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sábado, setembro 10, 2022

A direita que grita




Bolsonaro reafirma seu poder de arrebatar multidões e deve continuar influindo na política mesmo que perca as eleições. 

Por Carlos Graieb (foto)

Durante o 7 de Setembro, Jair Bolsonaro conseguiu levar, mais uma vez, multidões de apoiadores para as ruas de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais. Essa exibição de força política levanta duas questões. A primeira diz respeito às eleições que se aproximam; a segunda, ao futuro do bolsonarismo.

Na noite de quarta-feira, o QG de Bolsonaro estava exultante. A campanha tem dados mostrando que, quando critica o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, ou insulta ministros do STF e do TSE, Bolsonaro faz sucesso entre os seus seguidores fanáticos, mas exaspera os eleitores indecisos.

Nos dias que antecederam o 7 de Setembro, um grande esforço foi feito para convencer Bolsonaro a evitar esses assuntos. Com o microfone na mão, ele ainda incentivou suas plateias a vaiar integrantes do STF e ameaçou “enquadrar quem joga fora das quatro linhas da Constituição”. Mas Bolsonaro não disse nada que se equiparasse, em virulência, ao seu discurso na mesma data, em 2021. Daí a comemoração dos assessores.

Não espantar o eleitorado, no entanto, não é o mesmo que conquistá-lo. Quais outros benefícios Bolsonaro pode extrair das celebrações do Bicentenário da Independência?

Ao contrário do que seria de esperar numa data histórica, os discursos do presidente em Brasília e no Rio de Janeiro não lançaram nenhuma luz sobre o passado, nem projetaram uma imagem inspiradora do futuro – daquilo a que o Brasil pode aspirar.

As poucas frases ditas sobre economia não serão lembradas por aqueles que mais precisam da ajuda do governo – os 33 milhões de esfaimados do país – nem pelo imenso contingente de eleitores com renda entre dois e cinco salários mínimos que ainda não têm firmeza em sua escolha de candidato.

As mulheres que se decepcionaram com o trabalho de Bolsonaro – especialmente durante a pandemia, quando ele deixou escancarada sua falta de empatia – dificilmente encontrarão em suas palavras qualquer motivo para reelegê-lo.

De tudo que Bolsonaro disse ao longo do dia, já se sabe o que ficou marcado: o coro de “imbrochável” que o ele puxou, exaltando a si próprio e à sua – suposta – potência sexual.A maneira como Bolsonaro sequestrou as comemorações do Bicentenário, transformando-as em um evento de campanha, também pode acabar se voltando contra ele.

Na própria quarta-feira, diversos partidos acionaram o TSE, alegando que o desfile cívico-militar de Brasília e as apresentações de navios e paraquedistas no Rio de Janeiro se confundiram completamente com os comícios que vieram em seguida, configurando abusos de poder político e uso de recursos públicos em proveito próprio. O que se pretende obter é a inelegibilidade de Bolsonaro.

Ainda que esse desfecho jurídico não aconteça, a demonstração de que o presidente não teve nenhum escrúpulo em usar a máquina pública em seu favor pode prejudicá-lo. As imagens falam por si próprias. Não é difícil para ninguém perceber que, ao contrário de qualquer outro ano, cidadãos que não rezam pela cartilha do bolsonarismo não se sentiriam à vontade, nem seriam bem-vindos, nos festejos nominalmente “públicos” de 2022.

Na verdade, as imagens de multidões vestidas de verde e amarelo, exibindo faixas e entoando gritos de apoio a Bolsonaro, são mesmo o único troféu que sua campanha conquistou no 7 de Setembro.

Não existem estimativas oficiais para o tamanho das reuniões de bolsonaristas nas três principais capitais onde elas aconteceram. Usando fotos aéreas e modelos de ocupação do espaço em grandes eventos, pesquisadores da Universidade de São Paulo estimaram em 32 mil pessoas a presença em São Paulo e em 64 mil, a presença no Rio de Janeiro.

Com método semelhante, o site Poder 360 calculou que o número de apoiadores de Jair Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, foi um pouco maior do que cem mil pessoas. Os bolsonaristas acham pouco.

