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O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, principal liderança do PMDB na Bahia e maior patrocinador da candidatura à reeleição do prefeito João Henrique, vive certamente o melhor momento da sua carreira política. Franco, às vezes polêmico, Geddel não é de ficar em cima do muro. Dividido entre as atividades de ministro, onde administra uma das obras mais polêmicas do governo do presidente Lula, que é a transposição das águas do Rio São Francisco, ele ainda encontra tempo para cumprir uma agenda cheia de compromissos políticos na Bahia. Antes de se dirigir para a sede da Codevasf, de onde o telefone já lhe chamava, ele concedeu esta entrevista ao repórter Evandro Matos para a Tribuna da Bahia, na sua residência, em Ondina. Geddel falou da campanha em Salvador, do ministério, da sua relação com o presidente Lula e com o governador Wagner, do ex-senador Antônio Carlos Magalhães e voltou a se queixar do PT por ter proposto, através do hoje prefeiturável Walter Pinheiro, o processo de repactuação na administração municipal, o que valeram aos petistas mais duas secretarias. A repactuação assegurava o apoio do PT ao projeto de reeleição do prefeito João Henrique. No entanto, seis meses antes da eleição o PT abandonou o governo e seguiu um caminho contrário ao estabelecido com o PMDB. Geddel disse estar confiante na ida de João para o segundo turno, embora tenha reconhecido que houve erros na composição da equipe de governo, insinuando que muitos dos então aliados promoveram um boicote à cidade. “Além disso, ele (João Henrique) fez alianças equivocadas, e ele reconhece isso. Ele trouxe para dentro do governo pessoas que ficaram alimentando candidaturas e hoje eu já tenho dúvida se essas figuras não boicotaram a própria administração. Mas, com a campanha, João está mostrando muitas obras, muito trabalho e a sociedade começa a perceber que é melhor não trocar o certo pelo duvidoso. É melhor dar mais uma chance a João, que não vai ter que aprender a governar, não vai perder tempo adquirindo experiência, e isso é bom para Salvador”, afirmou.
ENTREVISTA
Tribuna da Bahia: Ministro, como o senhor está vendo esta eleição de Salvador, especialmente sobre o seu candidato, João Henrique? Geddel Vieira Lima: Com muito otimismo. Eu acho que a sociedade de Salvador começa a perceber claramente que João Henrique fez muito nestes três anos de governo. E se não fez mais, é porque três anos é muito pouco. João tem um temperamento afável, uma pessoa que apanhou muito, calada, sempre com a noção de que a briga poderia prejudicar a cidade, se desgastou muito nos primeiros períodos. Além disso, ele fez alianças equivocadas, e ele reconhece isso. Ele trouxe para dentro do governo pessoas que ficaram alimentando candidaturas e hoje eu já tenho dúvida se essas figuras não boicotaram a própria administração. Mas, com a campanha, João está mostrando muitas obras, muito trabalho e a sociedade começa a perceber que é melhor não trocar o certo pelo duvidoso. É melhor dar mais uma chance a João, que não vai ter que aprender a governar, não vai perder tempo adquirindo experiência, e isso é bom para Salvador. TB: A candidatura de João Henrique começa a recuperar pontos tanto no item sobre rejeição quanto nas intenções de voto para prefeito. Como o ministro tem visto isso? GVL: Com naturalidade. Até porque a sociedade está vendo que ninguém está fazendo proposta verdadeiramente nova. Alguns estão prometendo muito, e prometendo terreno na lua. João Henrique está mostrando obras que as pessoas podem olhar. As pessoas vêem. Por isso ele está subindo e a sua rejeição despenca. TB: Como o senhor está sentindo o nível da campanha? GVL: Absolutamente normal. TB: O PMDB luta para colocar João Henrique no segundo turno. Mas para conquistar isso, precisa abrir caminhos. Como administrar esta briga agora e a necessidade de se fazer uma aliança no segundo turno? GVL: Ninguém está fazendo um discurso agressivo contra o ex-prefeito Imbassahy. Ele demitiu ou não demitiu os funcionários da prefeitura? Ele teve ou não teve uma secretária de Saúde que foi questionada do ponto de vista da moralidade? Isso não é ataque, nem é baixo nível. Isso é mostrar à sociedade o que aconteceu. O candidato Walter Pinheiro reconhece que o PT repactuou ou não repactuou