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segunda-feira, julho 24, 2023

Centrão é um pêndulo fisiológico entre o poder de ontem e o poder de hoje


Charge do Gilmar Fraga (https://gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

Numa entrevista a Sérgio Roxo, O Globo deste domingo, o ministro Flávio Dino afirma que é importante o apoio do Centrão ao governo Lula da Silva na medida em que funciona para ampliar a base parlamentar do Planalto principalmente em seu projeto de reformas estruturais que sustentam o programa de recuperação da economia e desenvolvimento social.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, a meu ver, não deixa de ter razão, sobretudo porque, no fundo, o Centrão não pode ser considerado um bloco parlamentar conservador, pois na verdade representa uma corrente voltada para a ação fisiológica cujo conteúdo nem sempre diverge da ideia política do atual governo.

MAIOR ESPAÇO – O Centrão busca sempre maior espaço e presença nas decisões administrativas que resultem em votos e também na defesa dos interesses econômicos de várias colorações decorrentes dos impulsos da máquina pública. Até hoje, na verdade, como se constata facilmente,  o presidente Lula não perdeu nenhuma votação no Congresso Nacional.

Todos os seus projetos foram aprovados, inclusive os de reforma constitucional que exige um quórum especial de maioria de três quintos, tanto na Câmara quanto no Senado Federal. O último exemplo está na reforma tributária, com o apoio de Arthur Lira, presidente da Casa, que alcançou 380 no total de 513 votos. O governo assim navega em águas mansas do quadro político e, portanto, não tem razões para se preocupar.

Há uma lógica no posicionamento do Centrão que lembra o antigo PSD de Ernane do Amaral Peixoto e Benedito Valadares. Uma vocação irresistível para o poder, mas cujo apoio no Poder Legislativo assegurava equilíbrio no panorama nacional. O PSD era um partido de sólida base rural e um fator de equilíbrio com o avanço no PTB nas áreas urbanas do país, reflexo da industrialização desencadeada em larga escala pelo governo Juscelino Kubitschek que modernizou o Brasil, alterando seu perfil econômico.

MAIORIA – Para governar, princípio sempre defendido por Amaral Peixoto, é preciso alcançar-se maioria parlamentar. Ela faltou a Getúlio Vargas na crise de 1954 e o resultado foi a tragédia de 24 de agosto. Mas ela não faltou ao homologar de bate pronto na renúncia de Jânio Quadros. Renúncia é um ato de vontade pessoal, não pode estar sujeita à apreciação partidária. Mas isso pertence ao passado.

No momento, a realidade política é diferente da realidade dos tempos em que a política era debatida em outros níveis. Hoje, como deixa claro Flávio Dino, a política é de resultados nas superfícies e não em sua maior profundidade. Há conservadores, como é o caso de Arthur Lira, mas o conservadorismo que tem sua base em redutos eleitorais, não impede que seus representantes votem a favor de matérias reformistas. O Centrão, portanto, desempenha um papel essencial no panorama político, inclusive porque  com a sua oscilação pendular, ele termina conduzindo o conservadorismo para áreas restritas ocupadas pelos extremistas.

Exemplo máximo de tal situação, encontra-se no 8 de janeiro de 2023. Uma investida subversiva para desfechar um golpe contra o governo Lula e a democracia brasileira. Tal colocação diretamente funciona para permitir que integrantes de correntes moderadas da oposição terminem se aliando à situação. O argumento ajusta-se ao pleno equilíbrio institucional, sobretudo porque com uma ditadura o Centrão perderia a sua razão de existir.

8 DE JANEIRO –  Gabriel Saboia e Eduardo Gonçalves, O Globo deste domingo, publicam reportagem importante destacando que pelo menos oito órgãos do governo foram alertados às vésperas do drama do 8 de janeiro através de informação da Agência Brasileira de Inteligência que havia recebido bases concretas sobre o que se encontrava em curso. A revelação deixa muito mal os titulares de setores do sistema de Segurança, levantando a hipótese de omissão e conivência.

De fato, penso, não é possível que um movimento que se baseou no transporte de milhares de pessoas para Brasília, a convergência de ônibus à capital do país, e na violência transmitida aos passageiros das rebeldias e das inconsequências pudessem ter sido ignorados de sua origem até a concretização do vandalismo.

A reportagem, sem dúvida, ilumina as sombras que poderiam estar ocultando as lideranças do imundo episódio voltado para a destruição através da violência física, buscando criar um falso clima que pudesse ser capaz de fazer o governo desmoronar. O desmoronamento, ao contrário, atingiu os seus idealizadores e executores.  

 

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