Ignorando seu papel de chefe de Estado, presidente falta à celebração dos 200 anos da Independência no Congresso Nacional
O Congresso Nacional se reuniu ontem em sessão solene para celebrar os 200 anos da Independência do Brasil do Reino de Portugal. Fiel à sua notória falta de compreensão do cargo que ocupa, o presidente Jair Bolsonaro faltou à cerimônia, em que estavam os presidentes dos demais Poderes e o presidente de Portugal. A ausência de Bolsonaro não surpreende, mas envergonha. Temos um presidente que ignora o simbolismo da Presidência nos seus aspectos mais comezinhos.
Bolsonaro já havia enxovalhado a Presidência no dia anterior, quando protagonizou o vexame internacional de transformar a data do Bicentenário da Independência em ocasião para comício eleitoral. A esperada captura do 7 de Setembro por Bolsonaro, que explorou a estrutura paga com dinheiro público para fins privados, afastou da mais importante celebração cívica brasileira os representantes do Legislativo e do Judiciário, que sabiamente não se deixaram confundir com os animados militantes bolsonaristas.
Por conta disso, o verdadeiro 7 de Setembro acabou acontecendo no dia 8 – mais uma evidência da insanidade que tomou o País desde a vitória eleitoral de Bolsonaro em 2018. Foi no Congresso, a instância de representação institucional da sociedade brasileira, que se deu a efetiva comemoração pelo Bicentenário.
A ausência do presidente do Brasil na celebração da Independência do País no Congresso foi notada por todos, obviamente, mas não sentida. Bolsonaro é o que é, uma figura recalcitrante em sua postura indecorosa e em seu desleixo com as obrigações que o cargo lhe impõe. Resta esperar que quem lhe suceder resgate o simbolismo e a dignidade da Presidência da República.
O Palácio do Planalto não divulgou por que motivo Bolsonaro não compareceu à cerimônia no Congresso e nem se dignou a enviar uma nota, como o fizeram os ex-presidentes Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, igualmente ausentes. Os ex-presidentes José Sarney e Michel Temer marcaram presença.
Sabe-se que, no momento da sessão solene, Bolsonaro estava reunido com um grupo de apoiadores no Palácio da Alvorada. Isso sinaliza o que todos já estão cansados de saber: que Bolsonaro não governa para os brasileiros, mas apenas para aqueles que o chamam de “mito” e que o “autorizam” a chamar as Forças Armadas para fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Um dia depois que Bolsonaro, no alto de um carro de som, conclamou seus seguidores a “extirpar” os petistas da vida pública, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, advertiu que o direito ao voto “não pode ser exercido com desrespeito, em meio a discurso de ódio, com violência e intolerância em face dos desiguais”.
“A história não é destino, mas a compreensão de nossas origens que forma nossos horizontes”, disse o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, em seu pronunciamento. Tão amplos e alvissareiros serão nossos horizontes quanto profunda for a reflexão dos eleitores sobre o que ocorreu no País nos últimos quatro anos – e que Brasil queremos construir para o futuro.
O Estado de São Paulo