com a administração? O PT esteve ou não esteve durante mais de três anos na administração de João Henrique? O secretário Gilmar Santiago, que ocupou o coração do governo, é ou não é o braço direito do deputado Pinheiro? Está se colocando isso e a sociedade vai dizer se isso é relevante ou não. Da mesma forma, as pessoas estão colocando em relação a João Henrique aquilo que elas consideram verdade. De modo que, segundo turno é uma nova eleição, e não havendo agressão pessoal ou moral, tudo é possível de composição. TB: Em determinado momento, o PT ameaçou romper com João Henrique, mas depois houve a repactuação, passando a ocupar secretarias importantes. Com a saída e a atual troca de farpas, existe possibilidade de uma nova repactuação para o segundo turno? GVL: Se o João Henrique não for para o segundo turno e o Pinheiro for, devo dizer que sim. Ninguém está agredindo ninguém. Eu, por exemplo, não me sinto ofendido pela campanha do PT, nem o PT deve se sentir ofendido pela campanha do PMDB. Se há adversários, é porque têm interesses diferentes, porque há visões diferentes. Para que a sua visão prevaleça, você tem que mostrar que a visão do adversário é equivocada, e vice-versa. E é o que está sendo feito. No mais, é choro próprio de campanha. TB: Numa entrevista recente, o ex-governador Paulo Souto (Democratas) admitiu compor com o PMDB. Admitindo-se que se Pinheiro e João Henrique forem para o segundo turno, com quem o PMDB comporia? GVL: Eleição do segundo turno não é a eleição dos seus sonhos. É uma eleição que a sociedade cria, e nós vamos buscar o apoio de todos. Aliás, queria lembrar uma frase do grande estadista Juscelino Kubitschek: “A gente escolhe em quem votar. Mas não escolhe quem vota na gente”. Mas se você quer saber objetivamente se nós buscaríamos o apoio do DEM, buscaríamos. TB: Nessa disputa PMDB x PT se estabeleceria um confronto nítido nos palanques. Então, na discussão de uma nova aliança, passaria algum acordo para 2010? GVL: Eleição de 2008 é eleição de 2008. O que está em jogo agora são os interesses de Salvador. Passaria por um projeto para 2008, para agregar propostas de quem não tivesse no segundo turno. 2010 é 2010. TB: Queria que o senhor explicasse para o eleitor, como é um embate em palanques distintos entre PT e PMDB? Como é que vocês vão administrar isso? GVL: Antonio Carlos, quem era adversário dele, ele usava a tática nazista. Ele era uma figura diferente do filho Luís Eduardo, que sabia conviver com as divergências. Ele usava todo o poderio que conquistou na ditadura para criticar a honra das pessoas. O debate que está se travando é político, de idéias. Eu fui adversário do presidente Lula, porque as urnas da Bahia assim determinaram. Quando as urnas da Bahia sinalizaram em outra direção, e o presidente Lula teve tamanha dimensão, nos compusemos. TB: O senhor critica veementemente o ex-senador Antonio Carlos, mas faz elogios ao seu filho Luís Eduardo Magalhães. E com ACM Neto, como é a sua relação? GVL: Passamos a nos cumprimentar recentemente, depois da morte do senador. É um rapaz que está se colocando na política, que eu ainda considero muito verde, que ainda tem muito que amadurecer. Mas eu não tenho nenhum relação... TB: Pelo menos no Congresso Nacional, dá para o senhor fazer uma avaliação dele? GVL: Como político é uma pessoa disciplinada, que está procurando estudar, mas ainda... Ele é um parlamentar atuante, cumpriu o seu dever. Agora, como ser humano, eu não tenho nenhuma amizade com ele para analisar. TB: O senhor tem demonstrado, e o governador também, que a relação entre vocês vai bem. Mas a relação PT x PMDB não é tão boa assim. Como o senhor vê essa diferença? GVL: São dois partidos que conquistaram conjuntamente o poder na Bahia, e que disputam espaços. Essa relação se deteriorou um pouco à medida que João Henrique veio para o PMDB, de comum acordo com o governador Wagner, o PT repactuou com a administração municipal e que, no apagar das luzes, pula fora do barco. É claro que isso desencanta e desilude o seu parceiro de jornada. É claro que isso cria um novo modelo político na Bahia. O PMDB, não entende que isso é ético, é correto participar de um governo, e depois dizer até logo, eu vou seguir o meu próprio caminho. Isso é um novo modelo que está implantado na Bahia. Vamos ver o que dá lá pra frente. TB: