Publicado em 3 de janeiro de 2024 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Como diria Ataulfo Alves, a incompetência dessa gente é uma arte. Quando o mercado financeiro e o empresariado passaram a apoiar o governo incondicionalmente, em função dos avanços dos índices, que quase fizeram o Brasil ser laureado como “o país do ano”, troféu ganho pela Grécia, o próprio presidente Lula da Silva decide mergulhar o país numa grave crise, que pode levar à demissão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o grande fiador do governo junto à iniciativa privada.
Ao invés de aproveitar o momento propício e iniciar o segundo ano de mandato em grande estilo, Lula está jogando tudo por terra, ao mandar o PT atacar a política econômica, através de seus serviçais – Gleisi Hoffmann, presidente do partido, seu companheiro Lindbergh Farias e o líder do governo José Guimarães, aquele deputado dos dólares na cueca.
BATENDO PESADO – Desde o início do governo, Lula vem se manifestando contra o teto de gastos e o déficit zero. Cansou de criticar, porque ninguém levava a sério suas “teorias”; a equipe econômica, liderada por Haddad e Bernard Appy, secretário de Reforma Tributária, nem lhe dava atenção e simplesmente seguia adiante.
Lula, é claro, sentiu-se desprestigiado, Como explicar a Janja da Silva que seus principais auxiliares não obedecem às suas ordens? E assim o presidente passou à ofensiva, escondido atrás de seus três mosqueteiros (ou três patetas), que estão atacando Haddad impiedosamente desde a reunião do Diretório Nacional do PT em Brasília, dia 8 de dezembro.
A pauta do encontro, com mais de mil participantes, era a estratégia das eleições municipais. Sentado à mesa diretora ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o ministro da Fazenda foi surpreendido quando a deputada passou a ler uma Resolução da Executiva do PT contra o arcabouço fiscal, o teto de gastos e o déficit zero.
JOGADO ÀS FERAS – Haddad, que se preparara para falar sobre estratégia eleitoral, teve de mudar a pauta e ensinar economia a quem nada entende do assunto. Explicou que nas gestões anteriores de Lula, em que houve superávit primário de 2%, a economia cresceu, em média, 4%.
“Não é verdade que déficit faz crescer. De dez anos para cá, a gente fez R$ 1,7 trilhão de déficit e a economia não cresceu. Não existe essa correspondência, não é assim que funciona a economia”, tentou esclarecer o ministro, enquanto Gleisi Hoffmann fazia caras e bocas, tentando ridicularizá-lo.
Haddad não recuou e neste final de ano deu uma longa entrevista ao Globo defendendo a política econômica. Lula então ficou furioso e mandou Gleisi, Lindbergh e Guimarães reforçarem os ataques, para enfraquecer o ministro, que é o grande destaque do governo. E a ofensiva começou nesta terça-feira, no Estadão.
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P.S. 1 – É claro que isso não pode acabar bem. Desestabilizar Haddad significa perder o apoio do mercado financeiro, dos investidores e dos empresários. A dívida pública vai aumentar e o Banco Central terá de aumentar os juros, para financiá-la. Portanto, sob influência de Janja da Silva, que se julga uma sumidade intelectual, este governo não vai longe.
P.S. 2 – Dá saudades de dona Marisa Letícia e de Rosemary Noronha, que exerceram a função de primeiras-damas sem se intrometerem no governo. Dona Marisa morreu, mas Rosemary continua por aí, como um pote até aqui de mágoa, mas as finanças vão bem, pois o ex-companheiro não deixa que nada falte a ela. Como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. (C.N.)