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domingo, março 06, 2022

Na longa mesa de Putin




Ultradireita e esquerda petista subordinam relações internacionais a preferências de natureza ideológica

Por Demétrio Magnoli (foto)

Bolsonaro sentou-se à longa mesa de Putin para expressar "solidariedade" à Rússia, às vésperas da invasão da Ucrânia. Depois, quando as cidades ucranianas enfrentavam bombardeios, o Itamaraty conferiu substância à palavra do presidente. Simultaneamente, a bancada de senadores do PT reproduziu as cínicas justificativas do Kremlin para a guerra de agressão. Só ingênuos incorrigíveis ficaram surpresos.

A ultradireita brasileira cindiu-se em duas facções. Uma, autenticamente "olavista", posicionou-se contra a Rússia, devido à aliança entre o Kremlin e os odiados chineses. A outra, com a qual se perfilou Bolsonaro, escolheu o lado de Putin, curvando-se às simpatias de Trump e às estreitas ligações do líder russo com partidos da extrema direita europeia.

O PT não se dividiu, mas exercitou os esportes da simulação e da ofuscação. A nota putinista dos senadores foi apagada e revertida após um pito da direção nacional. Os gênios que a escreveram, operando em modo automático, esqueceram de considerar seus previsíveis efeitos sobre a campanha eleitoral de Lula. Mas ela expressava a posição genuína do partido –e, não por acaso, Lula alinhou-se a Bolsonaro na negativa de condenar a invasão de uma nação soberana.

O Brasil oficial cobre-se de vergonha. Há quase duas décadas, na hora da invasão americana do Iraque, a representação brasileira na ONU juntou-se à França e à Alemanha na justa condenação da guerra de escolha –e isso quando a nação agredida vivia sob a ditadura sanguinária de Saddam Hussein. Agora, porém, o governo brasileiro optou pela solidariedade com o agressor.

A China absteve-se na votação das Nações Unidas. O Brasil votou pela resolução condenatória, mas apenas para inglês (digo, americano) ver. Na prática, o Itamaraty criticou as sanções à Rússia e a entrega de armas à Ucrânia, pedindo um cessar-fogo. A ilusória "neutralidade" bolsonarista forma o roteiro dos sonhos de Putin: sem sanções dissuasórias e enfrentando um país carente de armas, a Rússia completaria mais facilmente o assalto militar e imporia um cessar-fogo baseado numa capitulação versalhesa da Ucrânia.

A nota dos senadores e os artigos assinados por quadros do PT indicam que, se Lula já ocupasse a cadeira de Bolsonaro, a postura brasileira seria essencialmente a mesma. Por meio das acrobacias retóricas habituais, o Brasil da esquerda também ofereceria amparo às mentiras emanadas de Moscou. No lugar da Constituição, que define o respeito à soberania e autodeterminação das nações como pilares da política externa nacional, a ultradireita e a esquerda petista subordinam nossas relações internacionais a preferências de natureza ideológica.

João Pereira Coutinho, perspicaz, atribuiu a confraternização entre esquerda e direita à "doença" da "nostalgia" (Folha, 28/2). Contudo, no caso brasileiro, há mais que a utopia de restaurar o passado perdido da URSS ou do Império Russo. A política externa do governo Bolsonaro não é formulada em Brasília, mas na Flórida, em Mar-a-Lago, base de Trump. Já a política externa do PT é delineada lá perto, em Havana, o que também explica o apoio inarredável a Maduro e Ortega.

As narrativas de guerra fabricadas no Kremlin seguem ecoando, bem além da Rússia. A Folha publicou diversos artigos dos papagaios de Putin –e sem nenhum protesto do comitê de Jornalistas pela Censura Virtuosa (Jocevir), que só ergue sua caneta vermelha para vetar as opiniões de críticos antirracistas das políticas identitárias.

Tudo que é de interesse público e não viola as leis brasileiras deve ser impresso. Os textos dos escribas putínicos são de interesse público pois descortinam a extensão da miséria política nacional. Funcionam como provas documentais do encontro, na mesa imperial de um anti-imperialismo de araque, da ultradireita bolsonarista com a esquerda petista.

Folha de São Paulo

'Fake news' nas eleições




Cabe ao Congresso Nacional, no combate à pirataria informativa, derrubar o veto presidencial ao artigo 359-O da lei que altera o Código Penal.

Por Miguel Reale Júnior* (foto)

Em discurso de posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Edson Fachin foi enfático na defesa da lisura do processo eleitoral, cuja integridade cabe ser repetidamente proclamada, com total respeito ao escore das urnas.

