Por Ekaterina Sinelschikova
Quatorze países estão envolvidos no projeto da Estação Espacial Internacional (na sigla em inglês, ISS), mas quem toma as decisões ali e como?
A Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) é o projeto mais caro e complexo do mundo. Ao longo de um período de mais de 20 anos, quase todas as potências espaciais participaram do trabalho ali e dezenas de pessoas estiveram na estação.
Ao mesmo tempo, a ISS foi objeto de controvérsia em diversas ocasiões. A mais recente é sobre o que fazer com a estação espacial após o término de sua vida útil. Até agora, foi acordado que a ISS será mantida em uso até 2024, mas seus principais usuários – a Rússia e os EUA – têm planos divergentes para seu futuro. Quem tem o direito de decidir sobre esta e outras questões?
De quem é a estação?
Como o nome sugere, a ISS é um projeto internacional conjunto. Hoje, 14 países participam dele: Rússia, EUA, Japão, Canadá e os seguintes Estados-membros da Agência Espacial Europeia: Bélgica, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Itália, Holanda, França, Noruega, Suíça e Suécia.
A estação é configurada em dois segmentos, o russo e o americano, que foram montados ao longo do tempo a partir de módulos. Cosmonautas russos e astronautas americanos geralmente trabalham em seus segmentos nacionais (embora não haja restrições de movimento na ISS).
Depois de 23 anos, a estação acabou com 15 módulos principais: seis deles são considerados russos, sete americanos, um europeu e outro japonês. O uso dos módulos é dividido aproximadamente da mesma maneira: a Rússia usa seus próprios módulos, enquanto o resto da estação espacial, conforme acordado pelas partes envolvidas, é compartilhado por americanos, europeus e japoneses, e há uma clara divisão em termos percentuais de quem pode trabalhar ali e por quanto tempo.
Apesar dessa distribuição de direitos altamente regulamentada quanto ao uso do ISS e de sua propriedade, sempre houve desvios às regras. O módulo russo Zarya (o primeiro a entrar em órbita), por exemplo, foi comissionado e pago pela Nasa, o que significa que ele ainda é propriedade da agência espacial dos EUA, mas, ao mesmo tempo, é considerado parte do segmento russo.
Além disso, após o término do programa do ônibus espacial em 2011, os americanos e astronautas de países parceiros da Nasa chegaram à estação exclusivamente a bordo da espaçonave russa Soiuz. Durante nove anos, a Rússia foi a única operadora de lançamentos tripulados, garantindo o acesso à estação espacial — que não pode funcionar sem a presença humana.
Quem é o responsável pela ISS?
O mecanismo de tomada de decisão é estabelecido em acordos conhecidos sob o título geral de "Memorando de Entendimento" (MOU). O principal princípio nele consagrado é que as decisões devem ser tomadas por consenso.
A questão é que seria problemático administrar um projeto tão complexo como a ISS convocando uma reunião internacional a cada vez que uma decisão precisasse ser tomada. É por isso que o MOU especifica que a Nasa é o gerente de programa indicado para a ISS. Isso significa que não há acordos diretos entre os países participantes, mas apenas com a Nasa.
A gestão da ISS (de seus segmentos e módulos) é dividida entre os Estados parceiros, mas os principais "controles" e a sala de controle de voo de toda a estação também ficam nos Estados Unidos, no Lyndon B. Johnson Space Center, no Texas. É a partir dali, em conjunto com especialistas em balística da Rússia, que são feitos os ajustes na trajetória da ISS, por exemplo - para evitar colisões com detritos espaciais e outros objetos. É ali também onde se encontra o "diretor de voo" - título dado à pessoa que supervisiona as operações da ISS.
Em órbita, também há uma linha de autoridade precisamente definida e uma cadeia de comando rígida. Na estação em si, há um comandante da ISS (um posto rotativo entre os estados parceiros). "O comandante é responsável pelo desempenho da missão e pela segurança da tripulação. Falando estritamente, esta frase simples define totalmente a gama de responsabilidades do comandante a bordo da ISS. Ao mesmo tempo, há muitos pontos mais delicados envolvidos", diz o cosmonauta russo Aleksandr Skvortsov, que já foi comandante da estação.
De maneira mais geral, todos sabem o que devem fazer em órbita e todos têm seu próprio programa. O comandante é necessário para tomar decisões importantes em caso de acidentes e emergências, mas também é subordinado ao diretor de voo em solo.
Quem paga pela ISS?
A ISS não tem um orçamento único que seja financiado por contribuições anuais de cada uma das partes. Além disso, parte das contribuições são pagas não em termos monetários, mas em forma de permuta - de serviços, lançamentos, trocas de equipamentos etc.
No entanto, é possível calcular os gastos aproximados de cada uma das partes e verifica-se que o principal encargo financeiro recai sobre os Estados Unidos. Ao longo dos anos de existência do ISS, o volume total de investimentos chegou a US$ 150 bilhões - desses, US $ 100 bilhões foram arcados pelos EUA.
De acordo com os números da Nasa, os gastos na ISS são de US$ 3 a 4 bilhões por ano. Os países da UE são responsáveis por menos de US$ 1 bilhão por ano. O Japão e o Canadá investem ainda menos. A Rússia aloca cerca de US$ 500 milhões para o projeto todos os anos.
Gazeta Russa