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quarta-feira, novembro 06, 2024

Um mundo entre a vida sórdida de Trump e o velho império de Kamala


Candidatos à Presidência dos EUA, Donald Trump e Kamala Harris, se cumprimentam em debate na Pensilvânia

Trump e Kamala são dois candidatos que deixam a desejar

Vinicius Torres Freire

Democratas do mundo inteiro torcem em desespero pela vitória de Kamala Harris. Se eleita, a candidata do Partido Democrata não vai reverter esta onda longa de degradação social e política, fora do controle até do poder de um império mais benevolente. Mas manteria no poder o establishment imperial mais comedido e racional, de resto com 10% de desconto social, o Partido Democrata e seus aliados na finança, na universidade ou na ciência em geral e em boa parte das “big” (“techs”, “pharma” e outros gigantes tecno).

De certo modo, é coalizão que vem desde Bill Clinton (1992-2001), em especial desde Barack Obama (2009-2017), com qualificações.

O QUE VEM – As consequências de Donald Trump são incertas, até se ele perder. Haveria guerra jurídica e tumulto na rua? Vitorioso, vai implementar seu programa? Plutocratas menos lunáticos do entorno de Trump dizem que não; pode haver revolta política; talvez o Congresso barre o pior.

O plano de Trump tende a acabar com o que resta da ordem mundial que os EUA comandaram desde 1945 e com uma ideia de governo que, na sua versão moderna, tem bem mais de um século.

Os aumentos de impostos de importação (“tarifas”) acelerariam a fragmentação econômica global, além de agravar perigosamente o conflito com a China. Bloqueios de comércio alteram também fluxos de investimento; reorganizam ou reforçam blocos políticos e econômicos. Teriam consequências imediatas: preços e juros maiores, comércio menor, menos atividade econômica.

DRIBLAR RESTRIÇÕES – Haveria tentativas de driblar as restrições, como já acontece com as tarifas de Trump 1 (e políticas de vários governos dos EUA). Parceiros, vizinhos e aliados da China tornam-se veículos ou intermediários do capital e da produção chinesas. O pequeno Vietnã ora tem o terceiro maior saldo comercial com os EUA (US$ 105 bilhões, em 2023; o déficit com a China, o maior, é de US$ 279 bilhões). A

 fim de fazer valer sua vontade, Trump viria a impor outras sanções contra países da conexão comercial ou de investimentos chineses e contra outros dribles?

Trump quer que países da Otan e do Leste da Ásia paguem a conta da proteção militar americana. Criaria problemas na endividada e lerda Europa e pânico em Taiwan, para começar. Mais importante, sem dinheiro e armas americanas, qual seria a atitude diplomática e econômica de tais países e blocos?

MOEDA MUNDIAL – Um exemplo menor. A conversa sobre a substituição do dólar subiu de tom com o confisco de reservas da Rússia e o banimento do país das redes financeiras ocidentais, entre outros rearranjos. A perda de peso do dólar ainda é pequena; o poder da moeda está longe de depender só de política. Mas as coisas se movem.

Trump quer trocar a burocracia, o governo racional, o serviço público de Estado, por um séquito. Ameaça meter a mão até no Banco Central, o que teria consequências para o financiamento da explosiva dívida americana e para taxas de juros mundiais, para nem mencionar a insegurança que causaria nos donos do dinheiro grosso, que estacionam seus haveres nos EUA.

O republicano quer dar cabo da transição ambiental; por tabela, ameaçaria compromissos do resto do mundo. A fim de deportar milhões de imigrantes ilegais (o que teria efeito econômico sério), criaria campos de concentração e um grupamento policial-militar de caça e intervenções? Os EUA têm Guantánamo, recorde-se.


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