Destaca o presidente do TSE o perigo das armadilhas da pirataria informativa que se vale do uso de robôs e de contas falsas para disparos em massa, levando a uma distorção sistemática da verdade.

Quais instrumentos legais estão previstos na legislação ou em vias de serem estatuídos para prevenir e reprimir atos ilícitos provocadores de acusações falsas a adversários ou que atingem a própria higidez do processo eleitoral?

Desde sua edição, em 1965, o Código Eleitoral consagrava o direito de resposta em face de declarações ofensivas à honra de candidato na propaganda eleitoral. Esse direito foi estendido, pela Lei n.º 9.504/97, também para o caso de afirmação sabidamente inverídica.

Ampliou-se o direito de resposta, em 2009, ao veiculado pela internet. A Resolução do TSE n.º 23.610/19 (art. 38, § 1.º) proíbe afirmações violadoras das regras eleitorais ou ofensas a direitos de participantes do processo eleitoral. Essa vedação compreende a repressão a menções sabidamente inverídicas, em vista das quais fica autorizada, além do direito de resposta, a remoção da matéria por ordem judicial.

Por sua vez, o Marco Civil da Internet (Lei n.º 12.965/14), no art. 19, apenas prevê a determinação judicial liminar de indisponibilidade de conteúdo verossimilmente ofensivo à honra ou a direito da personalidade, sendo de interesse da coletividade sua remoção. A desobediência à ordem judicial resulta em responsabilidade civil. Todavia, cada plataforma tem termo de uso sobre conteúdo aceito ou não em sua rede.

O presidente da República, cultor das fake news, tentou, por via da Medida Provisória n.º 1.608/21, criar obstáculos à possibilidade de remoção de conteúdo ofensivo ou lesivo ao interesse da coletividade.

A medida provisória foi devolvida pelo presidente do Congresso Nacional, por inconstitucional e por haver projeto, aprovado no Senado, tramitando na Câmara criando mecanismos de autorregulação pelas plataformas, dotadas, portanto, do poder de moderação das publicações.

No plano penal, lei recente alterou o art. 323 do Código Eleitoral. Tornou-se crime “divulgar, na propaganda eleitoral ou durante período de campanha eleitoral, fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado”.

Tal constitui avanço na luta contra a desinformação, pois a notícia veiculada pode ser reprimida – independentemente de constituir ofensa à honra – se contiver potencialidade para influenciar o eleitorado, deturpando a vontade do eleitor com mentiras sobre partido ou candidato.

Mas, na proteção da democracia, cumpre ir além da preservação de interesse particular de partido ou candidato. É necessário proteger a fidedignidade do processo eleitoral e o respeito ao resultado das eleições.

Para tanto, recente lei, que introduziu no Código Penal capítulo relativo à tutela do Estado Democrático de Direito, trouxe importantes normas incriminadoras de atos atentatórios à higidez das eleições e ao processo de aferição dos resultados.

Bem se incrimina, no art. 359-N do Código Penal, a perturbação da eleição ou da aferição do resultado mediante violação indevida de mecanismos de segurança do sistema eletrônico.

De outra parte, se a democracia resulta da escolha livre e consciente dos representantes do povo, essa liberdade e essa consciência desaparecem se houver a prevalência da desinformação na formação da vontade do eleitor. Também assim se sabidamente se colocam, de má-fé, dúvidas sobre a correção do método de votação.

Destaco, então, outra norma incriminadora, vetada pelo presidente da República, mas cujo veto se espera seja derrubado pelo Congresso no combate à pirataria informativa nas eleições, pois se deve tutelar a higidez da eleição em face da mentira. Diz a norma imotivadamente vetada: “Art. 359-O. Promover ou financiar, pessoalmente ou por interposta pessoa, mediante uso de expediente não fornecido diretamente pelo provedor de aplicação de mensagem privada, campanha ou iniciativa para disseminar fatos que sabe inverídicos, e que sejam capazes de comprometer a higidez do processo eleitoral – Pena: reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa”.

Bolsonaro, agora em nova fase agressiva às urnas eletrônicas, que se comprometera a respeitar, buscou envolver o Exército na falsa denúncia da insegurança do voto eletrônico. Buscou, à moda Trump, emporcalhar desde já a eleição que pode perder.

Essa conduta compromete o Estado Democrático de Direito, fundado no respeito ao processo eleitoral no seu conjunto, pois o deturpa com campanha de falsidades acerca da insegurança das urnas eletrônicas. Assim, a vigência desta norma penal vetada é essencial na defesa da democracia, ao punir mentiras deste quilate, lesivas à credibilidade da eleição. Cabe ao Congresso derrubar o veto.

