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quinta-feira, março 04, 2021

Transações suspeitas: Mansão de R$ 6 milhões em Brasília é o 21º imóvel negociado por Flávio em 16 anos

 

Investigado por ‘rachadinha’, Flávio é suspeito de lavagem de dinheiro

João Paulo Saconi e Pedro Capetti
O Globo

O histórico de compra e venda de imóveis do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), de volta ao centro das atenções após a compra de uma mansão em Brasília por R$ 6 milhões, inclui 21 aquisições em 16 anos. Os bens foram comprados e revendidos a partir de 2005, quando o filho do presidente Jair Bolsonaro estava em seu primeiro mandato como deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Flávio é investigado pela suposta existência de um esquema de “rachadinha” em seu antigo gabinete na Alerj — desvio de recursos dos salários de seus assessores. Ele é suspeito de realizar a lavagem de dinheiro por meio da compra e venda de imóveis.

COMPRA E VENDA – Flávio e sua mulher, a dentista Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro adquiriram, e depois venderam, ao longo de 13 anos sete apartamentos residenciais (cinco na Zona Sul do Rio, um na Zona Oeste e o último no Lago Sul, em Brasília), 13 salas comerciais na Barra da Tijuca e uma loja de shopping no mesmo bairro, na Zona Oeste do Rio.

Parte das transações envolveu dinheiro em espécie (R$ 892,6 mil, ao menos), com o objetivo, de acordo com o Ministério Público do Rio (MP-RJ), de lavar os recursos provenientes do suposto esquema de “rachadinha” no antigo gabinete do parlamentar na Alerj.

APARTAMENTOS RESIDENCIAIS – Em novembro de 2012,  Flávio e Fernanda adquiriram imóveis em duas ruas de Copacabana, na Zona Sul do Rio: a Barata Ribeiro, uma das principais vias do bairro, e a Prado Júnior. Eles declararam, em cartório, ter pago R$ 310 mil pelos dois bens.

No mesmo dia em que os cheques do casal Bolsonaro foram descontados, o americano Glenn Howard Dillard, que vendeu os apartamentos, recebeu, na mesma agência, depósitos em dinheiro em espécie que totalizaram R$ 638,4 mil. Para o MP, Flávio e Fernanda realizaram “pagamentos de valores não declarados (‘por fora’) ao americano” para chegar ao valor real dos apartamentos.

REVENDA – O apartamento da Prado Júnio, adquirido por R$ 140 mil, foi revendido em fevereiro de 2014 por R$ 550 mil, gerando um lucro de R$ 410 mil em pouco mais de um ano. Segundo levantamento feito pelo MP, a valorização do imóvel foi de 292% no período, em contraste com a valorização imobiliária média da região de Copacabana, que no mesmo período foi de 11%.

Já o da Barata Ribeiro, comprado por R$ 170 mil, foi vendido em novembro de 2013 por R$ 573 mil, gerando um lucro de R$ 403 mil, equivalente a 273%. Nesse período, os imóveis do bairro valorizaram em média 9%.

COBERTURA – Outro caso envolve um cobertura em um prédio em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, comprado em 2011,  por R$ 1,7 milhão. O imóvel teve a primeira parcela paga uma semana após Fabrício Queiroz ter depositado R$ 25 mil em espécie na conta de Fernanda Bolsonaro, responsável pela quitação. Ainda na aquisição do imóvel, o policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio admitiu ter pago uma prestação de R$ 16,5 mil.

A transação foi apontada como a justificativa do senador para os 48 depósitos de R$ 2 mil cada considerados suspeitos pelo Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf) feitos cinco anos após a compra do imóvel, em 2017.

O senador também comprou outro apartamento em 2014, na Avenida Lucio Costa, na Barra da Tijuca, e pagou R$ 2,55 milhões. Segundo o MP, o imóvel foi quitado por meio de cheques, transferências e um financiamento bancário.

SINAL – A conta de Fernanda foi utilizada para pagar um sinal de R$ 50 mil, antes da compra do apartamento, e a de Flávio para abater, posteriormente, as parcelas de um crédito imobiliário de cerca de R$ 1 milhão.