O governador gravou para o programa eleitoral e disse que o seu candidato do coração é Pinheiro. Como o senhor viu isso? GVL: Com absoluta naturalidade. Assim como vejo também com absoluta naturalidade quando o governador disse que a candidatura de João Henrique tem as bênçãos do presidente Lula. E por que tem as bênçãos do presidente Lula? Por que no auge da crise que o presidente enfrentou em 2005, quando muitos petistas, inclusive da Bahia... TB: O senhor quer dizer Walter Pinheiro... GVL: É, Walter Pinheiro. Então, nessa época, foi o prefeito João Henrique quem primeiro lançou a candidatura do presidente Lula à reeleição. TB: Como está o Ministério da Integração Nacional, no tocante à sua principal obra, que é a transposição do Rio São Francisco? GVL: Muito bem, tanto a transposição quanto a revitalização. Sobre a revitalização, agora mesmo liberei mais de 15 milhões para a Bahia. As obras de transposição, estamos tirando tudo do papel, fazendo a hidrovia, matas ciliares, são obras que você pode ver, sem conversa fiada. O próprio presidente da República, entusiasmado com o andamento do programa, já agendou uma viagem agora para outubro. Portanto, o ministério está andando muito bem, inclusive no nosso Estado. TB: Como está o PMDB baiano, o seu crescimento vai atingir a expectativa projetada? GVL: Não tem projeção nenhuma. A nossa visão é que estamos instalados em quase todos os municípios da Bahia, com 280 candidatos a prefeito, sendo recebidos em todas as regiões, onde podemos dizer as nossas mensagens, nossas idéias, o que nós estamos fazendo. O PMDB cresceu, está enraizado em todo o Estado, sai da eleição fortíssimo e terá um papel fundamental na definição dos rumos da Bahia em 2010. TB: O PMDB está tendo dificuldade em algumas cidades que considerava como estratégicas como Juazeiro, Itabuna, Feira de Santana... GVL: Nós não estamos preocupados em saber se não estamos bem ali, ou se estamos bem em Jequié. Isso é mais especulação da imprensa, que alguns ficam fazendo, são os chamados politicólogos. Eu não sou contabilista da política, eu sou político. Portanto, o que vai acontecer na eleição, vamos ganhar algumas e perder outras e a vida continua. TB: Com este cabedal político, qual será o seu projeto em 2010, já que o senhor disse que não vai mais disputar um mandato de deputado federal? GVL: Vou estar onde eu possa trabalhar muito pela Bahia. Mas para ser mais objetivo, e não ser vago, eu espero ter maturidade para manter a aliança com o governador Wagner. Mas o líder do Estado é ele, as atitudes que vão nortear 2010 dependem mais do governador do que do seu partido. Espero que fatos como estes de Salvador não se repitam. Esse fato do PT ter feito o abandono de um governo que vinha fazendo parte, não tem precedentes, isso corrói a confiança. Agora, em política não pode ter mágoa permanente. Eu espero que o líder político do Estado, que é o governador, possa fazer ver ao seu partido, que não se faz filho sozinho, quanto mais fazer política sozinho. TB: Então, ministro, a partir daí está tudo em aberto... GVL: A partir daí está tudo em aberto. Vamos ver 2010 chegar. TB: Diálogo com todos os partidos... GVL: Diálogo com todo mundo, conversa com todo mundo, candidaturas a qualquer coisa, sendo que a minha prioridade é a maturidade para manter a aliança com o governador. Mas, se não for possível, com muita lealdade, estaremos em campos opostos. Depende muito mais do governador do que deste pobre ministro de Estado... TB: O ex-governador Paulo Souto disse que é muito cedo para se falar em 2010 ou em alianças. O senhor também concorda com isso? O senhor tem conversado com ele? GVL: Eu encontrei com o ex-governador Paulo Souto em duas ou três ocasiões sociais. Tivemos uma conversa social. É claro que se aborda a política também, mas nenhuma conversa com profundidade. Eu tenho uma relação com o governador Paulo Souto civilizada porque nós temos divergências políticas, não pessoais. O meu projeto passa pela manutenção preferencial da aliança com o governador, com quem eu tenho excepcionais relações. Agora, 2010 está muito longe. Eu tenho que estar aberto a tudo. TB: O PT baiano duvida da sua liberdade de se colocar politicamente em relação a 2010 pelo fato do senhor estar refém da situação nacional. Como vê isso
GVL: Deixa eles falarem.
Fonte: Tribuna da Bahia