*Advogado, professor titular sênior da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

O Estado de São Paulo

Morto por sniper, general russo é principal baixa de Putin na Ucrânia até o momento




General russo morreu em confronto com a Ucrânia

As forças russas sofreram essa semana sua principal perda em território ucraniano desde o início da invasão. O major-general Andrei Sukhovetsky foi morto em combate. Trata-se do oficial de maior escalão abatido pelas forças ucranianas até o momento. A morte aconteceu no início da semana, mas foi confirmada por representantes russos somente na última quinta-feira (3).

Não foi revelado o local onde Sukhovetsky foi alvejado, mas diversas fontes informaram que ele foi atingido por um sniper.

O major-general de 47 anos comandava a 7ª Divisão Aérea e era um dos líderes do 41º Exército Combinado de Armas do Distrito Militar Central da Rússia.

Ao longo de sua trajetória militar Sukhovetsky foi condecorado por sua atuação na anexação da Crimeia, em 2014, e participou da campanha russa na Síria, no ano seguinte.

A perda do major-general é considerada um duro golpe para o presidente russo, Vladimir Putin, e um sinal de que a invasão ao território ucraniano não está se desenrolando da forma que ele previa.

Grupo mercenário atua na Ucrânia

Formado por ex-combatentes russos, ucranianos, bielorrussos e sérvios, eles estão na Ucrânia há meses, segundo contas nas redes sociais ligadas ao grupo.

Centenas de mercenários teriam voado da Líbia para a Ucrânia, local onde o grupo, que tem ligações com grupos privados militares de aliados do presidente Vladimir Putin, foi fundado.

“Eles são especialistas em contrainsurgência, e a Ucrânia é o local de nascimento do grupo”, explica Ruslan Trad, especialista no Grupo Wagner, que traça seus movimentos pelo Oriente Médio e pela África. “Eles são muito bons em formar resistência, mas duvido que eles participem da luta diretamente”, disse ao The Independent.

Os membros do Wagner lutaram na Ucrânia em 2014 ao lado de forças russas e milícias pró-Kremlin. Desde então, ficam disponíveis para serem contratados por governos autoritários para caçar rebeldes e proteger locações no Oriente Médio, África e até América Latina.

Os Estados Unidos já impuseram sanções contra o Wagner por conta de supostos ataques aos direitos humanos, desestabilização de esforços nos países e promoção de campanhas de desinformação que têm como alvo nações ocidentais.

Uma consultoria de segurança de Washington, o Grupo Soufan, avalia que os mercenários do grupo Wagner poderiam atuar em operações no interior do território ucraniano “como parte de um esforço para minimizar o número de militares russos mortos”, assim como fazer falsas operações para aumentar a moral entre os russos e sabotar operações para baixar o a moral dos ucranianos.

Segundo Trad, com base em sua pesquisa, que inclui entrevistas com fontes próximas ao grupo, as ambições deles ainda não são claras. A maioria está sob o comando russo nas províncias mais ocidentais, mas alguns parecem estar na região de Kiev, após atravessar a fronteira da Belarus.

Ainda de acordo com Trad, os mercenários têm mais experiência que muitos da força russa, mas não são tão mortais quanto a elite das forças especiais da Rússia, os spetsnaz, com quem mantém proximidade.

O pesquisador levanta a hipótese de que os mercenários estão sendo posicionados para ações após uma possível vitória da Rússia.

Ucrânia revela chegada de 16 mil voluntários estrangeiros para enfrentar a Rússia

Em pronunciamento realizado por vídeo, Zelensky afirmou que os ucranianos já estão “saudando os voluntários estrangeiros” e que esses milhares de novos aliados “estão a caminho para proteger a liberdade e a vida para nós e para todos”.

O líder ucraniano celebrou a chegada dos estrangeiros que fortalecerão as forças armadas do país, mas garantiu que esta não é a única ajuda que tem recebido de outros países.

“A Ucrânia recebe armas diariamente de nossos parceiros, de verdadeiros amigos. Todos os dias, recebemos mais e mais armas poderosas”, disse.

Presidente descarta rendição Com isso, mesmo diante da ofensiva russa que já ameaça a capital da Ucrânia, Kiev, Zelensky garantiu que não há nenhuma possibilidade de se render ao adversário. “Todas as nossas linhas de defesa foram preservadas. O inimigo não teve sucesso em nenhum sentido na estratégia de defesa. Eles estão reprimidos e condenados, estamos segurando a defesa. Eles quiseram nos destruir tantas vezes, mas falharam”, considerou.

Ainda que a Rússia já tenha causado estragos no país, o presidente da Ucrânia afirmou que vai “reconstruir cada edifício, cada rua, cada cidade”. "Eles (russos) vão nos reembolsar totalmente por tudo o que fizeram contra nosso Estado, contra cada ucraniano."

