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quarta-feira, julho 07, 2021

Empresa com apenas três funcionários propôs venda de vacinas de US$ 6 bilhões ao governo


Ex-cabo da PM pretendia vender 400 milhões de doses

Patrícia Campos Mello e Marina Dias
Folha

A Davati Medical Supply, que propôs a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca ao governo federal, um negócio que poderia chegar a US$ 6 bilhões, é uma pequena empresa com três funcionários e faturamento anual estimado em US$ 266.492, segundo uma companhia de dados corporativos.

Aberta em junho de 2020, a Davati Medical funciona no mesmo endereço em Austin, no Texas, onde estão registradas uma incorporadora imobiliária, a Impact Developers, e uma representante de produtos de construção, a Davati Building Products.

VIISIONÁRIO PIONEIRO – Herman Cardenas, CEO da Davati e das outras empresas, descreve-se em seu perfil no LinkedIn como um “visionário, pioneiro e empreendedor em série”, que “fundou e administrou múltiplas empresas em sua carreira”.

No site da Davati, que chegou a ser tirado do ar nos últimos dias, a empresa afirma que vende vacinas, anestésicos como propofol e até o antiviral remdesivir, usado em pacientes hospitalizados com Covid.

O remdesivir vendido pela Davati é manufaturado por uma farmacêutica indiana, Anzalp, que não está listada entre os laboratórios autorizados pela detentora da patente, a Gilead, para fabricá-lo.

VENDA RESTRITA – Além disso, a versão genérica do remdesivir, cuja patente não expirou, só pode ser vendida nos 127 países mais pobres do mundo, segundo regra da Organização Mundial de Comércio.

“Por causa da grande experiência de nossa equipe em produção e administração de logística no mundo todo, a Davati Medical Supply consegue fornecer produtos onde outros fornecedores não conseguem”, diz o site.

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, afirmou, em entrevista à Folha, que recebeu de Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde, pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com a pasta.

SEM NEGOCIAÇÃO – O dono da Davati, Cardenas, disse inicialmente que não houve negociação com o ministério. “Simplesmente oferecemos um orçamento, que não foi nem aceito ou reconhecido. Portanto, não houve negociações com o governo, só uma proposta, que não foi aceita”, afirmou

No entanto, e-mails obtidos pela Folha mostram que houve, sim, resposta positiva do ministério, ao contrário do que afirma Cardenas.

“Prezados, este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos. Para tanto, gostaríamos de verificar a possibilidade de agendar uma reunião hoje, às 15h., no departamento de Logística em Saúde”, diz email enviado pelo departamento de logística a Cardenas no dia 26 de fevereiro.

REPRESENTAÇÃO – Em outro e-mail, Dias diz a Cardenas que, como discutido na primeira reunião, “precisamos de uma carta do representante ou algum documento que mostre a Davati Medical como representante da AstraZeneca. Depois disso, podemos ir em frente, uma vez que essa proposta comercial parece boa diante de outras recebidas até agora”.

Em nota enviada à Folha, a AstraZeneca afirmou que “não disponibiliza a vacina por meio do mercado privado ou trabalha com qualquer intermediário no Brasil. Todos os convênios são realizados diretamente via Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e governo federal”.

Em nota oficial divulgada após a denúncia vir à tona no Brasil, a Davati afirmou ser apenas um distribuidor internacional de remédios e vacinas não para covid. “Não somos distribuidores autorizados da AstraZeneca, e nunca dissemos que éramos”, diz a nota.

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