relativo às principais promessas de ambos os presidenciáveis, de dezenas de bilhões de reais. Some-se a este cenário que a PEC do Calote limitou a R$ 40 bilhões o pagamento das dívidas judiciais neste ano, jogando para os próximos anos um remanescente de R$ 49 bilhões relativo a 2022.
Um integrante da coordenação da campanha de Lula ponderou à coluna que o candidato petista não pode indicar um ministro da Economia, ou eventuais membros da equipe econômica, antes de ser eleito, porque soaria até como um insulto ao eleitor. Deu o exemplo de um time que começa a ser escalado para jogar um campeonato, sem que o técnico tenha sido escolhido.
Outro argumento é de que Lula já expôs em entrevistas e discursos algumas diretrizes de seu projeto para a economia. Ele foi enfático na decisão de extinguir o teto de gastos, mas com a ressalva de definirá outra âncora fiscal. O petista tem recordado que fez superávit primário nos oito anos de sua gestão e afirmou que pretende manter o mesmo compromisso com a responsabilidade fiscal, bem como reduzir o valor da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que caiu para 77,5% no fim de setembro.
Depois de receber o apoio dos “pais do Plano Real”, ontem Lula teve a adesão à sua candidatura de mais pesos-pesados da economia, como o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Eduardo Giannetti, além de Samuel Pessoa, Bresser Pereira, André Lara Resende e Andrea Calabi. Segundo relatos de participantes do evento, os economistas declararam apoio “incondicional, irrestrito e independente” ao petista, tendo como premissas a defesa da democracia, o combate à desigualdade social e o compromisso com a proteção ao meio ambiente.
Antes desse evento, na quinta-feira, os pais do “Plano Real” - Armínio Fraga, Edmar Bacha, Pedro Malan e Persio Arida - haviam declarado voto no petista no segundo turno. Para justificar a escolha, declararam em nota pública: “nossa expectativa é de condução responsável da economia".
Outro representante da direção da campanha lulista ouvido pela coluna afiançou que o petista, se for eleito, quer investir em “caras novas” para o eventual futuro primeiro escalão.
“Lula quer gente nova”, disse a fonte, ressalvando que o petista deverá se cercar de um “núcleo de conselheiros”, com nomes que o acompanham há mais tempo, como o senador Jaques Wagner (PT-BA), o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo Aloizio Mercadante.
Para o eventual ministério lulista, são nomes considerados pule de dez os ex-governadores que fizeram seus sucessores, como Wellington Dias (PT), do Piauí, Camilo Santana (PT), do Ceará, e Flávio Dino (PSB), do Maranhão. Os três elegeram-se senadores. Outro nome visto como certo é o do governador da Bahia, Rui Costa (PT), cuja aposta é de que eleja Jerônimo Rodrigues como sucessor no segundo turno.
Para a direção da economia, continuam cotados o deputado reeleito e ex-ministro Alexandre Padilha (PT), que acompanhou Lula no jantar realizado pelo Grupo Esfera no dia 27; e o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), caso não saia vencedor da disputa pelo governo paulista.
Lula comprometeu-se com Simone Tebet (MDB) a formar um ministério plural, inclusive com mais mulheres. Nesse contexto, além da própria Tebet, são cotadas a deputada eleita Marina Silva (Rede), para reassumir o Ministério do Meio Ambiente, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Bolsonaro
Depois de declarar publicamente que a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina era “cotadíssima” para a vaga de vice-presidente em sua chapa, mas optar pelo ex-ministro da Defesa Braga Netto (PL), Jair Bolsonaro tem planos ambiciosos para a aliada, em acerto com o Centrão.
Num acordo de bastidores envolvendo as cúpulas partidárias, Tereza Cristina trocaria o Progressistas (PP) pelo PL, de Bolsonaro, para concorrer à presidência do Senado em 2023. Em retribuição, o PL, com 99 deputados federais, apoiará a reeleição de Arthur Lira (AL), do PP, ao comando da Câmara.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, entrou em campo para formar a maior bancada do Senado, a fim de superar o PSD do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (MG). Com oito senadores eleitos, o PL contabiliza atualmente uma bancada de 14 parlamentares. A meta de Valdemar, entretanto, é alcançar 17 titulares, incluindo Tereza no time. Se a candidatura à presidência do Senado não prosperar, Tereza pode ser reconduzida ao comando da Agricultura, no projeto de continuidade do governo que impulsiona Bolsonaro.
No domingo, em entrevista ao podcaster e youtuber Paulo Figueiredo, o presidente indicou que o ministro Paulo Guedes permanecerá na condução da Economia em seu eventual segundo mandato. Questionado se manteria Guedes no comando da pasta, o presidente respondeu: "Se depender de mim todos ficam [ministros]".
É nesse contexto que o PL - agora titular das maiores bancadas na Câmara e no Senado - poderá contar com dois ou mais ministros. Atualmente, a sigla tem indicados no segundo escalão.
O senador eleito Rogério Marinho (PL-RN) deve retomar o comando do Ministério do Desenvolvimento Regional. E após cumprir a espinhosa missão de garantir palanque a Bolsonaro na Bahia e ficar em terceiro lugar na disputa ao governo, o ex-ministro João Roma deve ser reconduzido ao Ministério do Desenvolvimento Social após o segundo turno.
Valor Econômico