Yahoo / DefesaNet

Marinheiros ou ratos




Por Eduardo Affonso (foto)

Não fosse a Argentina estar sob uma ditadura nos anos 1970, talvez Alfredo Astiz tivesse sido apenas mais um militar da Marinha — hoje na reserva, tomando mate com os amigos no Clube Naval. Não fossem o despudor e a corrupção dos governos petistas, talvez Jair Messias Bolsonaro continuasse a ser só um deputado do baixíssimo clero — hoje num churrasco com os filhos na Barra da Tijuca, contando piadas de quinta série e discutindo pequenos golpes contra o Erário. Mas havia uma ditadura no caminho de Astiz, e sua vocação se revelou: torturador e assassino. Havia um PT no caminho de Bolsonaro. A retórica o tirou do pelotão dos candidatos folclóricos, e uma facada o levou ao Palácio do Planalto.

“A ocasião faz o furto; o ladrão já nasce feito”, escreveu Machado de Assis. Feito, mas inconcluso — depende de meios, motivo e oportunidade.

Volodymyr Zelensky era, até outro dia, desconhecido fora dos círculos onde se discute geopolítica. Poderia ter sido advogado (é formado em Direito), ter permanecido como ator e diretor (foi um humorista popularíssimo em seu país) — mas fundou um partido e assumiu, na vida real, o papel que interpretava na ficção, o de presidente. No caminho de Zelensky havia uma pedreira: Vladimir Putin. Que, não fosse por uma perestroica em seu caminho, poderia estar aposentado como agente da KGB, tomando vodca numa dacha com os velhos camaradas e falando mal do capitalismo.

“Eu sou eu e minha circunstância e, se não salvo a ela, não me salvo a mim”, escreveu Ortega y Gasset. A circunstância tragou Astiz, que sequestrava e torturava opositores do regime, e os atirava, vivos, ao mar. Deu pedestal a Bolsonaro, que passara a vida ao rés do chão — um pedestal para o qual lhe faltam estatura, compostura, decoro. Abriu caminho para que o Putin burocrata desaguasse no déspota que manda matar quantos ameacem seu poder, no megalomaníaco que pode empurrar o planeta a uma catástrofe nuclear. E fez de Zelensky o líder improvável, o herói inesperado na resistência a uma tirania.

Lula — “é inadmissível que um país se julgue no direito de instalar bases militares em torno de outros países” x “é absolutamente inadmissível que um país reaja invadindo outro país” — e Bolsonaro —“somos solidários à Rússia” x “não vamos tomar partido” — estão cada vez mais próximos um do outro na tibieza e na ambiguidade e mais distantes de se salvar e às suas circunstâncias. Na cola desses dois, o momento tem se encarregado de unir os antiamericanos atávicos e os de ocasião, irmanados no mantra de que é a Otan o grande satã, que na invasão da Ucrânia não há mocinhos nem bandidos, que o caso é “complexo”. Vai mostrar quem acredita na soberania e autodeterminação dos povos, na solução pacífica de conflitos, no respeito às leis internacionais — e quem não.

“É na tempestade em alto-mar que se sabe, de fato, quem é marinheiro, quem é rato”, reza o ditado. A tempestade na Ucrânia é nossa circunstância; nos oferece os meios, os motivos, a oportunidade. E tem nos permitido ver, por inteiro, quem é rato, quem é marinheiro.

O Globo

Putin assina lei que intensifica censura na Rússia




Segundo o Kremlin, decreto serve para combater "notícias falsas". Qualquer pessoa que se referir à incursão russa na Ucrânia como "guerra" ou "invasão" pode ser condenada a até 15 anos de prisão.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou nesta sexta-feira (04/03) uma lei que intensifica ainda mais a censura no país. Segundo o governo russo, a nova legislação serve para combater "notícias falsas". Na prática, aumenta as barreiras para a divulgação de informações em veículos de imprensa e nas redes sociais, principalmente sobre o conflito na Ucrânia.

Qualquer pessoa que utilizar os termos "guerra" ou "invasão" em relação à incursão russa em solo ucraniano pode ser condenada a até 15 anos de prisão. Conforme o Kremlin, o que está ocorrendo na Ucrânia é uma "operação militar especial".

As penas previstas para quem "espalhar informações falsas" ou publicamente pedir sanções à Rússia pela invasão à Ucrânia podem ser de três anos de detenção ou multas. A pena de 15 anos pode ser imputada se as cortes do país julgarem que as notícias causem "consequências graves".

