Carlos Newton
Já se fizeram as mais artísticas interpretações do artigo do general Rêgo Barros, publicado propositadamente no “Correio Braziliense”, o único jornal do país que é lido em Brasília de manhã cedo, porque os demais veículos da mídia só começam a chegar à capital nos primeiros voos, no início da manhã. O resultado é que a mensagem do ex-porta-voz da Presidência explodiu como uma bomba.
A principal tradução simultânea do texto é a comprovação de que não se pode contar com a suposta “competência” da ala militar que coabita o Palácio do Planalto.
ORDEM E PROGRESSO? – Quem votou em Bolsonaro para se livrar de Lula da Silva e José Dirceu, que caminhavam para instalar no Brasil a primeira República Sindicalista do mundo, certamente julgava que os militares, especialmente os generais de quatro estrelas Hamilton Mourão e Augusto Heleno, iriam auxiliar o presidente da República a governar o país em clima de ordem e progresso, digamos assim.
Mas não aconteceu nada disso. Sob as vistas e os narizes empinados de um grupo de oficiais-generais, o capitão Bolsonaro implantou a República Terraplanista, na qual pontifica a figura caricata do filósofo e astrólogo Olavo de Carvalho, um personagem que realmente não pode ser levado a sério em nenhum país minimamente civilizado.
“CONFORTÁVEL MUDEZ” – Passados quase dois anos, a realidade que sobressai à vista de todos está contida no artigo de Rêgo Barros. O general deixou claro que não se pode confiar na ala militar do Planalto, que se mantém em “confortável mudez”, deixando Bolsonaro fazer o que bem entende, apesar dos frequentes recados do Alto Comando, que são vazados a Bolsonaro e geralmente ele finge que nem escuta, mas adivinhem quem mandou que entrasse naquela fase do “paz e amor”? Aliás, foi a última tentativa de as Forças Armadas controlarem Bolsonaro.
Antes disso, houve a indicação do general Braga Netto para a Casa Civil. Os comandantes militares achavam que, com a experiência na intervenção no governo de Luiz Fernando Pezão, na área da segurança do Rio de Janeiro, em 2016, o general iria dar conta do recado. Mas foi mais um erro.
FAMA IMERECIDA – Na ocasião, Braga Netto ganhou uma imerecida fama de competência. Na verdade, não houve redução nas estatísticas da criminalidade. Ao contrário. Ocorreu aumento significativo do número de assassinatos e de outros crimes, chegando ao recorde de 134 policiais militares mortos pela bandidagem em 2017.
Na verdade, Braga Netto é tão incompetente que nem chegou a gastar os recursos que o governo Michel Temer ofereceu ao Rio e ia devolver cerca de R$ 400 milhões.
Houve protestos candentes e somente na reta final o interventor resolveu comprar mais equipamentos. Sua gestão no Rio foi um fracasso, que agora ele repete na Casa Civil.