Por Cézar Feitoza | Folhapress
A Polícia Federal negou o pedido do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para repassar informações sobre o encontro de militares com o hacker Walter Delgatti na sede da pasta, em 2022.
A negativa foi formalizada em ofício encaminhado pela PF ao Ministério da Defesa. No texto, assinado pelo delegado Luiz Eduardo Navajas Telles Pereira, a corporação diz que o inquérito que investiga a ida de Delgatti está sob sigilo no STF (Supremo Tribunal Federal).
"Cumprimentando-o, e fazendo referência ao seu OFÍCIO N° 21925/CH GAB MD/GM-MD, informo que o Senhor Walter Delgatti foi ouvido em Inquérito Policial sigiloso, em trâmite perante o Supremo Tribunal Federal sob presidência do Ministro Alexandre de Moraes. Dessa maneira, eventual requerimento de informações deverá ser dirigido ao Ministro Presidente do feito", limita-se a dizer Pereira no ofício.
Com a resposta da PF, Múcio enviou um ofício ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, solicitando autorização para o compartilhamento das informações. O titular da Defesa espera, com isso, identificar os militares que se reuniram com Delgatti e definir punições, caso os oficiais tenham extrapolado suas funções.
Após a resposta negativa da PF —e em meio ao clima de acirramento entre militares e a Polícia Federal—, Múcio se reuniu nesta quarta-feira (23) com o ministro da Justiça, Flávio Dino, para conversar sobre o caso.
No almoço, Dino reforçou que a PF não enviará os nomes dos militares. Afirmou, ainda, que as Forças Armadas poderão tomar providências após a conclusão do inquérito no STF.
"Há uma ideia de deixar as investigações caminharem nos termos da lei e, no tempo certo, as Forças Armadas, com sua autonomia organizativa, irão tomar as providências que forem necessárias. Não há agonia, precipitação, porque há consenso de que as pessoas que erraram e cometeram crimes —civis ou militares— serão punidas", disse o ministro da Justiça após o encontro.
Dino disse que as investigações não têm o objetivo de descredibilizar as Forças Armadas. "Nós temos a compreensão de separar o que são condutas institucionais de condutas individuais", afirmou.
"Temos que lembrar também que o comandante-em-chefe das Forças Armadas é o presidente da República. Claro que, em período passado, o presidente pode não ter dado ordens corretas, e isso pode ter gerado que alguns membros das Forças Armadas tenham cometido erros ou crimes. Estamos nesse trabalho, mostrando que não há na investigação conduta das Forças Armadas, mas sim de militares", concluiu Dino.
Em depoimento à CPI do 8 de Janeiro, na quinta-feira (17), Delgatti afirmou que foi levado ao Ministério da Defesa por ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para auxiliar a equipe de técnicos das Forças Armadas que fiscalizavam o processo eleitoral.
Na versão do hacker, ele teria ido cinco vezes ao prédio da Defesa e se reunido uma vez com o então ministro Paulo Sérgio Nogueira. Ele ainda teria ajudado a analisar trechos do código-fonte das urnas eletrônicas, mesmo sem acesso ao sistema. Ele conta que militares teriam decorado partes das dezenas de milhares de linhas de programação e relatadas ao hacker.
Dois militares que integravam a equipe de técnicos afirmaram à Folha de S.Paulo, sob reserva, que a versão de Walter Delgatti mistura relatos verdadeiros com mentiras e fantasias.
Eles confessam que o hacker esteve no Ministério da Defesa em 10 de agosto. Ele chegou ao prédio pelo subsolo, numa entrada pelos fundos, acompanhado do então assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara —coronel da reserva.
Ele teria sido recebido por um dos militares que integrava a equipe de fiscalização do sistema eleitoral. A conversa demorou cerca de 20 minutos, segundo os relatos. O oficial percebeu durante a interação que Delgatti não conhecia o sistema eleitoral com profundidade e, por isso, alegou aos pares que ele não teria nada a acrescentar.
Os militares ainda afirmam que o hacker foi enviado ao Ministério da Defesa por ordem de Bolsonaro e que, em primeiro momento, não haviam percebido que o programador era o pivô do vazamento das conversas entre procuradores do Ministério Público Federal e o ex-juiz Sergio Moro.