Depois de bloquear o Facebook no país, o regulador de mídia da Rússia, Roskomnadzor, "restringiu o acesso" à rede social Twitter, segundo informaram agências de notícias russas.

As ações contra mídias sociais mantêm a linha de restrições já impostas também a redes de comunicação estrangeiras, como a britânica BBC, a americana Voice of America, a rádio Free Europe/Radio Liberty – que tem sede em Praga, na República Tcheca, mas é financiada pelo governo dos EUA –, o website Meduza, da Letônia, além da Deutsche Welle.

Conforme Vyacheslav Volodin, porta-voz da câmara baixa do parlamento russo, a medida "vai forçar aqueles que mentem e fazem declarações que geram descrédito a nossas forças armadas a sofrer punições severas. Quero que todos compreendam, e que a sociedade compreenda, que estamos fazendo isso para proteger nossos soldados e oficiais, e para proteger a verdade", afirmou Volodin.

Debandada de veículos de comunicação

Devido à aprovação e à assinatura da nova lei, diversas organizações internacionais de imprensa suspenderam suas operações na Rússia.

"A CNN vai parar de transmitir na Rússia enquanto continuamos a avaliar a situação e nossos próximos passos", disse um porta-voz.

A Canadian Broadcasting Corp suspendeu temporariamente suas reportagens do país.

"A CBC está muito preocupada com a nova legislação aprovada na Rússia, que parece criminalizar reportagens independentes sobre a situação atual na Ucrânia e na Rússia", afirmou, em comunicado.

A Bloomberg News disse que também estava "suspendendo temporariamente o trabalho de seus jornalistas".

"A mudança no código penal, que parece destinada a transformar qualquer repórter independente em um criminoso puramente por associação, torna impossível continuar qualquer exercício normal do jornalismo no país", disse o editor-chefe da Bloomberg, John Micklethwait.

Jornal russo remove conteúdo sobre Ucrânia

Para evitar sanções, o jornal independente russo Novaïa Gazeta, cujo editor recebeu no ano passado o prêmio Nobel da Paz, anunciou nesta sexta-feira a remoção de conteúdos sobre a Ucrânia.

"A lei que sanciona as 'notícias falsas' sobre ações das forças armadas russas entrou em vigor (...), somos obrigados a remover muito conteúdo, mas decidimos continuar trabalhando", indicou o jornal em seu site.

"O gabinete do procurador-geral e o Roskomnadzor [órgão regulador] exigem que a Novaïa Gazeta e outros meios independentes removam o conteúdo que descreve as operações militares no território ucraniano como guerra, agressão ou invasão", explicou o jornal, alertando que "caso contrário, haverá multas enormes e a perspectiva de liquidação das mídias".

Para tomar a decisão, a Novaïa Gazeta fez uma enquete com seus assinantes. Das cerca de 6.500 pessoas que responderam, 94% votaram para "continuar trabalhando sob censura militar, atendendo às exigências das autoridades", enquanto apenas 6% se manifestaram a favor de uma "suspensão do trabalho da redação até o final da 'operação especial'".

Deutsche Welle

Londres tem "plano de ação" para fazer "fracassar" Putin




O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vai apresentar um "plano de ação" internacional destinado a fazer "fracassar" a invasão russa da Ucrânia e multiplicar as reuniões diplomáticas para tal na próxima semana em Londres.

Após uma vaga "sem precedentes" de sanções do Ocidente contra interesses russos em resposta à ofensiva armada na Ucrânia, Boris Johnson vai apelar à comunidade internacional para reaplicar "o seu esforço concertado" contra Moscovo por meio desse "plano de ação em seis pontos", cujos pormenores apresentará no domingo, precisou Downing Street em comunicado.

"[O presidente russo, Vladimir] Putin deve fracassar e nós devemos garantir que ele fracassa neste ato de agressão", declarou o chefe do Governo britânico citado no comunicado.

"Não é suficiente expressar o nosso apoio à ordem internacional assente no direito internacional, devemos defendê-la contra uma tentativa sustentada de reescrever as regras por meio da força militar", acrescentou.

Para esse fim, Boris Johnson reunir-se-á na segunda-feira em Downing Street, primeiro em separado e depois em conjunto, com os seus homólogos canadiano, Justin Trudeau, e neerlandês, Mark Rutte.

Na terça-feira, receberá em Londres os dirigentes do grupo de Visegrado (V4), que agrupa a Hungria, a Polónia, a República Checa e a Eslováquia.

O plano de ação prevê mobilizar uma coligação humanitária internacional para a Ucrânia, apoiar a capacidade do país para se defender, "maximizar" a pressão económica contra o regime russo, impedir "a normalização insidiosa" do que a Rússia está a fazer à Ucrânia, prosseguir a via diplomática para obter uma reversão da escalada do conflito e lançar "uma campanha rápida" para reforçar a segurança na zona euro-atlântica.

