Paulo Cappelli, Leandro Prazeres e Aguirre Talento
O Globo
Relatório do Coaf, órgão de combate à lavagem de dinheiro, enviado à CPI da Covid, revela movimentações consideradas atípicas envolvendo Francisco Maximiano, dono da farmacêutica Precisa, que assinou um contrato de R$ 1,6 bilhão sob suspeita para fornecer a vacina indiana Covaxin ao Ministério da Saúde.
O documento sigiloso, obtido pelo GLOBO, aponta que empresas controladas por Maxiamiano teriam repassado mais de meio milhão de reais para Newton Carneiro da Cunha, ex-diretor da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, e réu na Operação Lava-Jato.
PRESTAÇÃO DE “SERVIÇOS” – A defesa de Francisco Maximiano disse que manteve uma “relação privada, de prestação de serviços” com Newton Carneiro da Cunha, mas não explicou que serviços seriam esses. Procurada, a defesa de Newton Carneiro da Cunha disse que entrou em contato com o ex-diretor da Petros, mas que ele ainda não havia se manifestado sobre o assunto.
Em um relatório de 16 páginas, o Coaf mapeou negócios e pessoas ligadas a Maximiano. Dentre as operações que chamaram atenção do órgão de combate à lavagem de dinheiro, estão repasses feitos pelas empresas Precisa e 6 M Participações, de Maximiano, para Newton Carneiro da Cunha no valor total de R$ 514 mil. O documento, que analisou transações realizadas entre outubro de 2015 e dezembro de 2020, não especificou a data exata da operação considerada atípica.
Alvo da Operação Lava-Jato, Newton Carneiro da Cunha chegou a ser preso em 2018 por suspeita de fraude no fundo de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros).
FOLHAS CORRIDAS – Cunha foi denunciado e virou réu por supostamente integrar uma organização criminosa que desviou dinheiro da construção da sede da Petrobras em Salvador. Maximiano, por sua vez, já foi alvo de investigação por suspeitas de irregularidades no fundo de pensão dos Correios (Postalis).
Além de dono da Precisa, Maximiano é sócio da Global Gestão em Saúde, que, em 2015, firmou um contrato de R$ 549 milhões com a Petrobras para fornecer remédios a funcionários da estatal. A Petrobras, porém, rescindiu o acordo por entender que o programa de medicamentos continha falhas. Em janeiro deste ano, a empresa multou a Global em R$ 2,3 milhões e a proibiu a de firmar novos contratos.
Uma investigação do Ministério Público Federal de São Paulo havia detectado indícios de irregularidades na relação entre Maximiano e Newton Carneiro.
GLOBAL SAÚDE – Em depoimento em delação premiada, o ex-vereador petista Alexandre Romano afirma que Maximiano buscou Carneiro para tentar vender à Petrobras esse programa de medicamentos da Global Saúde, contrato que posteriormente foi rescindido devido às falhas detectadas pela estatal.
O relatório do Coaf também detectou que a Precisa Medicamentos fez transações financeiras no valor total de R$ 43 milhões no período entre 17 de fevereiro e 14 de junho deste ano. O volume chamou atenção do órgão porque, dos R$ 18,7 milhões recebidos no período, a maior parte (R$ 14 milhões) veio de outras empresas que também pertencem a Maximiano. Isso, de acordo com o relatório, dificulta a identificação da real origem dos recursos que entraram na empresa.
NO CASO COVAXIN – Maximiano ganhou notoriedade após uma de suas empresas, a Precisa, assinar em 25 de fevereiro deste ano um contrato de R$ 1,6 bilhão com o Ministério da Saúde como intermediadora da vacina indiana Covaxin. A aquisição do imunizante, considerado o mais caro, entrou na mira da CPI da Covid após virem à tona denúncias de suspeitas de irregularidades — e foi suspenso pelo governo Bolsonaro. O acordo previa o fornecimento de 20 milhões de doses.
Por conta da suspeita de irregularidades na aquisição da Covaxin, Maximiano chegou a ser convocado para depor na CPI da Covid. Após a Polícia Federal instaurar um inquérito para apurar o caso, o empresário, porém, conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) o direito a permanecer em silêncio na comissão parlamentar para não se autoincriminar.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Newton Carneiro da Cunha é figura carimbada na corrução. Foi presidente da empresa Sete Brasil, uma empresa de papel que se dizia fabricante de sondas de perfuração, criada para extrair recursos da Petrobras, mediante corrupção generalizada na Era do PT. É impressionante que ainda esteja livre, leve e solto, como diria Nelson Motta. (C.N.)