Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo
O Globo
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta iniciou um movimento para tentar afastar o seu partido, o Democratas, do presidente Jair Bolsonaro. Paralelamente, ele pretende testar o seu nome como possível candidato ao Palácio do Planalto em 2022.
O primeiro passo foi dado na terça-feira, dia 2, com a realização de uma live com o presidente nacional do DEM, ACM Neto. Na conversa, os dois adotaram um tom duro de críticas à postura do governo Bolsonaro na condução da pandemia do coronavírus.
NEGACIONISMO – ACM Neto, que no começo de fevereiro havia afirmado que não podia descartar que o DEM fosse com Bolsonaro em 2022, disse que o Brasil poderia estar hoje em outra situação se o governo tivesse deixado o “negacionismo de lado” e “assumido uma postura de respeito à ciência”.
Mandetta, por sua vez, destacou que para cuidar da pandemia é preciso “ter coração e se importar com a vida das pessoas humildes”. Também criticou a indicação de uso de cloroquina e a omissão na compra de vacinas. “Para discutir se menino veste azul e menina veste rosa, não precisa de líder. Precisa de líder quando tem um problema grande”,disse o ex-ministro.
A movimentação de Mandetta inclui também conversas com outros nomes citados como possíveis candidatos em 2022. O ex-ministro da Saúde procurou recentemente o apresentador Luciano Huck para dizer que as portas do DEM não estão fechadas para ele. No último fim de semana, ele falou com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Mandetta quer manter o diálogo para eventualmente agregar o ex-juiz a um projeto político conjunto na próxima eleição presidencial.
APOIO LOGÍSTICO – No plano acertado com o comando do DEM, ficou definido que Mandetta terá apoio logístico da legenda para viajar o país quando a pandemia arrefecer. Por enquanto, diante do quadro grave da doença, serão realizados eventos temáticos on-line. Mandetta não pretende se apresentar como pré-candidato neste primeiro momento
A interlocutores, o ex-ministro tem afirmado que o partido precisa encontrar o seu caminho para tomar uma decisão sobre o seu posicionamento na eleição presidencial de 2022. Mandetta avalia que o partido deve buscar uma plataforma com bandeiras liberais e de defesa da eficiência do Estado. Ao mesmo tempo, precisa se afastar das pautas de costumes defendidas pelo bolsonarismo. Nas conversas internas, o ex-ministro tem dito que se optasse pela saída do DEM, o partido cairia nos braços de Bolsonaro.
VISIBILIDADE – Entre líderes da sigla, o plano é dar visibilidade a Mandetta, já que ele é considerado um ativo e um quadro influente para uma eventual candidatura ao Planalto em 2022. Embora ele não aparece nas pesquisas como um dos favoritos, o ex-ministro figura bem nas pesquisas qualitativas e com uma imagem de credibilidade, principalmente no tema da pandemia, que tende a pautar o debate da próxima eleição.
O presidente do DEM, ACM Neto, faz elogios a Mandetta, mas nega que a candidatura dele esteja em pauta no momento. “Mandetta é, sem dúvida, um quadro importante do DEM. Vai ter influência na construção do projeto futuro do partido. Nesse momento, não estamos tratando de eleição. Mas quando o assunto entrar em pauta, Mandetta vai ter um peso importante”, afirmou Neto.
“Ele se tornou uma referência pelo trabalho que fez (no Ministério da Saúde). O que ele pretende é dar uma contribuição de alguém que conhece o problema da pandemia e quer ajudar. Mas ele não vai explorar politicamente isso. Não passa na cabeça de ninguém tirar proveito político de pandemia”, afirma.
PAZES – Mandetta e ACM Neto fizeram as pazes em um encontro na semana passada, em Brasília, na casa do ex-deputado Pauderney Avelino. O ex-ministro havia rebatido a fala do presidente do DEM de que o partido poderia estar com Bolsonaro em 2022 e chegou a ameaçar trocar de legenda. Na ocasião, disse que a “base do partido virou uma geleia e daqui a pouco até Lula vai aparecer como cotado para receber o apoio” da sigla.
O ex-ministro da Saúde tem tentado ainda evitar que ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia concretize o seu plano de deixar a legenda. Maia se sentiu traído pela postura de ACM Neto de liberar a bancada na eleição para a sua sucessão, o que facilitou o caminho para a vitória de Artur Lira (PP-AL).