Jornal de Notícias (PT)

O Brasil na vanguarda do atraso




A guerra no Leste Europeu revela onde Bolsonaro e Lula estão

Por Ricardo Rangel

Vladimir Putin fez uma agressão não provocada à Ucrânia, país soberano e pacífico. Mentiu que a Ucrânia não existe como Estado independente. Mentiu que o governo ucraniano é neonazista. Mentiu que seu objetivo é proteger os habitantes de Donbass (por que a Rússia está bombardeando Kiev, do outro lado do país?). Mentiu que foi uma ação para impedir que a Ucrânia entre para a Otan: não havia perspectiva de inclusão da Ucrânia. E, se fosse assim, por que Putin concordou com a entrada das repúblicas bálticas na Otan em 2004? E que argumento é esse de que se pode invadir um país soberano para impedi-lo de fazer acordos internacionais?

O mundo não comprou o lero-lero de Putin e repudiou em peso a invasão. No Brasil, entretanto, nada é simples. Os bolsonaristas ficaram confusos, sem saber se a Rússia é o monstro-­comunista-inimigo-da-civilização-cristã, como disse a máquina de fake news durante anos, ou se Putin é “conservador”, conforme Bolsonaro agora o descreve. Para complicar, Putin tem o apoio de outros monstros comunistas, como China, Cuba e Venezuela.

Na dúvida, siga o líder. Bolsonaro — que visitou a Rússia às vésperas da invasão e declarou “solidariedade” aos russos — recusou-se a condenar o ataque e avisou que o Brasil é “neutro”. O Itamaraty faz o que pode para botar o país no lugar certo, mas todo mundo sabe onde Bolsonaro está.

“As principais lideranças brasileiras são incapazes de defender a democracia com firmeza”

Faz sentido que Bolsonaro, que defende ditadura e tortura, apoie Putin, um ditador fascista e homofóbico que acredita na lei do mais forte, mata inimigos e massacra populações, como fez na Chechênia e faz agora. E que quer recriar um passado idealizado e glorioso (o Império Russo). Ou seja, é o modelo acabado do que Bolsonaro quer ser.

A esquerda brasileira também ficou tonta. A visão geopolítica tradicional de nossa esquerda tem três linhas básicas: 1) contra os Estados Unidos; 2) a favor de ditaduras de esquerda; 3) contra ditaduras de direita. Até o fim da Guerra Fria, era fácil conciliar as três linhas, hoje é impossível. Grande parte da esquerda, PT e penduricalhos incluídos, optou pelo antiamericanismo, que é supremo.

O PT condenou a “política de longo prazo dos Estados Unidos de agressão à Rússia e de expansão da Otan” — nem uma palavra sobre a agressão da Rússia à Ucrânia. O ex-chanceler petista Celso Amorim é “contra as sanções” (mas não contra a Rússia) e “a favor do diálogo” (mas não da Ucrânia).

Lula tuitou que “ninguém pode concordar com ataques militares de um país contra o outro” — não mencionou Rússia nem Ucrânia. Depois, falou da Rússia, mas antes criticou o Ocidente: “Foi assim que os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e o Iraque e que a França e a Inglaterra invadiram a Líbia; é assim que a Rússia está fazendo com a Ucrânia”. Esqueceu que a Ucrânia é democrática e pacífica; o Afeganistão, dominado pelo sanguinário Talibã, protegia o terrorista Bin Laden; a Líbia era uma ditadura em sangrenta guerra civil e a intervenção foi determinada pela ONU.

O mundo inteiro está unido em defesa da Ucrânia, mas as principais lideranças brasileiras são incapazes de defender a democracia com firmeza. Nós somos a vanguarda do atraso.

Revista Veja

Putin, o Convidado de Pedra




Segundo Angela Merkel, o presidente russo é um líder do século 19 agindo no século 21

Por João Gabriel de Lima

A melhor definição de Vladimir Putin foi dada por Angela Merkel, a ex-chanceler alemã. Segundo ela, o presidente russo é um líder do século 19 agindo no século 21, um nacionalista disposto a anexar Estados soberanos numa era de direito internacional e globalização. Merkel conhece bem Putin. Visitaram-se várias vezes enquanto coincidiram no poder, e conversavam sem intérprete – um é fluente na língua do outro.

