Segunda-Feira, 29/01/2024 - 07h30
Por Fernando Duarte
O PT deixou claro que abriu mão da candidatura em Salvador em prol da unidade desejada pelo governador Jerônimo Rodrigues em torno do vice, Geraldo Jr. (MDB). No entanto, isso não quer dizer que nos petistas não exista a espera de algum de contrapartida ou reciprocidade. A parte mais visível é a retirada da candidatura da vereadora Lúcia Rocha (MDB) para que o deputado federal Waldenor Cardoso (PT) seja o nome do grupo político em Vitória da Conquista. Porém a conta inclui também a vaga aberta no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), a qual o PT tem a candidatura de Paulo Rangel.
Em Conquista, Lúcia lidera as pesquisas de opinião e, por meio de declarações na imprensa, o MDB faz questão de valorizar esse passe. Depois de duas vitórias consecutivas do partido na cidade com Herzem Gusmão, o município deu demonstrações que preferia não ter o PT no poder. Com base nisso, os emedebistas insistem na tese que não há barganha e que a relação em Salvador não impacta no processo decisório conquistense.
Para quem conhece correlação de forças na política, a matemática é bem mais simples do que parece. Como as chances do PT vencer em Salvador eram pequenas, mais fácil investir em cidades como Conquista, por isso a insistência para que Waldenor não precise enfrentar alguém como Lúcia Rocha nas urnas. Ainda assim, as investidas vão continuar para que, na hora de partilhar o bolo, o MDB não fique com as migalhas - a vice, por exemplo, não contemplaria totalmente os desejos do partido e um naco grande da prefeitura (ou do governo) pode ser cedido para atingir o intento do acordo.
Isso sem levar em consideração do simbolismo que seria o retorno do PT ao poder em Conquista, principal cidade baiana governada pelo partido até aqui. O enfrentamento à prefeita Sheila Lemos é, na avaliação dos interlocutores, o menos difícil a ser feito. Lúcia Rocha é que seria o grande calo petista, razão pela qual os embates públicos e nos bastidores continuam a acontecer. Especialmente porque outros dois polos considerados importantes, Feira de Santana e Camaçari, os petistas largariam com maior confiança na vitória e a pacificação é mais tranquila.
Esse é o cenário para Vitória da Conquista. Já para a vaga do TCM, há interlocutores que garantem que Rangel está garantido, ainda que Fabrício Falcão (PCdoB) seja da base governista e tenha apresentado candidatura. O petista é deputado experimentado e segue sendo discreto no processo eleitoral que pode garantir um cargo vitalício a ele. Pesa contra ele exatamente o fato que dois petistas foram indicados recentemente para a Corte, Nelson Pelegrino e Aline Peixoto. É onde Fabrício ainda deposita confiança e até mesmo Marcelo Nilo, uma espécie de azarão da oposição, se fia para tentar chegar ao TCM.
É lógico que ninguém vai tratar publicamente sobre essas negociações de contrapartida. É algo que circula apenas nos meios mais influentes da política e que não estarão a olhos vistos do eleitorado, pois um mínimo de pudor permanece a existir em parte da política. O PT tem o direito de reivindicar esses espaços após deixar o caminho livre para a candidatura de Geraldo Jr. Só que não necessariamente vai ser fácil realizar todos os desejos.