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sexta-feira, janeiro 07, 2022

Golpe de Trump contra a democracia fica sem punição - Editorial




Parte relevante da elite americana parece ter se tornado indiferente à democracia

É uma efeméride macabra a de hoje, 6 de janeiro. Há um ano, após ser derrotado nas urnas, o presidente Donald Trump estimulou seus auxiliares e o Partido Republicano a não ratificarem o resultado do Colégio Eleitoral no Congresso e insuflou uma turba a invadir o Capitólio para impedir a sessão do Legislativo que legitimaria a posse do democrata Joe Biden na Presidência. Mesmo para os padrões de um demagogo alucinado, Trump levou milhares de apoiadores mais longe do que se poderia imaginar e provocou a invasão do Legislativo de uma das mais sólidas democracias do mundo. Como sinal de tempos terríveis para a democracia americana, Trump está solto e tem chances de ser novamente presidente em 2024.

A ascensão de Trump marcou o ápice do avanço do extremismo de direita global sobre as instituições democráticas. Trump soube explorar as fissuras da sociedade americana com um ilusionismo cuja aceitação foi em si um sinal de decadência de um sistema longevo. Um plutocrata e empresário escroque falou em nome do povo e prometeu limpar o “pântano” de Washington. Qualquer semelhança com a demonização da “velha política” não é coincidência, assim como o despreparo, a arrogância, e a ignorância auto-satisfeita dos atores principais, nos EUA e no maior país ao sul do Rio Grande.

O sistema bipartidário americano deu vários sinais de exaustão antes, mesmo quando parecia ter se revitalizado, com a eleição de Barack Obama. Era uma ilusão de ótica. O primeiro presidente negro da história do país foi substituído por um racista barulhento, que estendeu seus preconceitos a todas as minorias. O surgimento sucessivo de candidatos independentes já era tentativa (mal-sucedida) de furar o bipartidarismo.

As transformações internas do sistema foram igualmente relevantes. A estagnação da renda e da possibilidade de ascensão social - esta, a base do “sonho americano” - empurraram os democratas para a esquerda e os republicanos ainda mais para a direita, primeiro com os fanáticos do Tea Party, que dominaram fatias importantes do partido e, depois, com o inimaginável Donald Trump.

Trump venceu as primárias republicanas ofendendo e desmoralizando todos seus concorrentes internos e saiu vencedor. O partido curvou-se ao novo líder com a sensação de servir a um messias, ainda que amalucado. O apoio republicano não se abalou nem mesmo após Trump instalar o caos na Casa Branca, tentar destruir o que os EUA construíram na arena internacional durante décadas, abraçar um nacionalismo regressivo para brigar com a China e a União Europeia e submeter seus vizinhos no Nafta.

A maioria republicana no Senado barrou duas vezes processos de impeachment contra Trump. Como indício de degradação já muito avançada, um número expressivo de parlamentares da legenda acreditou mesmo que Joe Biden roubara as eleições. Um ano antes, em preparação à tentativa fracassada de golpe, Trump já dizia, como o presidente Jair Bolsonaro disse, que as eleições seriam fraudadas.

Na hora H da investida ao Capitólio, o vice-presidente Mike Pence abandonou Trump, que ademais não contava com uma força essencial para seu putsch típico de república de bananas - as Forças Armadas. Felizmente não houve direção, organização e apoio massivo à invasão - um desejo levado longe demais, no qual o próprio Trump parecia acreditar que se realizaria.

O abismo não foi fechado. Os republicanos têm boas chances de reconquistar a maioria no Senado e, talvez, na Câmara. Governadores republicanos fazem ofensiva em larga escala para dificultar o voto dos negros, modificar os distritos eleitorais a seu favor e legislam para facilitar a contestação de resultados eleitorais. Não há dúvidas, até agora, de que Trump é o candidato favorito do partido.

Um relatório da investigação, concluída pelo procurador especial da Justiça, Robert Mueller, mostrou 10 ocasiões em que Trump obstruiu a Justiça no caso da interferência russa a seu favor nas eleições de 2016. Mais aberrante foi a votação do segundo pedido de impeachment, pela conduta de Trump no 6 de janeiro, quando apenas 7 dos 50 senadores republicanos viram algo de errado na conduta do presidente.

Se um atentado contra a democracia dessa gravidade não levou Trump às barras da Justiça e foi relevado pela grande maioria de um partido que tem chances de dominar o Legislativo, não há nada que impeça que tudo ocorra novamente. Parte relevante da elite americana parece ter se tornado indiferente à democracia.
 
Valor Econômico

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