Merkel nasceu na Alemanha Oriental. Escapou de um totalitarismo para liderar informalmente a União Europeia, um clube de democracias. Putin é um nostálgico da Rússia totalitária, mais a czarista que a comunista. Merkel era frequentemente dura com Putin. Ele respondia ora com flores, ora soltando na sala seu labrador Koni. Merkel tinha medo de cães, mas não demonstrava na frente de Putin. E colocava os galanteios machistas na conta do século 19.

Daniel Pineu, entrevistado no minipodcast da semana, é pesquisador na área de segurança internacional na Universidade de Amsterdam. Foi ele quem me lembrou da frase de Merkel, dita em 2014. “Putin pode ser definido como um ultranacionalista conservador. Em vez de olhar para o futuro, quer um retorno à grandeza passada, à grandeza imperial, à grandeza da Guerra Fria”, diz Pineu.

O pesquisador me recomendou a leitura de um ensaio escrito por Putin. O título é Sobre a unidade histórica de russos e ucranianos, e está anexado à versão digital da coluna. No texto fica claro por que Putin considera a Ucrânia seu quintal – e por que, homem do século 19 que é, acha que tem o direito de invadi-la.

O problema de viver no passado é que o presente cobra a conta. Os cidadãos ucranianos – pesquisas acadêmicas já haviam sinalizado – não se sentem num quintal de Moscou. A resistência à invasão tem sido maior do que Putin esperava. Enquanto isso, sanções internacionais provocam estragos na economia russa, expondo o que talvez seja um erro de cálculo do homem do século 19. 

Idolatrado pela extrema direita que assedia a imprensa, Putin deu ordem para que os jornais de seu país não usassem as palavras “guerra” e “invasão”. O russo Dmitry Muratov, editor da Novaya Gazeta e vencedor do Nobel da Paz, afirmou em entrevista à The New Yorker que vai chamar “guerra” de “guerra”, desafiando a censura do autocrata. 

A condenação quase unânime a Putin, da esquerda democrática à direita liberal, foi uma reação do século 21 contra o século 19. Como o Convidado de Pedra da ópera Don Giovanni, Putin é uma estátua do passado a assombrar o presente – daquelas que acabamos por destruir, quando os ventos da História mudam de direção.

O Estado de São Paulo

Invasão da Ucrânia revela esquerda brasileira

 



Por Rui Martins* (foto)

Vladimir Putin queria uma invasão relâmpago da Ucrânia, baseado na superioridade bélica russa. Seria um passeio com seus modernos tanques, protegidos por helicópteros lançando bombas e aterrorizando a população. Errou feio. Hoje, quarta-feira, já no sétimo dia, a capital ucraniana se prepara para resistir a um cerco por veículos russos blindados, tanques, artilharia rebocada e um importante contingente de soldados.

Segundo especialistas europeus, a entrada dos modernos tanques no território ucraniano sem proteção de soldados foi temerária. Armas pesadas, mas sem grande mobilidade, foram alvos fáceis e imobilizados, atravancaram as estradas. Esse atraso pode ter comprometido todo o plano de invasão, pois o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky conseguiu mobilizar a população para uma resistência, mesmo com coquetéis molotov.

Por sua vez, os países europeus, passado o choque da invasão russa à Ucrânia, decidiam enviar armamentos e equipamentos militares, enquanto seus bancos e organismos financeiros decidiam bloquear contas, capitais e transações, provocando uma desvalorização do rublo. A reação contra a invasão russa foi ainda mais ampla, pois inclui a expulsão da Rússia pela FIFA e dos clubes russos nas competições europeias.

Maestros russos tiveram seus contratos anulados e as diversas modalidades de festivais não receberão nenhuma manifestação artística vinda da Rússia. Se em 1938, o mundo tivesse assim reagido contra a anexação da Áustria por Hitler, teria abortado a guerra mundial.

A própria Suíça, depois de uma ligeira hesitação, não quis manter sua malvista neutralidade do passado e decidiu se alinhar conforme as sanções decididas pela União Europeia. A advertência foi feita pelo dirigente das relações exteriores da UE: “a Suíça, berço da Cruz Vermelha, que se orgulha de ser vanguardista na promoção da paz, não pode se manter inativa diante da agressão russa”.

Resultado, as fortunas dos dirigentes russos e pessoas a eles ligadas foram congeladas e, desde segunda-feira, o espaço aéreo suíço foi fechado aos aviões e companhias aéreas russas assim como jatos privados russos. Transferir importantes somas de dinheiro em urgência não é simples; quem conseguiu, já havia transferido há mais tempo e enviou para Hong-Kong. Mesmo assim, quem possuía sua fortuna em rublos sofreu a retração provocada pela desvalorização da moeda russa.

