Carlos Newton
A gente sempre avisa aqui na Tribuna da Internet que sonhar ainda não é proibido nem paga imposto. O presidente da República certamente estava sonhando quando disse que matou a Lava Jato. É claro que ele sonha com isso de manhã, de tarde e de noite, para evitar o pesadelo do desfecho de inquéritos e ações a que respondem dois de seus filhos e que podem envolvê-lo também e à primeira-dama, não somente pelos R$ 89 mil recebidos e até agora não explicados por Michelle Bolsonaro, mas também pelo conjunto da obra rachadíssima do marido em seus 28 anos de Câmara.
Há duas semanas a Veja publicou que os advogados de Bolsonaro teriam encontrado uma forma de justificar os R$ 89 mil reais depositados na conta da primeira-dama, mas até agora nada…
HÁ MUITOS SONHADORES – Bolsonaro não é único a sonhar com a morte da Lava Jato. É apenas mais um que entra na longuíssima fila de parlamentares, governantes, empresários, gestores públicos e até magistrados.
Todos lutam desesperadamente contra a força-tarefa do Ministério Público, da Polícia Federal e da Receita. Já conseguiram até sufocar a Lava Jato, com o golpe da prisão somente após quarta instância, que transformou o Brasil no único país do mundo a praticar essa teratologia, como dizem os juristas, mas a expressão mais certa seria escatologia, pois fede à distância.
A união tácita dos três apodrecidos Poderes – armada por Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que junto com suas mulheres são alvos de investigação da Receita e do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) – tem como principal objetivo liquidar a Lava Jato. Por isso, foi entusiasticamente aceita por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, com imediata adesão de Bolsonaro.
HÁ CONTROVÉRSIAS – Os dirigentes dos três Poderes, ao combinar esse pacto pela impunidade mútua e alheia, não esperavam tamanha resistência.
Pelo contrário, Toffoli e Gilmar até julgaram que tinham liquidado o Coaf, mas o ministro Alexandre de Moraes percebeu a manobra imunda e convocou o plenário do Supremo a restabelecer os poderes do importantíssimo órgão de controle financeiro, que é a principal arma do Estado para combater corrupção e lavagem de dinheiro.
Além da volta do Coaf, que esta batendo recordes de produtividade, ganha força na Câmara o movimento para aprovar o retorno da prisão após segunda instância e restabelecer a dignidade do país no campo do Direito.
Essa realidade demonstra que a Lava Jato não morreu nem morrerá nas mãos desses pseudos representantes do povo. A cada semana surgem novas operações das forças-tarefas, mostrando que a Justiça há de prevalecer neste país.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Antes de Bolsonaro ser eleito, foi considerado pelo editor-chefe da Tribuna como “um completo idiota”. Esses quase dois anos de gestão comprovaram que tal definição é a coisa mais certa de todas as coisas, como diria Caetano Veloso. E a gente acrescenta que Bolsonaro é como Roberto Carlos e também exibe uma “força estranha”. A diferença é que a utiliza para o mal. Por isso sonha em matar a Lava Jato. (C.N.)