Ministra Teresa Cristina é um dos destaques do governo Bolsonaro
Carlos Newton
O concurso Piada do Ano mobiliza personalidades de todos os escalões da República, ninguém quer ficar para trás quando o presidente da República terraplanista prestigia a disputa, criando uma anedota atrás da outra, é um nunca-acabar.
Essa semana tivemos grandes piada, mas o destaque vai para a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, ao alegar que há uma orquestração contra o Brasil no exterior.
EXCELENTE MINISTRA – Trata-se de uma das exceções do governo. Teresa Cristina realmente é uma das revelações sesse governo (a outra é o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas). É deputada federal reeleita, ex-coordenadora da bancada ruralista, conhece profundamente os problemas do produtores agrícolas, especialmente o chamado custo Brasil
Em entrevista a Naira Trindade e Eduardo Bresciani, O Globo, nesta quinta-feira, a ministra da Agricultura alega que o governo Jair Bolsonaro não tem interesse em apoiar o desmatamento ilegal.
Ressalta que, mesmo na revista Science na semana passada, que apontou rastros de desflorestamento em até 20% da soja e 17% da carne produzidas na Amazônia e exportadas para a União Europeia, é reconhecido que mais de 90% dos produtores nacionais não desmatam.
Até aí, tudo bem, nada a contrapor. Mas em seguida ele não se conteve e veio com a Piada do Ano, ao afirmar haver uma “orquestração” nas críticas internacionais feitas à política ambiental do Brasil.
Com todo respeito à excelente ministra, que merece aplausos, a tal campanha mundial só existe porque o governo brasileiro adotou a política do personagem “Duas Caras”, rival do Batman.
O presidente Bolsonaro, desde sempre, não tem manifestado a oposição necessária aos desmatamentos e até demitiu do Inpe o físico Ricardo Galvão, de renome internacional e eleito ‘cientista do ano’ de 2019 pela revista “Nature”. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é uma besta tucana, enriquecida ilicitamente e capaz de sugerir “passar a boiada” aproveitando a pandemia.
O vice Hamilton Mourão que preside o Conselho da Amazônia, tenta evitar o desmatamento, mas falta-lhe a caneta, digamos assim. Tudo isso é sabido no exterior. A campanha só existe porque nós estamos administrando mal a Amazônia – não é orquestrada, é apenas consequência.
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P.S. 1 – O governo dispõe de mecanismos para multar, processar e até prender os desmatadores, como prevê a legislação brasileira, a mais avançada do mundo. Pode multá-los com as fotos de satélite, exatamente com é efeito nas estradas, com os veículos acima da velocidade permitida. Mas falta vontade política.
P.S. 2 – Esse quadro negativo é agravado com o abandono dos indígenas, em plena pandemia. Como alegar que há uma campanha orquestrada? Quem está desafinando é o governo brasileiro. (C.N.)