Pedro do Coutto
No discurso pronunciado na Presidência da Câmara, no início da noite de quarta-feira, dia 24, o deputado Arthur Lira deixou no ar, pelas suas palavras, a intervenção do Legislativo no Executivo em consequência do desastre do governo no combate à pandemia que já atingiu mais de 300 mil mortes. De terça para quarta-feira, os jornais desta quinta revelam, a contaminação foi acrescida de 90 mil pessoas. Uma calamidade.
O discurso de Arthur Lira preocupou fortemente o presidente Jair Bolsonaro que foi ao seu encontro nesta quinta-feira com o objetivo de reduzir o impacto político causado. No encontro, Arthur Lira mostrou-se cordial, Bolsonaro também. Mas as palavras do presidente da Câmara no início da noite desta quarta-feira espalharam-se pelo país.
AÇÕES DA SAÚDE – Afinal de contas, Lira, e também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmavam ser favoráveis às ações da Saúde no combate à velocidade do coronavírus, participação esta destacada pelo próprio presidente da República quando formou um comitê entre os poderes Executivo e Legislativo para encontrar um caminho de combate urgentíssimo à contaminação do vírus.
Este é um aspecto da questão. A cordialidade no dia seguinte não apaga, nem poderia apagar, o peso das palavras de crítica, sobretudo porque Artur Lira não recuou de sua ideia. Nem poderia porque em sua fala na Câmara admitiu consequências graves ao governo, como a instalação de uma CPI, insinuando a abertura de um processo de impeachment.
O presidente da Câmara ressaltou a necessidade de uma reavaliação dos resultados do setor de Saúde para o combate à pandemia e frear os casos de contaminação e de mortes, riscos que se refletem na imagem pública do governo e também na imagem dos deputados e senadores.
ARAÚJO – Arthur Lira atacou fortemente a atuação do ministro Ernesto Araújo e falou, segundo a reportagem de Daniele Brantt e Julia Chaib, Folha de São Paulo. O chanceler Ernesto Araújo, aliás, está sendo atacado por todos os setores do governo e da opinião pública. A meu ver, Bolsonaro não terá outra alternativa a não ser exonerá-lo do cargo.
Mas Arthur Lira foi além das acusações de inação que caracterizam o Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto e acentuou que as consequências, entendendo-se ao presidente da República, poderiam ser fatais.
Fatais pois podem conduzir à queda do presidente e à mudança radical da atuação do Executivo através do Ministério da Saúde ocupado por Marcelo Queiroga que não parece possuir o entusiasmo pelo combate direto às causas da contaminação em alta escala e em decorrência do número de mortes.
COMBATE À PANDEMIA – Reportagem do O Globo, de Julia Lindner e Renata Mariz, focaliza as primeiras ações anunciadas pelo ministro Marcelo Queiroga. Sua posição está longe de ser uma atitude firme e frontal no combate à pandemia. Ele fez um pronunciamento dizendo que a sua função como médico é salvar vidas.
Entretanto, digo eu, salvar vidas conduz à ideia de recuperação de doentes. O caso da pandemia não é de recuperação e sim de vacinar, colocar máscaras, promover distanciamento e isolamentos, sem o que não se enfrentará a contaminação.
Trata-se de evitar riscos de vida e não a de recuperar doenças. Não me parece que Marcelo Queiroga seja a personalidade adequada para reter a contaminação e agir com prevenção. É indispensável que o ministro da Saúde esteja disposto a enfrentar e vencer a batalha. Tenho a impressão, pelo que ele próprio falou, que não permanecerá o tempo necessário no cargo para vencer o desafio.
MANDETTA – Na noite de quarta-feira, na GloboNews, programa Em Pauta, o ex-ministro Henrique Mandetta reportou-se a seus diálogos com Jair Bolsonaro no tempo em que o presidente da República demonstrava não acreditar na profundidade da pandemia e de seus efeitos trágicos.
Teria sido importante que os jornais de ontem, O Globo, a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo tivessem transformado em texto o que Mandetta disse na GloboNews. Estavam no programa Marcelo Cosme, Eliane Cantanhêde, Jorge Pontual, Mônica Waldvogel e Gerson Camarotti. Deixo a ideia para as editorias, pois é indispensável que os editores acompanhem à noite, principalmente, os programas da televisão.