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sábado, agosto 05, 2023

A impunidade é o refúgio dos poderosos


Dois anos atrás, fizemos uma grande investigação que revelou as denúncias de crimes sexuais que teriam sido cometidos por um dos maiores empresários do Brasil, o fundador da Casas Bahia, Samuel Klein. 

Por décadas, Klein teria mantido um esquema de aliciamento de meninas de 9 a 17 anos para exploração sexual. Isso significa que ele teria oferecido dinheiro, presentes e outras regalias para que essas meninas – muitas em situação de vulnerabilidade social – se submetessem a abusos sexuais. De acordo com as denúncias, os abusos aconteciam até dentro da sede da Casas Bahia, em um quartinho anexo ao escritório do empresário. 

Ao longo de meses, reunimos dezenas de relatos de sobreviventes, centenas de documentos, processos, vídeos e fotos que comprovavam a história. Era difícil imaginar como Samuel Klein tinha conseguido esconder essas evidências por tanto tempo. Muitas das pessoas que ouvimos diziam: “todo mundo sabia, mas ninguém fazia nada”. 

Até a sua morte, em 2014, Klein manteve uma imagem pública imaculada de empresário de sucesso, um exemplo de homem a ser seguido. Segundo os relatos que ouvimos, ele teria usado seu poder e dinheiro para comprar o silêncio de sobreviventes, de ex-funcionários e até de agentes da Justiça. 

Essas suspeitas estão entre as perguntas ainda não respondidas sobre o Caso Samuel Klein. É por essas e por outras que queremos voltar a investigar esse caso e continuar contando essa história, dessa vez em podcast. Você pode nos ajudar nessa missão fazendo uma doação para a Pública hoje. 

 
O BRASIL PRECISA CONHECER ESTA HISTÓRIA
Também em 2021, enquanto ainda estava envolvida nesta grande investigação, comecei a apurar denúncias de abusos e estupros de crianças e adolescentes que teriam sido praticados por mestres de um dos maiores grupos de capoeira do Brasil, o Cordão de Ouro. Entre os acusados estava o próprio fundador, o mestre Suassuna, uma referência na modalidade. A reportagem rompeu anos de silêncio de dezenas de sobreviventes e suas famílias. Pessoas que nunca tinham falado antes por vergonha e medo. 

Este ano, ex-alunas de um renomado catedrático e intelectual da língua portuguesa também conseguiram romper o ciclo de violência em que estavam inseridas dentro da Universidade de Coimbra, em Portugal. Os relatos de assédio sexual do professor Boaventura de Sousa Santos – denunciados inicialmente por pesquisadoras que ouviram essas mulheres em condição de anonimato – tinham sido sufocados por décadas, graças ao prestígio do acadêmico português. Afinal, quem acreditaria na palavra de estudantes contra um escritor reconhecido mundialmente, ativista de causas progressistas? 

A deputada Bella Gonçalves (PSOL-MG) decidiu denunciar o professor em uma entrevista para a Agência Pública. Por causa do assédio que sofreu quando ela era orientanda de Boaventura, Bella perdeu a bolsa de doutorado fora do país, atrasou seus estudos e sofreu impactos psicológicos. No final da nossa conversa, Bella me agradeceu pela oportunidade de ser ouvida depois de tantos anos. 

Claro que é difícil comparar um grande empresário do varejo com um intelectual famoso ou com mestres de capoeira, mas há uma costura comum a todas essas histórias: a certeza da impunidade é o refúgio dos poderosos. 

Ao investigar todos esses casos, percebi que, no fundo, eu sempre estava contando uma mesma história: a de homens que se aproveitavam de sua posição de poder para cometer crimes sem serem punidos. Eles se escondem atrás do dinheiro, dos cargos, de uma posição hierárquica privilegiada, de um lugar de

Mariama da Agência Pública aliados@apublica.org Cancelar inscrição

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autoridade. O patriarcado trabalha a seu favor. 

No entanto, quando muitas vozes se erguem juntas, elas soam mais alto e fica impossível negá-las. O jornalismo da Pública continuará amplificando essas vozes, sempre que for preciso. E contamos com a sua ajuda para isso! Apoie o jornalismo que ouve as vítimas, rompe o silêncio e não tem medo de investigar os poderosos. Apoie a Pública hoje.  

 
ESTOU DO LADO DO JORNALISMO QUE ROMPE SILÊNCIOS
Por fim, um convite: na próxima segunda-feira, 7 de agosto, às 18h, faremos uma live no Youtube e no Instagram para debater como a Pública já investigou casos de homens poderosos acusados de violência sexual, como Samuel Klein, Arthur Lira e Boaventura de Sousa Santos. Estarei ao lado de outros membros da equipe para discutir os desafios desse tipo de cobertura e responder perguntas. Nos vemos lá! 
 
Um abraço,

Mariama Correia
Editora da Agência Pública

 

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