Sarah Teófilo
Correio Braziliense
O ex-ministro de Segurança Pública Raul Jungmann, que atuou durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), disse que irá interpelar judicialmente o procurador da República Deltan Dallagnol por um diálogo remetido a ele e à ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia. Dallagnol ficou conhecido por sua atuação na Operação Lava-Jato, quando foi coordenador do extinto grupo.
Os diálogos entre integrantes da força-tarefa da Lava-Jato do Paraná foram obtidos no âmbito da Operação Spoofing (que prendeu hackers suspeitos de invadir celulares de autoridades em 2019). A defesa do ex-presidente Lula, por sua vez, conseguiu acesso ao material e tem feito análise pericial, com envio de relatórios parciais ao Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma reclamação que está com o ministro Ricardo Lewandowski.
MANIFESTAÇÃO – Nesta quinta-feira, dia 4, os advogados de Lula enviaram uma manifestação com mais diálogos ao STF. Estas conversas teriam ocorrido no episódio conhecido como o “prende e solta” de Lula. Na época, o desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF), estava de plantão e determinou que Lula fosse solto. O ex-juiz Sergio Moro estava de férias, e disse que Favreto não era autoridade competente para tal decisão.
A decisão do desembargador acabou sendo derrubada pelo presidente do TRF-4, Thompson Flores, que manteve a prisão afirmando que o pedido de habeas corpus de Lula era do desembargador João Pedro Gebran Neto, que determinou a prisão. As mensagens mostram uma movimentação dos procuradores da Lava-Jato no sentido de manter a prisão de Lula.
NEGATIVA – Em um momento, Dallagnol cita a ministra Cármen Lúcia e o ex-ministro de Segurança Raul Jungmann: “Carmem Lúcia ligou pra Jungman e mandou não cumprir e teria falado tb com Thompson. Cenário tá bom”. A PF é subordinada à pasta então ocupada por Jungmann. Ao Correio, o ex-ministro disse que a conversa não ocorreu.
“É mentira. Esse diálogo não aconteceu e não poderia acontecer, porque se tivesse ocorrido, a ministra e eu teríamos incorrido em crime de obstrução da Justiça. O senhor Dallagnol está imputando à então presidente do STF e a mim um crime, por isso eu vou interpelá-lo judicialmente, para que ele confirme ou desminta o diálogo”.
JUSTIÇA IMPESSOAL – De acordo com ele, naquele dia, recebeu diversas ligações, de jornalistas, da Polícia Federal falando sobre o andamento da situação, e outras autoridades, dentre elas a ministra. Segundo Jungmann, ela ligou preocupada com a situação e pedindo informações. “Eu informei a ela, e ela então me disse: ‘ministro, eu vou soltar uma nota’, que efetivamente ela fez. Esse foi o nosso diálogo”.
De fato, naquele dia, Cármen Lúcia divulgou uma nota dizendo que a Justiça é “impessoal”. “O Poder Judiciário tem ritos e recursos próprios, que devem ser respeitados. A democracia brasileira é segura e os órgãos judiciários competentes de cada região devem atuar para garantir que a resposta judicial seja oferecida com rapidez e sem quebra da hierarquia, mas com rigor absoluto no cumprimento das normas vigentes”, dizia o texto.
Jungmann ainda pontuou: “A ministra é uma juíza, jurista, e ela sabe, e ela jamais me pediria a obstruir a Justiça. E não cabia a ela atropelar um processo que está sendo levado lá no 4º Tribunal Regional Federal. Ela não tem nenhuma motivação para pedir uma coisa dessa. Ela não pediu isso, é uma mentira. O senhor Dallagnol está imputando a mim e a ela um crime de obstrução de justiça e eu vou interpelá-lo judicialmente para que ele confirme ou desminta isso”.
AUTENTICIDADE – Os procuradores que integraram a força-tarefa da Lava-Jato sempre afirmam que as mensagem são fruto de atividade criminosa e que não tiveram a sua autenticidade reconhecida.
Nesta quinta-feira, em resposta enviada ao Correio sobre as novas divulgações, reafirmaram que desconhecem “o material criminoso obtido por hackers, que têm sido editado, descontextualizado e deturpado para fazer falsas acusações sem correspondência com a realidade, por pessoas movidas por diferentes interesses que incluem a anulação de investigações e condenações”.