A entrada de Jequié, na Bahia, cidade mais violenta do país em 2022 entre municípios acima de 100 mil habitantes
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgou hoje a lista com os 50 municípios mais violentos do Brasil. Foram incluídas na pesquisa só cidades com mais de 100 mil habitantes, e quase metade (23) está no Nordeste, sendo 12 delas na Bahia. (Veja lista mais abaixo).
Jequié lidera a lista das cidades mais violentas do país
O município do Brasil com maior taxa de mortes violentas intencionais foi Jequié (BA), com 141 registros e uma incidência de 88,8 casos desse tipo por 100 mil habitantes. Uma faixa que vai dessa cidade até a área metropolitana de Salvador (BA) abriga as quatro cidades mais perigosas do país, que também incluem Santo Antônio de Jesus (2ª), Simões Filho (3ª) e Camaçari (4ª).
A capital baiana está em 12º lugar no ranking nacional, com taxa de 66 mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes. A Bahia tem cidades no ranking também no Sul, Oeste e Norte do estado.
Rio de Janeiro é o único estado do sudeste que aparece na lista
As outras regiões do país também têm municípios que figuram na lista. A região Sul teve cinco (três paranaenses e dois gaúchos), e o Centro-Oeste teve um (Sorriso, no Mato Grosso).
O Norte se destacou com uma área preocupante também, com 12 cidades na lista, incluindo as capitais Manaus, Porto Velho e Macapá. No Sudeste, o Rio de Janeiro é o único estado que figura na relação, com seis municípios entre os 50 mais violentos.
Média dos últimos 3 anos
Para o ano de 2021, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública havia publicado um ranking das 30 cidades mais violentas usando um critério diferente, calculando uma média entre os últimos 3 anos. Quase todas tiveram taxas altíssimas (acima de 100/100 mil), mas eram todos municípios com menos de 40 mil habitantes.
É difícil avaliar se houve algum deslocamento do fenômeno, mas o Nordeste também havia dominado aquela lista com dois terços das cidades listadas.
Bahia registra mais de 6000 mortes violentas anuais
A Bahia é um dos estados que não tem conseguido reduzir de maneira consistente os homicídios no longo prazo. Apesar de uma queda de 6% em relação a 2021, o estados sempre apareceu na série histórica de 12 anos registrando mais de 6000 mortes violentas anuais. Estados como Alagoas e Paraíba, por outro lado, estão conseguindo derrubar suas taxas de homicídios.
— Na Bahia a gente tem uma questão bem diferente dos outros estados do Nordeste. O Nordeste acaba puxando a queda nas mortes violentas intencionais, mas a Bahia aparece neste ano entre os dois estados com maior taxa — afirma Talita Nascimento, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. (O campeão da violência em 2022 foi o Amapá, no Norte.)
O que influencia nas altas taxas de mortalidade?
Segundo a especialista em direito penal, uma das razões para a alta nas mortes na zona de influência de Salvador são os eventos de confronto com policiais.
— A Bahia tem um número de letalidade policial grande, com uma politica de segurança pública ainda bem focada em atividades truculentas, que não mostra resultados positivos no longo prazo — diz. — Não é matando mais que se produz mais sensação de segurança.
Rota do narcotráfico e presença do crime organizado
Jequié é um dos locais que ilustram essa situação. Situado num trajeto de rota do narcotráfico e com presença do crime organizado, o município é palco de muitas operações de apreensão de drogas e armas, várias delas terminando em mortes.
Em maio passado, a polícia militar matou quatro homens armados após uma troca de tiros em um condomínio onde estavam escondidos na periferia da cidade. Em outubro, outros dois foram perseguidos após reagirem a uma abordagem policial e mortosdentro de um hotel na cidade. Durante o período, houve registros de mortes, em mais de uma dezena de casos noticiados pela TV Sudoeste, afiliada da TV Globo que cobre a região. Algumas foram aparentes confrontos de facções.
O mesmo perfil de violência parece se repetir em outras regiões onde o crime organizado está presente e a polícia concentra sua atividade em ações armadas. É o caso das regiões metropolitanas do Recife e do Rio de Janeiro.
Os 50 mais violentos
Os municípios e suas taxas de homicídio por 100 mil habitantes
Jequié (BA) – 88.8
Santo Antônio de Jesus (BA) – 88.3
Simões Filho (BA) – 87.4
Camaçari (BA) – 82.1
Cabo de Santo Agostinho (PE) – 81.2
Sorriso (MT) – 70.5
Altamira (PA) – 70.5
Macapá (AP) – 70
Feira de Santana (BA) – 68.5
Juazeiro (BA) – 68.3
Teixeira de Freitas (BA) – 66.8
Salvador (BA) – 66
Mossoró (RN) – 63.5
Ilhéus (BA) – 62.1
Itaituba (PA) – 61.6
Itaguaí (RJ) – 61.6
Queimados (RJ) – 61.2
Luís Eduardo Magalhães (BA) – 56.5
Eunápolis (BA) – 56.3
Santa Rita (PB) – 56
Maracanaú (CE) – 55.9
Angra dos Reis (RJ) – 55.5
Manaus (AM) – 53.4
Rio Grande (RS) – 53.2
Alagoinhas (BA) – 53
Marabá (PA) – 51.8
Vitória de Santo Antão (PE) – 51.5
Itabaiana (SE) – 51.2
Caucaia (CE) – 51.2
São Lourenço da Mata (PE) – 50.3
Santana (AP) – 49.4
Paragominas (PA) – 49.3
Patos (PB) – 47.5
Paranaguá (PR) – 47.3
Parauapebas (PA) – 46.9
Macaé (RJ) – 46.7
Caxias (MA) – 46.5
Parnaíba (PI) – 46.3
Garanhuns (PE) – 44.9
São Gonçalo do Amarante (RN) – 44.9
Alvorada (RS) – 44.8
Jaboatão dos Guararapes (PE) – 44.6
Duque de Caxias (RJ) – 44.3
Almirante Tamandaré (PR) – 44.2
Castanhal (PA) – 44.2
Campo Largo (PR) – 43.3
Porto Velho (RO) – 42.1
Ji-Paraná (RO) – 41.8
Belford Roxo (RJ) – 41.8
Marituba (PA) – 41.6
Por Rafael Garcia
O Globo / Daynews