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terça-feira, dezembro 17, 2024

Braço direito de Braga Netto fazia ponte entre investigados e articulava estratégias de defesa

 Foto: Isac Nóbrega/Arquivo/PR

Walter Braga Netto17 de dezembro de 2024 | 06:32

Braço direito de Braga Netto fazia ponte entre investigados e articulava estratégias de defesa

brasil

Alvo da Polícia Federal no último sábado (14), o coronel da reserva Flávio Botelho Peregrino, 56, ganhou o apelido de “Cid de Braga Netto” pela proximidade dele com o general preso.

Peregrino não é citado como um dos investigados oficialmente, mas a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra ele no mesmo dia em que prendeu o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL).

O coronel do Exército acompanhou Walter Braga Netto por todas as funções que o general assumiu nos últimos quatro anos. Foi assessor de imprensa na Casa Civil, no Ministério da Defesa e foi para a sede do PL, em Brasília, quando o general da reserva passou a comandar as relações institucionais do partido, em 2023.

Nos últimos meses, o militar atuou como assessor do deputado distrital Thiago Manzoni (PL), mas manteve o trabalho de auxiliar Braga Netto em sua defesa no inquérito sobre a trama golpista.

Ele diz a interlocutores que a ajuda a Braga Netto se dava por lealdade e camaradagem, uma vez que os dois viveram juntos os últimos meses do governo Bolsonaro. Não recebia recursos para esse assessoramento.

Com o vínculo informal com Braga Netto e sem ser formalmente investigado pela PF, Peregrino conversava com investigados pela trama golpista e articulava estratégias de defesa do general e aliados indiciados, segundo apurou a reportagem.

Ele atuava nos bastidores em conversas com os militares mais próximos de Braga Netto, o que inclui os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira e o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha.

Um de seus trabalhos, após as eleições, foi treinar Heleno para o depoimento que o general prestou na CPI do 8 de janeiro no Congresso Nacional, no ano passado.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), proibiu, no sábado, Peregrino de falar com outros investigados. A determinação foi solicitada pela Polícia Federal e teve o aval da PGR (Procuradoria-Geral da República).

O principal elemento listado pela PF que implica Peregrino na trama golpista são documentos encontrados na mesa do coronel da reserva em fevereiro, durante buscas na sede do PL, em Brasília.

Um dos documentos continha uma lista de perguntas e respostas sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

“O contexto do documento revela que, possivelmente, foram feitas perguntas sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por Mauro Cid em sede policial, as quais teria [sic] sido respondidas a princípio, pelo próprio colaborador, em vermelho”, diz a Polícia Federal.

Braga Netto foi preso preventivamente no sábado por suspeita de obstrução de Justiça. Segundo a PF, o general tentou obter detalhes sigilosos da delação de Mauro Cid por meio do pai do delator, o general Mauro Lourena Cid, para atrapalhar as investigações.

O material encontrado intercala considerações pessoais com frases em primeira pessoa, sugerindo que as colocações seriam do próprio Cid.

“Eu não entrava nas reuniões. Só colocava o pessoal para dentro”, diz trecho do documento achado na mesa de Peregrino.

Os investigadores ainda encontraram sobre a mesa de Peregrino um documento, redigido à mão, com o título “Operação 142”. Ele fazia alusão ao artigo 142 da Constituição Federal, que define as funções das Forças Armadas.

Bolsonaristas radicais veem no artigo constitucional uma brecha para as Forças Armadas atuarem como uma espécie de poder moderador da República. O STF já enterrou essa tese, por unanimidade.

O manuscrito em posse de Peregrino tinha uma série de tópicos que viabilizaram um golpe. O documento falava em “anulação das eleições”, “prorrogação dos mandatos”, “substituição de todo TSE [Tribunal Superior Eleitoral]” além de outras ações antidemocráticas para garantir que “Lula não sobe a rampa”.

O coronel disse a pessoas próximas que os documentos não foram produzidos para planejar golpes de Estado ou mesmo descrever conversas com Mauro Cid, que não teriam ocorrido.

Segundo aliados do militar, os documentos eram uma forma de colocar no papel o que saia na imprensa sobre a delação de Cid e os detalhes do plano golpista para saber como assessorar Braga Netto diante do cenário.

O general publicou um comunicado à imprensa após a PF revelar o material de seu assessor. “Os documentos, anotações, rascunhos, reportagens de imprensa serviam como material preparatório para respostas de demandas de imprensa e, principalmente, para a preparação de pessoas para o comparecimento em Comissões Parlamentares de Inquérito”, diz a nota.

A Folha não conseguiu localizar a defesa de Peregrino. Os advogados de Braga Netto preferiram não se manifestar. Em nota divulgada no sábado, a defesa do general disse que se pronunciará nos autos do processo.

“Com a crença na observância do devido processo legal, teremos a oportunidade de comprovar que não houve qualquer obstrução as investigações”, concluiu.

Coronel de infantaria, formado na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1989, Peregrino deixou em 2018 os comandos de batalhões para trabalhar no Centro de Comunicação Social do Exército. Em 2019, acompanhou o seu antigo chefe, general Otávio Rêgo Barros, quando ele foi nomeado para ser o porta-voz do governo Bolsonaro.

Mesmo com a demissão do porta-voz no segundo ano de governo, Peregrino ficou. Participou das gestões de Braga Netto na Casa Civil e no Ministério da Defesa.

Cézar Feitoza/FolhapressPoliticaLivre

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