Gustavo Uribe
Folha
Com a escalada da pandemia do coronavírus, que atingiu nesta semana recorde de mortes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a planejar a gravação de um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão.
Na manhã desta sexta-feira, dia 5, dia seguinte ao ter afirmado que não é hora mais para frescura, o presidente convocou integrantes da equipe ministerial para uma reunião no Palácio do Planalto. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que cumpre agenda de viagem, não participou do encontro. E o vice-presidente Hamilton Mourão, mais uma vez, não foi chamado.
ESTRATÉGIAS – O objetivo da reunião, segundo assessores presidenciais, foi avaliar estratégias de reação à piora da pandemia no Brasil. O receio de integrantes do governo é de que a média diária de mortes aumente nas próximas semanas.
O encontro também serviu para discutir dados e números que possam ser utilizados pelo presidente em um discurso em rede nacional. Nesta semana, Bolsonaro já cogitou duas vezes gravar discursos à nação, mas desistiu em ambas. Nos dois episódios, o presidente foi convencido de que não era hora de fazer um embate com prefeitos e governadores, que adotaram medidas de restrição para tentar diminuir o número de internações pela doença.
EXPECTATIVA – O aumento das críticas em relação à postura do presidente, no entanto, pressionou o Palácio do Planalto a reagir com um discurso público. A expectativa é de que Bolsonaro grave um pronunciamento na tarde desta sexta-feira. E que ele seja exibido à noite em cadeia nacional.
Para evita panelaços e buzinaços, assessores palacianos têm defendido que o discurso seja exibido apenas nas redes sociais, evitando televisão e rádio. A linha defendida no Palácio do Planalto é de que o presidente destaque na gravação a decisão de comprar doses das vacinas da Pfizer e da Janssen e a aprovação de medida provisória que facilita a compra de imunizantes contra o coronavírus.
Bolsonaro foi orientado por ministro palacianos a moderar o discurso contra as gestões municipais e estaduais, mas o presidente já sinalizou, segundo assessores do governo, que reforçará posição contrária a lockdowns.
CONTRA O ISOLAMENTO – Nos últimos dias, o presidente se equilibrou entre dar o aval para a compra de um um novo lote de imunizantes e fazer discursos contra o isolamento social. Ao mesmo tempo que liberou o Ministério da Saúde para sinalizar a compra das vacinas da Pfizer e da Janssen, Bolsonaro potencializou suas retórica radical como aceno à base ideológica.
Nos últimos dias, no entanto, integrantes do bunker digital do Palácio do Planalto identificaram que diminuiu nas redes sociais a defesa à postura do presidente contrária a medidas de restrição.
A reação nas redes sociais alarmou a equipe do presidente, que considerou indispensável apresentar à sociedade uma espécie de prestação de contas sobre o que o governo federal tem feito para reagir às críticas ao presidente.