O risco nuclear

De uma maneira geral, ninguém acredita numa utilização do arsenal nuclear russo para retomar a Ucrânia, considerada por ele como parte do território russo. A invasão decidida por Putin teria sido também para evitar a entrada da Ucrânia na OTAN, embora nada de concreto exista a esse respeito. Isso equivaleria, se fosse o caso, ao projeto soviético do passado de instalar ogivas nucleares em Cuba.

O jornal L´Humanité, antes porta-voz do partido comunista, mas hoje um órgão de esquerda, num artigo sobre o desafio feito ao mundo por Putin, no qual comenta a guerra contra um país soberano, cita um debate promovido na Alemanha pela revista Der Spiegel, no qual se revelou a existência de um documento assinado em 1991, pelos EUA, França, Inglaterra e Alemanha, de que a OTAN não iria além do rio Elba, ou seja, não passaria da Tchecoslováquia. Bastaria isso para justificar a invasão?

Todos os candidatos da esquerda francesa à presidência condenam a invasão da Ucrania pela Rússia, inclusive Jean-Luc Melenchon, que é contra a OTAN, e que é sempre acusado de ser próximo do Kremlin. “Condeno a guerra da Rússia na Ucrânia”, declarou. “Trata-se de uma iniciativa de pura violência manifestando uma vontade de poder sem medida…” Mas não passou despercebida a frase “guerra da Rússia na Ucrânia” em lugar de “invasão russa da Ucrânia”. O candidato do partido comunista, Fabien Roussel, se opõe à entrega de armas ao governo ucraniano, embora utilize um vocabulário um tanto genérico quando fala que o PC “é solidário com todas as forças de paz na Ucrânia, na Rússia e na Europa que se levantam contra essa guerra… e que a segurança da Europa, Ucrânia e da Rússia são inseparáveis”.

Roussel condena a atitude do presidente russo que “se lança no ultranacionalismo e fica com a responsabilidade militar dessa guerra”, mas não deixa de criticar também os Estados Unidos: “a responsabilidade coletiva é de todos quantos alimentaram a possibilidade de confrontação às portas da Rússia, dando a entender que a Ucrânia poderia entrar na OTAN”.

Até agora a Rússia, cujo arsenal de ogivas nucleares é maior que o dos EUA, sempre se referiu a essa força como elemento de dissuasão ou de resposta a um ataque. Nos últimos anos, certas inovações nas forças nucleares permitiram modular a potência de suas explosões, podendo levar alguns líderes a imaginar ou desejar fazer uma experiência real nos campos de batalha.

A resistência dos ucranianos com a utilização de armas entregues pelos países europeus, mais uma crise econômica dentro da Rússia, provocando perda do apoio popular a Putin, poderá criar um clima de derrota russa. Porém, é difícil imaginar Putin retirando suas tropas. Putin, embora tenha falado em armas nucleares, só poderá utilizá-las (em princípio) com o acordo do ministro da Defesa e do chefe do Estado-maior das forças armadas russas.

Bolsonaro, Lula e Malafaia evitam criticar Putin

O presidente Bolsonaro, mesmo se foi a Moscou às vésperas da invasão, parece ignorar a decisão de Putin. Chegou mesmo criticar os ucranianos por terem eleito presidente um ator comediante da TV. Na sua ignorância, Bolsonaro desconhece a formação universitária de Zelensky e sua coragem na defesa de seu país, se comportando como um herói, ao resistir ao ataque russo.

Não bastasse seu comentário ofensivo aos ucranianos, aos atores e comediantes, Bolsonaro mentiu para a imprensa, nas suas novas férias no Guarujá, ao afirmar ter falado duas horas com Putin. Conversa houve, porém não foi, no domingo, por telefone, mas há duas semanas em Moscou, ao que parece sem se falar na Ucrânia.

Quem esperava uma declaração clara do ex-presidente Lula sobre a invasão da Ucrânia se decepcionou. Lula fez uma declaração anódina contra a guerra, sem falar em invasão e, numa outra declaração, desviou responsabilidade para a ONU, sempre sem se referir ao autor da invasão, o presidente Vladimir Putin. Esse cuidado seria para não decepcionar a esquerda brasileira.

A situação acaba ficando entre dramática e grotesca. Bolsonaro e Lula não se definem quanto à Rússia e Putin, e nisso estão próximos do pastor Silas Malafaia, que berra ser contra a guerra, compara a crise das ogivas russas em Cuba com a entrada da Ucrânia na OTAN, mas não fala em Putin! Para ele, crime maior são os 200 milhões de “bebês” assassinados em cinco anos pelo aborto. A ignorância misturada com fanatismo não permite a Malafaia perceber não haver bebês nos abortos e muito menos entender a importância da legalização do aborto para as mulheres.

*Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

Observador (PT)

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