Publicado em 27 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet
Deu em O Globo
Os dados sobre desmatamento divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) são tão contundentes quanto reveladores. Comprovam a incapacidade do governo Bolsonaro de frear a devastação em três anos de mandato. Em 2021, a Amazônia Legal perdeu 10.362 quilômetros quadrados de floresta nativa, área correspondente à metade de Sergipe.
A destruição, a maior em dez anos, é 29% superior à verificada em 2020, ano que já havia batido recorde. Ainda que dezembro tenha registrado redução significativa no desmatamento (49%), o recuo não foi suficiente para salvar o acumulado anual.
PARÁ NA DIANTEIRA – Não é apenas o número geral que preocupa. Segundo o Imazon, entre os nove estados que compõem a Amazônia Legal, apenas o Amapá não apresentou aumento na devastação. Mais uma vez, o Pará lidera o ranking das motosserras, com 4.037 quilômetros quadrados de florestas derrubadas, ou 40% do total. O Amazonas, segundo da lista, foi o que registrou maior crescimento na área devastada.
Evidentemente, esses números revelam o fracasso do governo Bolsonaro em conter a devastação, apesar dos compromissos assumidos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, no ano passado, e das cobranças cada vez mais veementes da comunidade internacional.
De nada adiantou mudar o ministro do Meio Ambiente. É verdade que Joaquim Leite não encarna o modelo tóxico de Ricardo Salles, mas a política ambiental — ou a falta dela — continua sob estrita responsabilidade de Jair Bolsonaro.
MENOS MULTAS – E Bolsonaro não parece nem um pouco preocupado com danos ao meio ambiente. Prova disso foi seu discurso durante a abertura do Circuito Agro, na segunda-feira, em que comemorou a redução no número de multas a propriedades rurais.
“Paramos de ter grandes problemas com a questão ambiental, especialmente no tocante à multa. Tem que existir? Tem. Mas conversamos e nós reduzimos em mais de 80% as multagens (sic) no campo”, disse.
A declaração demonstra que Bolsonaro encara a multa ambiental como “problema”, não como instrumento para desestimular a destruição de florestas. A multa existe porque alguém desrespeitou a lei. Não é por acaso que, ao longo de três anos, promoveu o desmonte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio), responsáveis por multar “a torto e a direito”, como já disse.
ERA DA ILEGALIDADE – O presidente tirou o poder de fiscais e incensou garimpeiros, madeireiros ilegais e grileiros. A todo momento, o governo dá a deixa: pode desmatar à vontade, que nada acontece.
O problema não é apenas a ausência de uma política ambiental consistente para reduzir o desmatamento, ou até mesmo a crônica escassez de recursos orçamentários para implementá-la. Falta mesmo é disposição para mudar o quadro.
O discurso de Bolsonaro no evento de crédito agrícola não dá esperança de que em 2022, um ano eleitoral, as motosserras se calarão.