Na quarta-feira, o locutor de rodeios Cuiabano Lima, convocado para animar o comício de Bolsonaro na capital federal, foi instruído a multiplicar por dez o número de presentes (assista o vídeo, acima). “Aqui hoje na Esplanada, mais de 100 mil pessoas”, disse Lima, com seu chapelão de cowboy. Imediatamente, um militar emergiu do fundo do palco – era o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do presidente – e sussurrou algumas palavras no ouvido do locutor. Que logo mudou o discurso: “Aqui na minha frente, cem mil. Mas, em toda a Esplanada, chegaram os dados, um milhão de pessoas! Um milhão de brasileiros, levantem as mãos!”

O bolsonarismo deve se agarrar a esse número inflado. Ele dará suporte à narrativa prevista para as próximas três semanas: a de que o “datapovo”, baseado no olhômetro e nas conversas entre amigos, diz a verdade, enquanto os institutos de pesquisa – pelo menos aqueles que continuarem mostrando Bolsonaro atrás de Lula em intenções de voto – mentem.

É preciso reconhecer, contudo, que, ainda que não lhe garantam uma vitória em outubro, essas imagens de gente nas ruas dão a Bolsonaro algo que nenhum outro político brasileiro – nem mesmo Lula – tem atualmente: uma prova de que ao seu redor se articula um movimento político coeso, sempre pronto a responder a um chamado e com alguns objetivos claros.

Por muitos anos, Lula e o PT é que puderam se gabar disso. A situação começou a mudar durante as manifestações de 2013, quando ficou claro que o partido e seus satélites (especialmente os sindicatos) já não podiam se apresentar como porta-vozes exclusivos da vontade popular. A eclosão da Lava Jato, em 2014, e as grandes passeatas que se repetiram dali em diante, até o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, desbancaram de uma vez por todas a esquerda dessa posição de que ela julgava ser dona.

O fato de que grandes sindicados, depois de algum tempo, precisaram oferecer sanduíches aos participantes de seus eventos de apoio a Dilma, para convencê-los a comparecer, adicionou uma expressão ao nosso léxico político: “mortadelas”, em referência aos militantes de esquerda. A reforma trabalhista empreendida por Michel Temer, que pôs um fim à contribuição sindical obrigatória, fez com que até mesmo manobras como essas se tornassem difíceis. As bandeiras de sindicatos estavam presentes tanto no lançamento da candidatura de Lula, em maio deste ano, quanto no seu primeiro evento de campanha, em agosto. Mas os dois eventos empalidecem diante a lembrança de outros comícios, nos tempos áureos do PT.

O bolsonarismo, atualmente, conta com apoio financeiro de alguns empresários como Luciano Hang, que ocupou um espaço de honra no palanque oficial de Brasília, desalojando inclusive o presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Souza, que ali estava. Conta, principalmente, com o apoio de líderes evangélicos. Foi o pastor Silas Malafaia, por exemplo, quem pagou pelo carro de som de onde Bolsonaro discursou na quarta-feira, no Rio de Janeiro. Mesmo assim, o presidente não dispõe de estruturas como os ricos sindicatos dos anos 1990 e 2000, para ajudar a organizar seus seguidores.

As redes sociais são as ferramentas de que ele necessita para mobilizar uma base social que, apesar de heterogênea, responde aos mesmos estímulos, como a defesa da família, das armas como meio de autodefesa e da pátria contra globalistas, comunistas e o que mais for.

Bolsonaro tem hoje algo entre 32% e 35% nas pesquisas de intenção de voto. Ainda que sua base fiel seja bem menor, da ordem de 20% ou 15% do eleitorado, trata-se de uma força política incontornável. Como mostrou mais uma vez o 7 de Setembro sequestrado, quando Bolsonaro chama, o seu povo acode. Pode ser que ele perca as eleições em outubro. Mas nem ele, nem o bolsonarismo deverão perder a voz – e nesse caso, o Brasil vai descobrir o que significa tê-los na oposição.

Revista Crusoé

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