Também em 2021, enquanto ainda estava envolvida nesta grande investigação, comecei a apurar denúncias de abusos e estupros de crianças e adolescentes que teriam sido praticados por mestres de um dos maiores grupos de capoeira do Brasil, o Cordão de Ouro. Entre os acusados estava o próprio fundador, o mestre Suassuna, uma referência na modalidade. A reportagem rompeu anos de silêncio de dezenas de sobreviventes e suas famílias. Pessoas que nunca tinham falado antes por vergonha e medo.
Este ano, ex-alunas de um renomado catedrático e intelectual da língua portuguesa também conseguiram romper o ciclo de violência em que estavam inseridas dentro da Universidade de Coimbra, em Portugal. Os relatos de assédio sexual do professor Boaventura de Sousa Santos – denunciados inicialmente por pesquisadoras que ouviram essas mulheres em condição de anonimato – tinham sido sufocados por décadas, graças ao prestígio do acadêmico português. Afinal, quem acreditaria na palavra de estudantes contra um escritor reconhecido mundialmente, ativista de causas progressistas?
A deputada Bella Gonçalves (PSOL-MG) decidiu denunciar o professor em uma entrevista para a Agência Pública. Por causa do assédio que sofreu quando ela era orientanda de Boaventura, Bella perdeu a bolsa de doutorado fora do país, atrasou seus estudos e sofreu impactos psicológicos. No final da nossa conversa, Bella me agradeceu pela oportunidade de ser ouvida depois de tantos anos.
Claro que é difícil comparar um grande empresário do varejo com um intelectual famoso ou com mestres de capoeira, mas há uma costura comum a todas essas histórias: a certeza da impunidade é o refúgio dos poderosos.
Ao investigar todos esses casos, percebi que, no fundo, eu sempre estava contando uma mesma história: a de homens que se aproveitavam de sua posição de poder para cometer crimes sem serem punidos. Eles se escondem atrás do dinheiro, dos cargos, de uma posição hierárquica privilegiada, de um lugar de
Mariama da Agência Pública <aliados@apublica.org> Cancelar inscrição |
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autoridade. O patriarcado trabalha a seu favor.
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