por Fernando Duarte
Quando o Brasil aponta para o passado | Foto: Alan Santos/PR
Um golpe chegou a ser defendido pelo presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus ministros mais próximos. A reportagem da revista Piauí escancara algo sobre o que há algum tempo a imprensa vive a alertar: Bolsonaro não tem apreço pela democracia. No texto, há a descrição detalhada do dia 22 de maio de 2020, quando o presidente se viu acuado por uma decisão protocolar de Celso de Mello de encaminhar um pedido de apreensão dos celulares dele e do filho Carlos para a Procuradoria-Geral da República. Caso você não tenha reagido com ojeriza a esse relato, é preciso revisitar seu próprio conceito de democracia.
Esse desprezo do presidente pelas instituições que regem a democracia não é novo. Foram vários os momentos em que Bolsonaro se comportou aquém da liturgia esperada de um presidente da República. Porém, por mais que haja uma ferrenha oposição, é ponto pacífico que muitos preferiram dar o benefício da dúvida ao invés de atacá-lo com a mesma intensidade com que ele põe em cheque a nossa jovem democracia. No entanto, já passou da hora dos próprios aliados cobrarem dele um pouco mais de respeito pelo cargo que ocupa. Pena que isso não deve acontecer. Esses seguidores não conseguem enxergá-lo como uma ameaça concreta.
É natural que haja tensões entre os poderes. É importante até que exista esse distanciamento, desde que o interesse público se sobreponha a esses episódios de crise. O problema é que Bolsonaro age para que as crises se tornem intermináveis. Essa versão “paz e amor” é mais um engodo, já que o cerco se fechou frente às ações - controversas, admito - do Supremo Tribunal Federal (STF) que atingem o núcleo produtor de desinformação e os financiadores dessa política estatizada. Então, a publicidade do encontro do dia 22 de maio é relevante para entendermos que o próprio presidente não descarta “intervir”, para usar o verbo escolhido por ele.
Mais preocupante do que o próprio Bolsonaro se comportar dessa forma é saber que o núcleo militar, propagado como freio para eventuais descontroles do presidente, pensa de maneira similar. Os generais Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, que lá estavam naquele fatídico dia, com direito à publicidade da reunião de um mês antes, apoiaram e não fizeram qualquer ressalva. Até endossaram o desejo reprimido de um golpe.
Por mais que tantos atores tentem negar, há um intermitente cheiro de golpismo no ar. Será que teremos maturidade o suficiente como nação para evitar que ele se consolide? Aí só o tempo e o discernimento poderão responder.
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