Segundo a denúncia do MP, as contas do senador e da mulher dele receberam, entre abril de 2014 e agosto de 2018, R$ 295,5 mil em dinheiro vivo, por meio de 146 depósitos “sem origem conhecida”, para pagar parcelas do imóvel. Além disso, o MP afirma que Flávio pagou R$ 30 mil em espécie por móveis que estavam dentro da unidade. Ao MP, o parlamentar afirmou que “tinha uma coisinha guardada em casa” e preferiu “fazer desse jeito” — sem transação bancária.

CHEQUES E DEPÓSITOS –  Outros dois imóveis ligados ao parlamentar ficam no mesmo prédio, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Um deles foi comprado em 2005 e vendido em 2014 por R$ 1,47 milhão, para o empresário Carlos Andre Musa de Brito Sarmentos por meio de dois cheques, depósitos bancários e financiamento.

Em 2015, segundo a denúncia do MP, outro imóvel foi adquirido a partir de permuta. As investigações mostram que, em 2017, o político pagou R$ 36 mil pela transmissão dessa residência e de uma loja no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca. No entanto, ele recebeu R$ 30 mil em depósitos fracionados em espécie e não identificados  em sua conta para poder arcar com a despesa.

SALAS COMERCIAIS – Flávio admitiu ainda, em depoimento aos promotores, que pagou R$ 86,7 mil com dinheiro em espécie para duas construtoras durante a aquisição de 12 salas comerciais na Barra da Tijuca, em 2008.

As salas acabaram revendidas pelo parlamentar 43 dias depois do registro em cartório, de 2010. Segundo reportagens do portal UOL e do jornal “Folha de S.Paulo”, os imóveis foram formalmente adquiridos por valores entre R$ 192,5 mil e R$ 342,5 mil cada.

No total declarado, as salas chegavam a R$ 2,6 milhões. Antes de revender, o senador pagou apenas 12% do financiamento. Menos de dois meses depois, no dia 29 de outubro, Flávio vendeu as salas e repassou  o restante do financiamento a uma empresa chamada MCA, obtendo um lucro R$ 318 mil.

LOJA DE CHOCOLATE –  Em 2014, Flávio comprou a franquia da Kopenhagen em sociedade com o empresário Alexandre Santini. No contrato,o valor acertado foi de R$ 800 mil. Cada sócio ficou responsável por arcar com metade, R$ 400 mil. Os promotores encontraram, na declaração do senador à Receita Federal, o pagamento de R$ 50 mil referente a empresa em 2014, o que coincide com um cheque emitido por Flávio como sinal para a compra.

Mesmo sem ser sócia da empresa, Fernanda fez uma transferência eletrônica para a C2S no valor de R$ 350 mil, no dia 2 de fevereiro de 2015, e quitou o que seria a parte de Flávio na aquisição da loja.

O  pagamento, no entanto, não foi declarado por ela à Receita Federal. O MP chegou a escrever nos autos da investigação que, no ano de 2015, “tanto Flávio Bolsonaro como sua esposa, Fernanda, omitiram em suas declarações de Imposto de Renda o restante dos pagamentos realizados à empresa C2S Comércio de Alimentos, evidenciando o propósito de esconder dos órgãos fiscalizadores o valor total da transação para a qual o casal não possuía lastro financeiro”.

DENÚNCIA – Em denúncia entregue ao Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) em novembro do ano passado, o Ministério Público do Rio verificou que a loja recebeu R$ 1,6 milhão em espécie, um indício de eventuais “recursos ilícitos inseridos artificialmente no patrimônio da empresa”. A suspeita é que os valores sejam provenientes da devolução dos salários de funcionários do parlamentar na Alerj. A investigação foi desmembrada para apurar fatos relativos ao estabelecimento e segue em curso na promotoria.

Flávio também é dono de uma sala comercial no Downtown, centro comercial na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. É no local onde funciona a clínica de ortodontia de sua mulher, Fernanda.  O imóvel pertencia aos sogros de Flávio, mas foi doado para ela em 2011, segundo o site “Metrópolis”. Por ser casado em regime de comunhão parcial de bens, passou a ser propriedade do senador.


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